Wednesday, May 8, 2013

A EUROPA ESTÁ PERIGOSA, MUITO PERIGOSA MESMO




Eduardo Oliveira Silva – Jornai i, opinião

Em 7, 8 ou 9 de Maio, consoante os países aliados e vencedores, assinala-se o dia da rendição da Alemanha que pôs fim à Segunda Guerra Mundial, data que passa lamentavelmente entre nós sem qualquer evocação.

Foi portanto por estes dias que aconteceu o fim formal da guerra mais trágica e mortífera de todas as guerras. Importa também lembrar, neste ano de 2013, que há cem anos a Europa vivia as convulsões que haveriam de levar à Grande Guerra, entre 1914 e 1918, na qual Portugal participou tardiamente.

Em ambos os casos o país na génese dos conflitos foi o mesmo. Houve muitas causas e ainda mais explicações para tudo o que aconteceu. Há culpas de todos os protagonistas, mas a responsabilidade principal cabe à Alemanha, considerada num sentido cultural, pois formalmente até as fronteiras eram diferentes.

Por mais que se pretenda usar de tolerância não se deve apagar o que aconteceu, sobretudo no segundo grande conflito, com os horrores dos campos de concentração e do Holocausto. Uma coisa é procurar perdoar, outra bem diferente é esquecer.

Hoje é outra vez a Alemanha, viçosa e já reunificada, que procura a hegemonia, agora sob a forma económica e financeira, recuperando por aí o que perdeu pelas armas.

Reconstruída com ajuda dos aliados e dos neutrais, beneficiando de perdões de dívida, evitando até saldar contas de guerra, a Alemanha tem dentro de si quem não aprenda nem se emende e até olhe com nostalgia para territórios que chegaram a integrar o Reich. Churchill terá dito citando um general romano que os germanos ou estavam prostrados aos nossos pés ou nos estavam a apertar o pescoço. Quem pode negar?

Há não muito tempo Helmut Schmidt disse (cita-se de cor) que se estivesse no lugar de Merkel o que mais o preocuparia seria a hostilidade que a Alemanha está a gerar por toda a Europa. Tem muita razão o antigo chanceler. Há entre nós quem não pense assim. Jornalistas, economistas, sociólogos e políticos respeitáveis consideram que a Alemanha de hoje não encerra os perigos do passado e louvam a capacidade de organização e trabalho do país e do seu povo. Talvez. Mas há outros povos organizados e trabalhadores. Os suecos e os dinamarqueses são exemplo disso, mas não os vemos a procurar impor as suas condições a todo um continente.

É evidente que a dimensão económica, geográfica e demográfica da Alemanha a torna um factor essencial no eixo europeu, mas uma coisa é isso e outra diferente é tentar ditar as regras que regem os outros estados, nomeadamente os da união e mais especialmente os do euro.

Para que a paz e a estabilidade perdurem e haja progresso é preciso realinhar os equilíbrios. Os políticos de hoje não têm a dimensão histórica e política da geração de De Gaulle e de Churchill e também não estão à altura das de Mitterrand, Delors, Soares, González, Schmidt, Andreotti, Kohl e, noutro momento, Cavaco e Thatcher.

O que aflige quem tenha um mínimo de memória histórico é exactamente essa falta de dimensão, que permite constatar que realmente a Europa está hoje perigosa – muito perigosa mesmo.

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