Monday, May 6, 2013

ARMADA COLONIAL A CAMINHO DAS MALVINAS




Martinho Júnior, Luanda

1 – Na sequência do “Referendo” realizado recentemente nas Malvinas, um “Referendo” que recolheu a “opção” dos colonos-habitantes do arquipélago sufragada a favor do Reino Unido numa escala acima dos 90%, está-se a proceder ao render da guarda naval britânica na área.

Com efeito, dois navios britânicos vão a caminho das Malvinas: um navio de reabastecimento da classe Rover e o destroyer da classe D-23, o HMS Argyll.

Os navios aparelharam de Davenporth no princípio do ano e estão a fazer a aproximação às Malvinas bordejando a costa ocidental atlântica africana, de Marrocos à África do Sul!

2 – As nações latino americanas não permitem por norma que a armada britânica faça rota de e para as Malvinas bordejando as costas orientais da América: nem a Venezuela, nem o Brasil e muito menos a Argentina, na sequência duma tomada de posição conjunta em relação à colonização das ilhas que, com a presença naval britânica que se arrasta desde a intervenção militar promovida por Margareth Thatcher, tem vindo a contribuir para que as esquadras dos países da NATO penetrem na profundidade do Atlântico Sul até à Antárctida.

Essa posição conjunta considera uma afronta a presença britânica e o “Referendo” uma farsa (limitou-se a recolher as opções dos colonos que lá foram colocados pelo império britânico ao longo de várias gerações de forma a legitimar a ocupação contrariando toda a América Latina).

3 – A armada colonial britânica que segue em direcção às Malvinas poderia discretamente fazer a rota utilizando as ilhas do império no eixo do Atlântico: Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha, que aliás foram utilizadas como centros logísticos “catapultas” na guerra das Malvinas…

As ilhas contudo, se possuem um inestimável valor geoestratégico para o império, não possuem relevância geopolítica para os interesses conjugados dos ocidentais e assim a armada, correspondendo a esses últimos interesses, tem vindo a optar pela rota da costa ocidental africana, a fim de multiplicar as “missões”, as influências e as conveniências junto dos desamparados governos africanos.

As “ementas” do percurso encaixam perfeitamente quer nos objectivos do AFRICOM, quer no esforço de neocolonização da França nos espaços CEDEAO e no imenso Sahel a que eu tenho vindo a referir: combate à migração ilegal na direcção da Europa, combate ao tráfico de drogas, combate à pirataria e por fim, visitas de cortesia que levam a bandeira naval britânica aos portos africanos, entre eles o de Luanda e o da cidade do Cabo!

4 – À medida que fez a sua progressão de norte para sul assim a armada colonial britânica que vai a caminho das Malvinas, foi-se entendendo com outras armadas ocidentais disponíveis do pródigo quadro da NATO e os “parceiros” africanos:

- Combate à migração ilegal em direcção à Europa conjuntamente com Marrocos e a Mauritânia;

- Combate ao tráfico de droga ao largo de Cabo Verde envolvendo forças de onze países;

- Combate à pirataria no Golfo da Guiné com apoios no Gana, na Costa do Marfim, na Nigéria e em Angola, tendo como referências os arquipélagos da Guiné Equatorial e de São Tomé e Príncipe;

- Representação naval nos países da corrente fria de Benguela – Angola, Namíbia e África do Sul!

5 – A armada colonial britânica escalou Luanda entre os dias 29 de Abril e 1 de Maio, tendo recebido visitas das entidades oficiais angolanas e “trocado experiências” (?) com a Marinha de Guerra de Angola…

Na altura alguns eventos no quadro dos relacionamentos bilaterais foram ocorrendo, aproveitando as políticas de capitalismo neo liberal em curso, ou seja de portas abertas nos países-alvo (Angola é um dos principais em África), de forma a criar mais incentivos ainda a uma globalização que dá azo a neo colonialismo, ao campo de manobra de mercenários e às mais variadas ingerências.

6 – O alvoroço da publicidade que mereceram essas missões, com as ementas forjadas ao bom estilo do AFRICOM, visa veladamente entre outras coisas “defender” os países africanos de eventuais pressões latino americanas e, com isso, contribuir para que as posições africanas, pelo menos em relação ao caso colonial das Malvinas, não sejam comuns às da América Latina!

Se os espaços CEDEAO e do Sahel correspondem à coutada “FrançAfrique”, na profundidade do Atlântico todos os pretextos são úteis para o exercício da colonização nos mares, uma fórmula “moderna” de branquear a verdadeira missão da esquadra colonial de Sua Majestade Britânica nas Malvinas… só os africanos não só parece não o quererem ver, como também, nas opções seguidas com esse tipo de “parcerias”, se colocam docilmente numa posição submissa, subalterna, mercenária e dependente.

O hemisfério sul fica assim dividido:

- Dum lado (América Latina) aqueles que apesar das contrariedades se abrem à luta contra o capitalismo neoliberal na América Latina, perseguindo objectivos de integração, independência e soberania (margem oeste do Atlântico);

- Do outro (África) aqueles que se abrem às políticas do capitalismo neoliberal e vão-se vergando ao domínio avassalador duma hegemonia que os conduz aos expedientes neo coloniais (margem leste do Atlântico).

7 – É evidente também que com estas manobras as frotas ocidentais, que nunca levaram por exemplo em conta a necessidade dos países africanos defenderem as suas costas da pirataria das frotas pesqueiras de longo curso, entre elas as próprias frotas pesqueiras ocidentais (com a espanhola à cabeça), pretendem “marcar” uma zona nevrálgica para a exploração petrolífera e de gás, que tem, tal como nas Malvinas, no Golfo da Guiné o seu fulcro geoestratégico.

As linhas de fundo da geoestratégia nos mares confluem, comprometem-se e complementam-se com as linhas de fundo da geoestratégia em terra, no interior profundo de África.

O verdadeiro motivo da algazarra de tantos “combates” e “representações” são as riquezas africanas, no mar e em terra, em especial as riquezas energéticas, os seus acessos e as rotas dos petroleiros que levam o bruto para os maiores centros de consumo!

Em 1982, quando se travou a guerra das Malvinas, Margaret Thatcher, é isso que os africanos “esqueceram”, era uma fervorosa aliada de Augusto Pinochet e do regime racista sul africano, isto é, uma feroz opositora ao movimento de libertação em África!

Se hoje a armada britânica se move em direcção às Malvinas, necessário se torna lembrá-lo àqueles que teimam em apagar a história e os reflexos dela nos tempos que correm!

Margareth Thatcher, promotora da guerra das Malvinas à sombra da qual se move ainda hoje a armada colonial britânica no Atlântico Sul, para os países do Sul não foi assim tanto uma “dama de ferro”, foi-o isso sim uma incontornável “dama do petróleo” e um dos primeiros grandes estímulos às políticas neoliberais de hoje!


A consultar:
- THATCHER MORREU COMO A MÃE DO 1% E A MADRASTA DOS 99% - http://paginaglobal.blogspot.com/2013/04/thatcher-morreu-como-mae-do-1-e.html
- Guerra das Malvinas, o desfecho da ditadura mais sangrenta da América Latina – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/guerra-das-malvinas-o-desfecho-da.html
- HMS Argyll begins her West Africa and South Atlantic tour – http://en.mercopress.com/2013/02/19/hms-argyll-begins-her-west-africa-and-south-atlantic-tour
- Saharan Express 2013 Concludes in Senegal – http://www.navy.mil/submit/display.asp?story_id=72743

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