Monday, May 20, 2013

EURO-VISÕES




Eric Maurice – Presseurop, editorial

Por estes dias, há muita gente com os olhos postos em Malmö, onde se realiza o concurso da Eurovisão. No entanto, bem poderiam prestar atenção ao que se passa em Londres, Paris e Berlim, onde se desenvolvem diversas visões europeias que um dia terão de ser discutidas.

A 14 de maio, o partido conservador britânico apresentou um projeto de lei de referendo a realizar, o mais tardar, a 31 de dezembro de 2017, para responder à questão: “Quer que o Reino Unido continue a ser membro da União Europeia?”. Os termos do debate foram definidospelo primeiro-ministro David Cameron, em janeiro, quando exigiu “um novo acordo” entre o seu país e uma UE mais flexível. Ao fazê-lo, expôs-se involuntariamente à pressão dos eurocéticos do seu partido e do UKIP, e a inscrição do referendo na lei torna difícil qualquer recuo. Mas também colocou os seus parceiros perante as suas responsabilidades.

No continente, François Hollande apresentou, finalmente as grandes linhas do seu pensamento sobre a União. A 16 de maio, deu dois anos à União para definir o conteúdo da união política. “É um assunto de urgência europeia”, afirmou o Presidente francês. O facto de esses dois anos coincidirem com o fim do mandato de David Cameron não é um mero acaso.

O Presidente francês propôs, igualmente, um governo económico para a zona euro, dotado de um presidente e com reuniões mensais, bem como “uma nova etapa de integração com uma capacidade orçamental que seria atribuída à zona euro e com a possibilidade de, progressivamente, contrair empréstimos”.

Resta saber o que propõe a Alemanha. Ora, até 23 de setembro, a Europa vai ter de esperar para saber quem será o vencedor das eleições legislativas. Angela Merkel parece solidamente instalada na chancelaria, mas a aliança vermelha-verde ainda não disse a sua última palavra.

Talvez por isso, a 14 de maio, o líder dos sociais-democratas, Peer Steinbrück, expôs a sua visão sobre a Europa. Do seu programa constam o reforço do papel do Parlamento Europeu, que participaria nos Conselhos Europeus, e a transformação da Comissão em governo, eventualmente eleito e responsável perante o Parlamento.

E Angela Merkel? Há um ano, a chanceler exprimiu o seu desejo de ver a Comissão desempenhar um papel de governo e ao Conselho de Chefes de Estado e de Governo caberia uma função de segunda câmara de um Parlamento com poderes reforçados. Mais recentemente, o seu ministro das Finanças Wolfgang Schäuble repetiu que a união bancária, considerada uma etapa essencial da estabilização da zona euro, só se fará com um novo tratado europeu. Estamos, por isso, à espera de saber o que propõe atualmente a chanceler.

O discurso de François Hollande recebeu toda a atenção de Berlim, onde desde há um ano se esperava um gesto de Paris, muitas vezes considerado mudo. Mas não é de esperar nenhuma iniciativa franco-alemã antes do final do ano, altura em que ficaremos a saber se Hollande e Merkel estão condenados a trabalhar em conjunto ainda durante mais uns anos ou se é possível um eixo social-democrata franco-alemão.

O mais difícil virá a seguir, quando for necessário confrontar esta eventual visão comum com a dos britânicos. E também quando for preciso confrontá-la com a realidade das opiniões europeias. Sob esse ponto de vista, é uma outra iniciativa franco-alemã que pode – e deve – impulsionar uma visão concreta do futuro da Europa: a que deve ser apresentada até à próxima cimeira europeia, para lutar contra o desemprego jovem. Voltaremos a falar sobre este assunto.

* Eric Maurice é um jornalista francês, nascido em 1972, chefe de redacção dopresseurop.eu. Após completar os cursos de História e de Jornalismo, entrou para o Courrier Internacional em 2000, onde foi responsável das páginas sobre França, cobriu a actualidade norte-americana e dirigiu a secção de Europa Ocidental.

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