Friday, May 17, 2013

Lúcio: "Oficializar o crioulo é tirá-lo da sua longa e injusta clandestinidade constitucional"





O Ministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, afirma que agora a acção e o tempo verbal é oficializar o crioulo de Cabo Verde e que o futuro da escrita, a padronização e o ensino dependem desta oficialização. O Ministro defendeu também que uma homenagem e um reconhecimento profundo deviam ser rendidos ao crioulo na primeira carta magna do país independente.

Mário Lúcio falou na abertura do Fórum Parlamentar “Por um bilinguismo social efectivo: a oficialização da Língua Cabo-verdiana”, que arrancou esta sexta-feira, 17, na Praia. "O desconforto é maior porque estamos a falar do nosso primeiro património. Quando ainda não éramos um povo, os povos já conheciam a nossa língua, quando ainda não tínhamos pátria, éramos conterrâneos pela língua, quando ainda não tínhamos bandeira éramos nação pela língua, quando ainda não tínhamos hino éramos cantados pela língua, tivemos língua antes de termos constituição”, diz o Ministro completando que, por essa lógica, uma homenagem e um “reconhecimento profundo” deviam ser rendidos ao crioulo na primeira carta magna do país independente.

Mário Lúcio reconhece que tudo tem o seu tempo e que a própria língua como língua, como verbo, também tem o seu tempo. Mas deseja que o tempo da língua crioula de Cabo Verde, que clama por ser reconhecida como património mor da cultura e riqueza destas ilhas, seja este. “Oficializar o crioulo de Cabo Verde é sim tirá-lo da sua longa e injusta clandestinidade constitucional, é plasmá-lo património nacional na mais alta lei da nação cabo-verdiana”, arremata Mário Lúcio.

“A oficialização institui a inclusão social económica e cultural “sobretudo daqueles cabo-verdianos que só falam o crioulo e são tratados como reservas nos serviços públicos, vistos com piedade nos documentos públicos e às vezes com intelectuais exóticos na arte e na arte de comunicação”, diz o titular da pasta da Cultura, para quem a oficialização faz uma justa homenagem e uma justiça histórica aos combatentes pela cultura e responsabiliza os detractores.

“O caminho é esse e é necessário que falemos numa só língua sobre essa matéria, que cantemos a uma só voz para que o povo perceba que a língua que ele sempre falou, a língua que expressou as suas mágoas, saudades e euforias, a língua na qual pensa e sonha é também mundialmente língua entre as línguas e está no pódio junto com o nome da República com o Escudo o Hino e a Bandeira Nacional”, diz Mário Lúcio.

“E no plano global, reconhecer constitucionalmente a língua crioula de Cabo Verde é dar um sinal de respeito e de solidariedade para com as línguas crioulas do Mundo”, afirma o governante, completando que se pode estar a começar com este fórum um processo novo, harmónico, altivo e exemplar para as grandes questões nacionais.

Por sua vez, o Presidente da Assembleia Nacional, Basílio Mosso Ramos entende que a Língua Cabo-verdiana é a trave mestre da cabo-verdianidade e o alicerce da Nação e do Estado. Mosso Ramos diz ainda que o crioulo é o traço maior da identidade cabo-verdiana e um símbolo da unidade nacional e que por isso deve ser prestigiada e acarinhada, uma vez que aspira também uma maior dignificação, com toda legitimidade, através de outro estatuto e maior protagonismo.

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