Saturday, May 18, 2013

ZONA EURO TERIA DÍVIDA DE 90% DO PIB E APENAS 2,36% SERIA PORTUGUESA




Filipe Paiva Cardoso – Jornal i

Impasse na crise europeia leva tema da união orçamental a ganhar urgência. Dívida da moeda única atinge os 8,6 biliões de euros

Entre 157% e 10% do PIB. Estes são os valores máximo e mínimo das dívidas que se encontram nos 17 países da moeda única. O primeiro caso diz respeito à Grécia, o segundo à Estónia, e no meio estão outras 15 realidades bem distintas.

A mutualização das dívidas dos países da moeda única, que chegaria através de uma união orçamental entre os 17, tem ganho relevância à medida que a crise persiste. Ontem foi Paul de Grauwe, economista belga e conselheiro daComissão Europeia, a defender que sem uma consolidação das dívidas do euro, a moeda única colapsará:“Desde os anos 70 que os economistas avisam que uma união monetária não é sustentável sem uma união orçamental. Mas os líderes da zona euro não tiveram em conta este conselho – e as consequências são cada vez mais visíveis.” Para ultrapassar este erro, diz, “falta mutualizar a dívida dos Estados-membros”. A posição foi defendida num artigo de opinião publicado em Portugal pelo “Jornal de Negócios”.

Segundo os dados do Eurostat, de final de Abril, se os 17 países do euro fossem analisados como um único país, teríamos um Estado com um produto interno bruto de 9,5 biliões de euros – ou 59 vezes o tamanho da economia portuguesa – e uma dívida de 8,6 biliões – ou 44 vezes o nível de endividamento da administração pública portuguesa. Opeso dePortugal neste PIBda zona euro seria de 1,7%, ao passo que no nível de endividamento seria de 2,3%, diferença explicada pelo facto de hoje Lisboa apresentar uma dívida superior a 100% do PIB. Já a taxa de desemprego deste Estado fictício estaria nos 12,1%.

Portugal sairia assim beneficiado com esta mutualização, já que poderia apresentar-se aos mercados com rácios bem mais agradáveis que os seus, o que tornaria mais barato o acesso a crédito. Mas se isto é válido para Portugal, Grécia, Irlanda ou Itália, do outro lado desta moeda única está a factura que outros países pagariam:a Estónia, por exemplo, com uma dívida de 10,1% do PIB, veria os custos de financiamento subirem por apresentar-se com rácios acima daqueles que detém, sendo o mesmo verdade para a maioria dos países, daí a resistência à ideia.Eslovénia (dívida de 54,1%), Eslováquia (52,1%), Finlândia (53%), Áustria (73,4%), Holanda (71,2%), Malta (72,1%), Luxemburgo (20,8%), Alemanha (81,9%) ou Chipre (85,8%) compõem o leque de países com dívidas inferiores àquela que o euro apresenta.

De Grauwe admite este problema, mas relembra os ganhos da mutualização. “Protegeria as economias mais fracas dos movimentos destrutivos e de pânico dos mercados financeiros que, em teoria, podem atingir qualquer estado.” O belga diz também que há formas de contornar as dúvidas:“Em primeiro lugar, parte da dívida que pode ser mutualizada deve ser limitada, deixando cada país responsável por uma parte significativa da sua dívida.” Depois, também se poderia criar um “mecanismo de transferência entre os estados” que garantisse algum tipo de compensação e, por fim, colocar “uma autoridade” a monitorizar os progressos de governo no sentido de ter uma dívida sustentável.

No comments:

Post a Comment