Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
1. A abstenção foi elevada mas não atingiu os 47,4% apontados pelos dados oficiais. O censos de 2011 indica que havia então 10 milhões e meio de habitantes em Portugal. Não é possível termos nove milhões e meio de eleitores, como os cadernos eleitorais apontam, pois há pelo menos dois milhões de portugueses sem idade para votar (podem confirmar os dados no site Pordata). A abstenção real de domingo variará entre 39% e 42% dos que realmente poderiam participar no sufrágio. O coro de lamentações habitual sobre uma crise nacional de participação política é, assim, factualmente exagerado.
2. O PS não teve a maior vitória de sempre. Ganhou 150 câmaras (contando com a coligação no Funchal) é verdade, mas perdeu 241 mil votos, ou seja, registou, em relação a 2009, menos 11% de cruzinhas nos boletins de votos camarários, manuscritas no quadrado colocado à frente do seu símbolo. Mesmo em Lisboa, na sua maior vitória, perdeu quase sete mil votos.
3. A hecatombe do PSD soma uma perda, contadas as coligações, superior a 560 mil votos e a 26% de eleitorado. O CDS, apesar do contentinho Paulo Portas, deve estar aflito com a perda de 18 400 votos e de 10,8% de eleitorado. O Bloco tem a maior queda percentual de todas: mais de 45 mil pessoas diminuíram 27% ao universo do seu apoio autárquico.
4. Para onde foram aquelas perdas de votos, quem os ganhou? A abstenção terá ficado com 659 mil mas, dado o ponto 1 deste texto, sei lá se isso é verdade!... Os votos brancos e nulos duplicaram e quase chegaram aos 300 mil eleitores. Os independentes conquistaram 122 mil votos e subiram 45%. A CDU é a única formação partidária a melhorar votação mas subiu 13 600 votos e ganhou apenas 2,5%.
5. Os comentários de José Socrates (PS) e Morais Sarmento (PSD) são interessantes e pertinentes. Acho bom a RTP tê-los no ecrã. Não aceito é essas contratações terem transformado o serviço público de televisão num serviço de pensamento único pela televisão. É incrível uma noite eleitoral penalizadora do bloco central ser analisada, apenas, por dois porta-vozes de fações de dois partidos castigados pelo eleitorado. Soa a frete e viola a mais elementar das obrigações do serviço público.
6. As vitórias mais sublinhadas na noite eleitoral foram as de Rui Moreira, António Costa, Bernardino Soares e Paulo Vistas. Um independente apoiado pelo CDS, um PS que quer ser líder, um prestigiado parlamentar do PCP e um adorador do condenado Isaltino Morais. Quem consegue ver coerência e linhas mestras para o futuro do País, pós Passos Coelho, neste panorama tão diverso? Eu, desculpem, não consigo. Devo ser muito limitado.
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