Os processos de utilização de personagens que se constituíram como elementos "stay behind" não cessa em qualquer parte do mundo e a atmosfera neo liberal que grassa também em muitos dos países da CPLP tornou-se propícia a isso.
Assistiu-se recentemente ao caso Bana, por alturas do seu passamento físico, utilizando-se o método de "lavagem cerebral" da "opinião pública", fazendo-se propositadamente esquecer o seu passado...
Órfão da PIDE/DGS, para quem Bana terá sido "transferido"?
É com este tipo de "culturas" que os "encantadores de serpentes" promovem os "valores" que lhes interessam e são de sua conveniência, fazendo engordar as contas bancárias de seus agentes, pois ao tornarem-se famosos, muitos proventos resultarão de sua promoção!
Há que garantir que "o boi continue a dormir", pelo que manter a psicologia dos tempos idos, reforça os processos neo liberais e neo coloniais, ainda que à custa dos servidores do fascismo e do colonialismo de ontem!
Quantos "homens de estado" de hoje não estarão a seguir e a reforçar deliberadamente esta trilha?
Porquê e para quê?
Martinho Júnior - Redação PG
Luto ou ... descalabro nacional?!
Vieira Lopes* - A Semana (cv)
1. Sobressalta e revolta a ignominiosa notícia de luto nacional por morte do sr. Bana, a ponto que os interesses nobres, mais elevados, ofendidos e desprezados pelo Estado-teatro, justificam a quebra do silêncio fúnebre com o necessário protesto, porque já basta, já é demais para desacreditar e envergonhar a Cabo Verde!
2. Quantos caboverdeanos ilustres falecidos nos últimos 38 anos sem a mínima atenção do Estado-teatro nem a mais leve notícia da rádio (RNC) e da televisão nacional (RTC) ? ... Quantos Caboverdeanos, para a Independência de Cabo Verde, arriscaram empregos, profissões, sossego, bem estar e vida para a luta a mais desigual, a mais difícil e a mais árdua, que era aqui nestas Ilhas de Cabo Verde, arrojadamente na face das Autoridades Coloniais e da sua tenebrosa polícia política de perseguição e repressão fascistas, Pide/DGS ?!
Quantos desses Caboverdeanos merecedores de reconhecimento têm falecido sem um único gesto de lembrança do Estado-teatro (sob os governos do PAIGC/PAICV, do MpD, do PAICV) e sem o conforto de uma palavra da rádio ou da televisão oficiais?
3. Hermínio Cabral, Barbatcheque, irmão de Amílcar Cabral, que, do após II Guerra Mundial em 1945 a 25 de Abril de 1974, foi arauto da causa da independência junto das populações humildes dos mais esquecidos recantos desta Ilha de Santiago, falecido, depois de 1975, sem uma urna, sem um ramo de flores, isto que, de tão pouco, seria muito para quem, como mortalha, não teve um lençol do Estado-teatro, ocupado em gastar mais de dois mil contos (de então) na vinda do féretro e funeral de uma senhora (irmã do senhor Aristides Pereira) que nunca tinha feito nada para Cabo Verde, a não ser o facto de ser irmã deste que, por estratagema eleitoral antidemocrático de partido único e farsa de uma assembleia nacional fantoche, se impôs ao país como presidente da república, sem ter sido escolhido pelo Povo, que, na primeira oportunidade, o repudiou, em 1991;
Sérgio dos Reis Pereira, de Santa Catarina desta Ilha de Santiago, democrata de sempre, indomável e indomado opositor ao Fascismo e ao Colonialismo, em Angola e em Cabo Verde, preso, brutalmente torturado pela Pide/DGS e que, depois de 1975, viria a falecer precocemente no meio de atrozes sofrimentos, sem apoio e sem tratamento das lesões internas provocadas pelas sevícias e torturas da Pide/DGS;
Alcides Eurico Lopes de Barros, natural da Praia, cujo empenhamento pela independência motivou a sua prisão política e cerrada perseguição pela Pide, falecido há poucos anos sem qualquer reconhecimento público pelo Estado-teatro, mais interessado na homenagem ao Prof. Adriano Moreira, que ao serviço do Colonialismo Salazarista foi responsável pela introdução, em Cabo Verde, da Pide, com toda a sua leva de perseguições políticas, prisões, sevícias e torturas, que encurtaram a vida a muitos Caboverdeanos;
António Domingos Silva, que, pela sua inteligente e activa campanha política a favor de democracia e de independência, tanto em Angola (onde, como Sérgio dos Reis Pereira, trabalhou durante 3 anos) como na Calheta e em São Miguel desta Ilha de Santiago, passou a ser conhecido por “Lumumba”; que prestou tão valiosos serviços humanitários de enfermagem à população mais pobre, que sem a sua ajuda, ficaria no completo abandono, mas cuja morte não mereceu uma palavra do Estado-teatro nem uma nota da rádio ou da televisão nacional; Dr. Armando Lopes da Cruz e Dr. Jorge V. Tavares e Sousa, naturais desta Ilha de Santiago, dois vultos cimeiros, brilhantíssimos, do Direito e da Advocacia, que, respectivamente em S. Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau do tempo colonial, fizeram o máximo ao seu alcance, para que a situação humana dos Caboverdeanos, São-tomenses e Guineenses não fosse pior;
Dr. António José da Rosa, natural da Ilha da Brava, Advogado, desde o início da sua profissão incondicionalmente dedicado à defesa das causas políticas a que, desde 1929, generosa e gratuitamente, deu todo o fulgor da sua inteligência privilegiada, todo o rasgo da sua oratória empolgante e todo o desassombro da coragem sem limite que lhe habitava o corpo franzino e tão singularmente frágil;
Os dois irmãos, Agnelo e António Henriques, naturais da Ilha do Fogo, ilustríssimos democratas, invictos patriotas Caboverdeanos, antes de quantos procuram inventar a história da luta em 1956, perseguidos e condenados pelo seu pronunciamento de 1941 contra o Colonialismo Português e, depois de 1975, por mais perseguição e ostracismo pelo Estado-teatro;
Dr. João Varela, natural da Ilha de S. Vicente, anti-fascista e anti-colonialista, escritor, cientista e Médico de renome além-fronteiras, ostracizado pelo Estado-teatro, que o impediu de prestar a mais elevada contribuição médica e científica, para a qual tinha desinteressada e generosamente regressado a Cabo Verde;
Dr. Daniel Alves Tavares e Dr. Carlos Graça, naturais da Ilha de Santo Antão, dois Médicos insignes pela competência, altamente conceituados e estimados pela ciência no tratamento dos pacientes e, não menos, pela devotada atenção aos doentes pobres ou impecuniosos; ambos antifascistas de sempre, o primeiro notado e perseguido pela forma corajosa como enfrentou e se opôs ao Salazarismo na época triunfante e temida do Fascismo e da Nazismo naqueles terríveis e desesperados anos de 1930.
4. A impossibilidade de, aqui, os citar a todos redime-se com a inteligência do leitor em rememorá-los a todos e todas, de todas as Ilhas e da Diáspora: “... beati eritis, quoniam quod est honoris, gloriae et virtutis Dei, super vos requiescit” (Bíblia Sagrada, I S. Pedro, IV, 14).
Quantos de todas as Ilhas e da Diáspora arriscaram a vida para manter aceso o farol de luta e de esperança, mesmo quando as rajadas fulminantes do Nazismo, do Fascismo e do Colonialismo, autocrática e triunfalmente rebombadas por caudilhos arrogantes do alto das tribunas vitoriosas, executadas no corpo, alma e vida dos opositores e vítimas em progroms de sangue por gestapos, Pides e esbirros nazi-fascistas e colonialistas, servidos e cantados por bufos como o sr. Bana, eram de esmagar e fazer esvair toda a esperança na liberdade e na independência ?
“Independência”, que agora miserável e indignamente o Estado-teatro conspurca, esquecendo os grandes vultos da História de Cabo Verde, dando o país de volta, e ao desbarato, ao anterior Colonizador e, prestando homenagem a ex-governante fascista e, “luto nacional” ao antigo colaborador da Pide/DGS, sr. Bana !
5. Em Fevereiro de 1973, em Mindelo, na Ilha de S. Vicente, poucas semanas sobre a notícia da morte de Amílcar Cabral, os Caboverdeanos ainda sofridos com a trágica notícia e acabrunhados, foram violentados e escandalizados pela descaramento rejubiloso do sr. Bana a convidar pessoas para uma festa por ele promovido “para festejar a morte de Amílcar Cabral”. 6. O mesmo sr. Bana, colaborador da Pide/DGS, que, de passagem por Lisboa no regresso a Cabo Verde, teria causado a prisão do artista seu companheiro (na digressão pidesco-musical aos USA) e de outros Caboverdeanos pela Pide/DGS, se não fosse a enérgica intervenção do nosso Ilustre Conterrâneo Senhor Jorge Pedro Barbosa, que rispidamente o advertiu de que se as prisões acontecessem, ele JP Barbosa accionaria a Justiça dos USA contra o sr. Bana, contra o Estado Português e contra a Pide/DGS pelos factos, ocorridos no território dos USA.
7. Não parou por aí o asqueroso serviço do sr. Bana à Pide/DGS e ao Colonialismo Português, contra os Caboverdeanos, contra os Guineenses e contra os Angolanos:
Enquanto os Guineenses eram perseguidos e presos nas suas casas ou fuzilados e queimados nas palhotas pelas “valorosas Fórças Armadas Portuguésas” (sic), o sr. Bana fazia cantorias para dar ânimo e mais alento às tropas coloniais portuguesas na matança de mais Guineenses e guerrilheiros guineenses, à sombra de cuja luta medíocres de Cabo Verde conseguiram subir ao poder em Cabo Verde, em 1975, para tão escandalosa e vergonhosamente se esquecerem dos valorosos mártires Guineenses e Caboverdeanos, a ponto de terem passado a prestar vassalagem a ex-governante fascista e “luto nacional” a esse espião da Pide/DGS, que põe de rasto o mérito dos que o prestam e dos que, nele, tomam parte. Pela minha experiência pessoal na defesa, arriscada, mas graciosa, dos presos políticos Angolanos então reclusos no Campo de concentração do Tarrafal, sei quanto sofreram os Angolanos, ao nível físico, humano, social, moral e material e, bem sabido de todos é o multi-secular calvário do Povo Angolano, espoliado, escravizado e seviciado pelos escravistas e roceiros portugueses e chacinado pela Autoridades e Exército Português para o qual o sr. Bana ia a Angola cantar, para dar apoio e conforto na matança dos Angolanos que lutavam pelo nobre ideal e Direito Fundamental de plena Independência de Angola.
8. Se é que existe, onde está a consciência, o senso moral, o carácter e a vergonha de quem, pela morte do sr. Bana, lhe dedica “luto nacional”? Onde ficou o respeito oficialmente devido a todos os mártires Caboverdeanos, Angolanos, São-tomenses, Moçambicanos, tanto Os passados como Os ainda vivos, vítimas do Colonialismo e do Colonial-Fascismo Português?
9. Que raio de desqualificado “luto nacional”, de verdadeiro descalabro e total vergonha nacional, é este, pelo passamento do que foi um execrável bufão da Pide/DGS, festejador da morte de Amílcar Cabral e, cantor-animador das “valorosas Fórças Armadas Portuguésas” (sic), para matarem mais Guineenses e mais Angolanos que, reconhecidos e legitimados pelo Direito Internacional, lutavam contra a obstinada e sanguinária teimosia Portuguesa em manter, contra o tempo e contra todos, o obsoleto e atrasado Colonial-Fascismo Português ?
10. A honrosa memória e a sagrada Causa de todos Os que lutaram e de todos os que continuam a lutar contra as Injustiças, de ontem e de hoje, condenam toda a histérico-leviana BAMBULA que se tem feito e se está a fazer pela morte do sr. Bana.
Praia, Julho 16, 2013
* Advogado
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