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Primeiros grupos de médicos cubanos "importados" pelo governo brasileiro chegaram ao país cercados por um misto de otimismo e controvérsia. Algumas organizações médicas contestam a iniciativa e temem desvantagens.
Cercados por um misto de otimismo e controvérsia, os primeiros grupos de médicos cubanos chegaram ao Brasil neste fim de semana, como parte de um convênio com a Organização Mundial da Saúde.
Por volta das 14h00 do sábado (24/08), 206 médicos cubanos pousaram em Recife em avião fretado da empresa Cubana. Trinta deles ficaram em Pernambuco, enquanto os demais seguiram para Brasília.
No domingo outro grupo de 194 médicos desembarca no Brasil, em voos com escalas em Fortaleza, Recife e Salvador. Antes de sua transferência para os municípios onde atuarão, os profissionais ficam hospedados em instalações militares, para a realização de uma etapa de treinamento.
O objetivo da iniciativa é, através do SUS (Sistema Único de Saúde), oferecer assistência médica em regiões onde há carência de profissionais da saúde, num momento que o governo de Dilma Rousseff almeja a ampliar a prestação de serviços públicos no país.
Segundo o Ministério da Saúde, o atual déficit de médicos no país é de 54 mil – número contestado por organizações médicas brasileiras. A expectativa do governo é que, até o final do ano, mais 3.600 profissionais cubanos desembarquem no Brasil.
Resistência das organizações médicas
O Brasil tem, em média, 1,8 médico para cada mil habitantes, estando atrás de países como a Argentina (3,2) e a Venezuela (1,9). A diferença é ainda maior na comparação com os europeus, como a Inglaterra (2,7), Alemanha (3,6), Portugal (3,9) ou Espanha (4,0). Em Cuba, a média é de seis médicos para cada habitante.
As organizações médicas brasileiras culpam a estrutura deficiente do SUS e a falta de um plano de carreira como principais fatores que impedem os profissionais da saúde brasileiros de atuar nas regiões mais carentes. As associações médicas também questionam os critérios de contratação e o padrão profissional dos cubanos.
"[Os médicos brasileiros] não estão no interior do país porque o governo nunca teve uma política pública de interiorização da assistência", afirmou o presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Roberto Luiz d'Avila. "O pensamento da corporação médica, mas não de todos os médicos, é que o salário médio vai diminuir e as condições de trabalho vão ficar mais deterioradas, se houver mais médicos no mercado", explicou.
"Médicos por vocação, não por dinheiro"
O jornal estatal cubano Granma declarou que "o trabalho dos médicos cubanos no Brasil seguirá o modelo de cooperação internacional que o Ministério da Saúde Pública de Cuba mantém com 58 países de diversos continentes".
Em nota oficial, o Ministério da Saúde Pública de Cuba informou que os médicos de seu país "mantêm seu vínculo trabalhista, salarial e de seguridade social com o sistema de saúde cubano".
"Somos médicos por vocação, e não por dinheiro. Trabalhamos porque nossa ajuda foi solicitada, e não por salário, nem no Brasil nem em nenhum lugar do mundo", afirmou ao jornal Folha de São Paulo o médico de família cubano Nélson Rodríguez, de 45 anos, após desembarcar no Aeroporto Internacional dos Guararapes, Recife.
Ao chegar, os médicos vestiam jalecos e carregavam bandeiras de Cuba e do Brasil. Os cubanos foram recebidos por um grupo de 40 apoiadores, ligados a movimentos sociais e ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Nos últimos anos, Cuba vem incentivando a exportação de serviços profissionais. Essa iniciativa tem se convertido numa das principais fontes de entrada de divisas para o governo de Havana. O Brasil é um dos principais aliados econômicos do regime cubano, tendo participado ativamente na modernização da obsoleta infraesrutura do país.
RC/dw/rtr
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