Celso Lungaretti – Debates Culturais
O Brasil concedeu, porque quis, asilo a um senador boliviano considerado mero criminoso pelo governo de Evo Morales.
Mas, tal governo negava salvo-conduto para o político oposicionista deixar o país em segurança. Com isto, transgredia indiscutivel e grosseiramente as leis internacionais.
As autoridades brasileiras não recorreram à OEA, à ONU ou a quem quer que seja para desatar o nó. Preferiram continuar negociando indefinidamente com a Bolívia, mesmo sabendo que estavam sendo enroladas.
Um diplomata compassivo arriscou a carreira para salvar a vida do senador, cuja saúde declinava perigosamente em função do longo período mantido no que acabava sendo um cárcere privado.
Como recebeu apoio parlamentar e militar, não se sabe exatamente em que condição atuou: pode haver surpreendido seus superiores, mas também pode ter-lhes dado conhecimento ou, mesmo, seguido suas orientações. A única certeza é que ele não concordou em ser bode expiatório, pois agora se indigna com tal possibilidade.
Ele é o ÚNICO personagem digno e louvável da comédia de erros em questão.
Se a iniciativa foi realmente dele, Eduardo Sabóia deve ser aclamado como HERÓI.
Se seus superiores o estimularam a tirar a castanha do fogo para não queimarem as próprias mãos, temos de aplaudir seu espírito humanitário e vaiar os farsantes.
Não sei o que é pior, omitir-se de um problema ou resolvê-lo com falsidades e encenações, trocando até um ministro para salvar as aparências (mas, compensando-o com uma designação honrosa). País que quer ser protagonista da política internacional, ao invés de uma mera república das bananas, não pode sair pela tangente toda vez que enfrentar uma situação complicada.
Dois trechos das declarações do diplomata Sabóia me sensibilizaram muito:
“Não me arrependo e aceito as consequências. Ouvi a voz de Deus. Estou amparado pela Constituição e pelos tratados internacionais assinados pelo Brasil. Fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história“.
“Você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai? E você é quem a impede de receber visitas. Aí vem o advogado e diz que, se ele se matar, você será o responsável. O senador estava havia 452 dias sem tomar sol, sem receber visitas. Eu me sentia como se fosse o carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-Codi. O asilado típico fica na residência [do embaixador], mas ele estava confinado numa sala de telex, vigiado 24 horas por fuzileiros navais“.
Ele exagerou na comparação com o DOI-Codi, mas se trata de mero detalhe. O fundamental é: quem deixou a situação se deteriorar a tal ponto, não tem moral para punir Sabóia. NENHUMA!
*Celso Lungaretti é jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com</strong>
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