Tuesday, April 30, 2013

ANTÓNIO JOSÉ SEGURO, AFINAL, ESTÁ COM MEDO




Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

António José Seguro teve o seu congresso norte-coreano. Todos os congressos dos partidos são, agora, momentos cerimoniais de aclamação e legitimação do líder, com distribuição, negociada em bastidores, dos lugares secundários do poder partidário. Para disfarçar, passa um desfile, nas pantalhas televisivas, com uma multidão de dirigentes em simulacro de discussão e a manifestar, mão no peito, apoio ao grande líder.

Andam os partidos, não é só o PS, muito satisfeitos com este método, resultado da aplicação de "diretas" para a eleição do secretário-geral. É uma melhoria democrática, dizem. Não vejo em quê, nem onde mas, enfim, o caso não é comigo. Portanto, calo-me com as comparações, certamente muito, muito injustas, para mais vindas de um comuna que, segundo o clichê, só pode ser idiota, ou estalinista ou ambos...

O que é comigo e com todos os portugueses é António José Seguro pedir votos para ganhar as eleições com maioria absoluta, sem descartar a possibilidade de vir a governar em coligação.

Antonio José Seguro quer ser primeiro-ministro. OK. Admito que ache útil pedir já votos para umas eleições que, em princípio, ocorrerão daqui a dois anos. OK. Talvez preveja eleições antecipadas e tenha decidido, à cautela, entrar em campanha. OK.

Sendo assim, há algo que não está OK: a ausência de uma clarificação sobre que tipo de coligação governamental está na mente de Seguro. E essa explicação não é difícil: o PS, sim ou não, aceita governar coligado com o PSD? Com o CDS? Com o PCP? Com o Bloco? Com todos? Só com a direita? Só com a esquerda? Em bloco central? E, das oito hipóteses, qual prefere? Qual rejeita?

Um congresso partidário não responder a coisa tão óbvia é, para ser caridoso, frustrante.

Seguro preocupou-se em divulgar propostas de medidas económicas, não sei se boas mas certamente de discussão pertinente. Mas estas ideias juntam-se às, literalmente, centenas de outras, mais ou menos exequíveis, que os parceiros sociais anteriormente fizeram, tal como os partidos (o próprio PS e, até, o CDS) e numerosos economistas. Só o autismo deste Governo levou a que pouco ou nada fosse daí aproveitado. As propostas económicas do congresso do PS têm, portanto, um mérito limitado no que diz respeito a uma definição distintiva da sua política para o País.

"Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és", proclama o provérbio. Se António José Seguro quer esclarecer verdadeiramente os portugueses sobre o que pretende - se mais do mesmo, com retoques, se mudança substancial - terá que dizer, inequivocamente, com quem quer governar. É simples mas, parece, mete-lhe medo.

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