Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
Foi bom Seguro ter afirmado a continuação dos sacrifícios. Fica tudo claro
António José Seguro não devia ter há muito tempo três dias seguidos de tanta felicidade como estes passados em Santa Maria da Feira. As divergências internas volatilizaram-se em nome do perfume irresistível do poder – com uma ou outra excepção mais clara, como a de Sérgio Sousa Pinto e a debandada de nomes fortes do aparelho socrático da lista da Comissão Nacional – ao ponto de dar espaço ao secretário-geral aclamado de pedir uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. Se as sondagens têm mostrado que o sonho e a realidade são dois campos distintos, pedir uma maioria absoluta não faz mal a ninguém e numa altura de desagregação acelerada do governo em funções acaba por ajudar à “exaltação”, uma coisa de que a política também vive.
Mas o que ficou absolutamente esclarecido neste congresso foi que a vida dos portugueses não será transformada de um dia para o outro se António José Seguro ganhar as eleições com maioria absoluta. Apesar das promessas de renegociar com a troika – que para funcionarem teriam de ter a contrapartida de serem aceites pela dita troika – Seguro foi clarinho quando garantiu que os “sacrifícios” são para continuar, assim como a obsessão europeia com o “rigor orçamental” e outras coisas espectaculares para o crescimento da economia. Seguro foi profundamente sério – uma qualidade que lhe reconhecem muitos – mas explicou a todo o país que “mesmo com o risco de perder votos”, vai “honrar os seus compromissos”. Foi importante que o tenha feito, porque quando debaixo de um novo governo PS vencedor, o país se confrontar com a continuação dos cortes ou mesmo a imposição de novos – “os sacrifícios” – Seguro poderá sempre justificar-se de que nenhum dos seus eleitores foi ao engano.
Havia duas vias à escolha: a aproximação à esquerda defendida por Mário Soares e outros – e, no congresso, pelo líder da federação de Aveiro, Pedro Nuno Santos que defendeu que a solução da troika torna a dívida impagável – ou a manutenção do status quo no que à Europa diz respeito (e sonhar com os amanhãs que cantam ou que a vitória de Seguro faça Hollande acordar). O PS ganhará as próximas eleições mas, provavelmente, sem a maioria absoluta pedida por António José Seguro. Seguir-se-á um governo de bloco central – quando o PSD expurgar Passos Coelho e eleger uma personagem mais moderada e mais distante de Gaspar – ou então o regresso da antiga coligação PS-CDS. Foi isto que o congresso abençoou.
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