Sunday, April 28, 2013

OS FLIC-FLACS DE PAULO PORTAS




Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião

Tão estapafúrdio como imaginar o fim do Governo pela via de um golpe de Estado é considerar a hipótese da interrupção do seu mandato por moções de censura. Ao dispor de uma maioria absoluta, sufragada para um período de quatro anos, a adoção de políticas erradas, a começar pelo restrito conceito de austeridade, ajuda a alimentar forte erosão do apoio social e o acirrar do discurso das oposições. É muito, mas não o bastante.

Num sistema de normalidade democrática a queda do Governo estava até ao dia 25 de Abril na pendência exclusiva da vontade de três personagens - Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas. Por entre avales contraditórios dados, o discurso do presidente da República nas comemorações da Revolução "cravejou" o condicionamento, afunilando-o à disposição dos líderes da coligação.

O país está nesse ponto - só caminha para eleições ou outra fórmula de Executivo em função do comportamento do primeiro-ministro e do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros.

É, então, essencial proceder à leitura de todas as movimentações de Passos Coelho e Paulo Portas.

A capitulação voluntária do primeiro-ministro é pouco crível e o descontentamento público e notório dos alegados barões e baronesas do PSD é só fumaça - nenhum deles quer ir a jogo. Ora, enquanto a máquina partidária estiver sob controlo, dificilmente haverá uma implosão.

Aqui chegados, dispondo do beneplácito do presidente da República, a preocupação essencial de Passos Coelho será muito mais a de gerir os flic-flacs de Paulo Portas.

O líder do CDS-PP é a charneira entre a durabilidade do Governo e/ou o seu fim. Bastam os elogios saídos nos últimos dias da boca de muitos dirigentes socialistas a Portas para afastar dúvidas. E Portas tem a mestria bastante para gerir o ciclo político, ora deglutindo "kompensan" para anular os efeitos divergentes do seu afamado programa de menos impostos e resistência a maior fiscalidade e cortes nos direitos de pensionistas e reformados, ora dando conta da insatisfação por interpostas pessoas - ou gerindo ausências.

Em sentido figurado, agora que se aproxima a época balnear, o Governo depende mais do fio dado às estrelas por Passos Coelho e Paulo Portas do que de uma Oposição de discurso forte na vacuidade das propostas.

Paulo Portas, até ver, administra habilmente o seu espaço político, procurando minimizar a sua associação a uma política duríssima. A pasta dos Negócios Estrangeiros e a diplomacia económica dão-lhe o espaço necessário para tentar passar por entre os pingos da chuva. Espanto dos espantos: Passos Coelho dá-lhe margem de manobra, talvez apostando na aversão dos populares a eleições fora de prazo nas quais correm o risco de voltar a ser o partido do táxi....

Paulo Portas dificilmente cometerá, pois, o erro de bater com a porta. Mas pode acontecer....

Passos Coelho tem entretanto (ainda) margem de manobra para o manter preso à coligação.

Por um lado, bem pode vir a organizar o Conselho de Ministros de modo a acabar com horas e horas de reuniões infrutíferas e das quais passa a ideia de falta de planificação e discordância de Portas. Por outro lado, dispõe do poder de reformatar a coligação, deixando, por exemplo, cair Vítor Gaspar - se a troika lhe der licença. Reduzir as birras de Portas e acalmar outros ministros, a começar por PSD, é sempre um campo alternativo. Antes do fim.

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