Jornal i - Lusa
O agravamento da austeridade determinou a convocação da quarta greve geral realizada em Portugal nos últimos dois anos de governo, unindo as duas centrais, à semelhança do protesto de 2011
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, prevê "uma grande adesão" à greve geral de quinta-feira, o que, acredita, será "uma grande derrota para o governo", que pretende ver derrubado para conseguir um novo rumo político.
"Uma grande adesão dos trabalhadores à próxima greve geral corresponde a uma grande derrota do governo e a uma fragilização da sua base social de apoio", disse Arménio Carlos em entrevista à agência Lusa.
Depois de ter participado em plenários por todo o país, o sindicalista afirmou que as perspectivas apontam para "uma greve geral muito boa" na quinta-feira porque "há um grande descontentamento e indignação contra a política do governo". Segundo Arménio Carlos, os trabalhadores auscultados têm manifestado compreensão e apoio às propostas e posições da CGTP.
"Os trabalhadores em geral têm consciência que este é um momento especial ao qual têm de dar resposta", disse acrescentando que "esta greve geral era inevitável porque o governo assim o quis".O líder da Intersindical explicou que a paralisação se realiza em defesa da dignidade dos portugueses e dos seus direitos e responsabilizou o executivo pelo conflito ao aprovar um conjunto de legislação para o sector público e privado que desregula as relações laborais e reduz a protecção social e as condições de vida.
"Não se perspectiva nenhuma resposta do governo para melhorar o poder de compra das famílias ou o crescimento da economia e, pelo contrário, o que se perspectiva é mais recessão e desemprego. Se assim é, não há volta a dar senão assumir no presente a resposta para assegurar o futuro", disse.
O sindicalista considerou que existe um sentimento generalizado de repúdio pela política do governo e de desejo da sua queda e salientou que, nos plenários que têm feito, muitos têm sido os trabalhadores que votaram no PSD que manifestam a sua frustração e disponibilidade para participar na greve geral.
Tendo em conta o descontentamento generalizado da população e a necessidade de "derrotar a política de direita que tem destruído o tecido económico e desestruturado o tecido social", Arménio Carlos manifestou-se convicto de que a próxima greve geral "vai ser uma greve geral muito abrangente" envolvendo trabalhadores do sector público e privado, embora com maior visibilidade nos transportes e nos serviços públicos de educação, saúde e recolha de lixo.
Os protestos sociais em curso em vários países, nomeadamente no Brasil, podem, segundo o sindicalista, influenciar os portugueses.
"Temos todas as razões para nos mobilizar por nós próprios, dado os problemas com que nos confrontamos, mas a mobilização e os protestos em curso em várias cidades do mundo podem influenciar positivamente a participação cívica dos portugueses, quer na greve geral, quer mas manifestações que vão ocorrer em todos os distritos", disse.
Arménio Carlos manifestou-se, no entanto, contra qualquer manifestação de violência e defendeu o direito à resistência.
"Não podemos confundir violência com resistência. Vamos combater qualquer tipo de violência mas não abdicamos de resistir a estas políticas", concluiu o líder da Intersindical.
UGT. Protesto é "grito de insubmissão" em tempo de "tolerância zero"
Também o secretário-geral da UGT, Carlos Silva, considera que a greve geral é um "grito de insubmissão" perante as políticas de austeridade impostas, numa altura de "tolerância zero" para com o governo.
"O que a UGT tem vindo a fazer enquanto parceiro social é, gradualmente, percorrer os degraus que nos levam a um determinado patamar e, com a greve geral, esse patamar é atingido. Tolerância para a negociação há sempre, mas a tolerância em relação a estas políticas de austeridade é zero", disse Carlos Silva em entrevista à Lusa.
Carlos Silva disse esperar que "o rumo do governo seja um rumo que não desperdice as vontades dos parceiros sociais em fazer da concertação social um verdadeiro fórum de entendimento".
No entender do líder da UGT, "um governo que se confronta claramente com todos os parceiros sociais da forma como o está a fazer significa que é o dono da verdade absoluta e isso não existe em democracia, mas em regimes de ditadura e totalitários".
"Esta política implementada nos últimos dois anos falhou, não foi bem-sucedida. O país continua a empobrecer, o desemprego aumenta, a economia não cresce, os empresários não investem. Basta de políticas de austeridade que castigam o país, violentam as pessoas, penalizam os trabalhadores, os reformados e os pensionistas", acentuou Carlos Silva.
Perante a actual situação do país, o secretário-geral da UGT advogou que "há mais do que razões para que os trabalhadores se sintam mobilizados para a greve geral", mas lembrou que "aderir à greve é uma questão de consciência individual de cada trabalhador".
O agravamento da austeridade determinou a convocação da quarta greve geral realizada em Portugal nos últimos dois anos de governo, unindo agora a CGTP e a UGT, à semelhança do protesto de 2011.
A greve geral que a UGT e a CGTP fizeram a 24 de Novembro de 2011 foi a segunda conjunta das duas centrais sindicais e a sétima greve geral realizada em Portugal depois da revolução de Abril de 1974.
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