Friday, June 28, 2013

Angola: A SECA SEVERA NO SUL



Jornal de Angola - editorial

As terras do Sul de Angola estão a ser fustigadas por uma seca severa que atormenta pessoas, gado e plantações. É um fenómeno natural que se repete há séculos, com maior ou menor intensidade, com mais ou menos estragos. Mas a natureza também se contraria e o ser humano sempre foi capaz de moldar o meio às suas necessidades imediatas.

A água é um recurso que pode ser armazenado e posto à disposição das comunidades, haja ou não chuva.

No século XIX já existiam projectos detalhados para aproveitamento da água do Cunene. E referimos este grande rio porque é um dos que tem o seu curso integral em território angolano e banha grandes extensões do Sul de Angola. Em tempo de seca severa na região percebemos todos a dimensão da inenarrável tragédia que é ver as suas águas perderem-se no mar.

As populações do Sul de Angola acreditam nos adivinhos que fazem chover. Têm belíssimos cantos para chamar a chuva. Sacrificam animais para que ela responda ao choro dos flagelados. Mas o Cunene corre por ali, caudaloso, permanentemente, fecundando imensas planícies. É um rio manso, domável, amigo do ser humano e das suas circunstâncias.

Angola precisa de fazer o aproveitamento integral do Cunene e da sua fabulosa bacia hidrográfica. Os nossos técnicos são chamados a desenterrar dos arquivos os velhos estudos do século XIX e começarem a construir albufeiras e barragens, desde o Bié até à foz.

Naquele tempo não existiam estudos ambientais, mas hoje até temos um ministério que tem dado passos firmes no caminho da preservação do Ambiente. Só falta avançar.

O Sul de Angola não pode continuar à espera da chuva. Não pode depender as “chimpacas” ou “mulolas”. No Sul do país  os cidadãos vivem do pastoreio e aprenderam a partilhar a água com o gado. Mas estamos no século XXI e os pastores não podem continuar a depender da chuva. Os rios da região têm um potencial que ultrapassa largamente as necessidades da Huíla, Kuando-Kubango, Namibe e Cunene. É verdade que muitos dos rios se escondem no areal quando chega o Cacimbo. Mas os rios que correm permanentemente são mais do que suficientes para responderem às necessidades das redes de canais de irrigação que vão garantir pastos permanentes e albufeiras com capacidade para dar de beber às pessoas e ao gado.

As províncias do Sul de Angola têm milhares de cabeças de gado. Ninguém sabe ao certo quantas são, mas sabemos que em tempo de seca o gado velho aguenta melhor a sede. Milhares de cabeças de gado jovens morrem devido à falta de água. O prejuízo é evidente e irreparável. As comunidades pastoris têm sede. Os camponeses não conseguem retirar da terra o seu sustento porque a seca não deixa. A emergência da situação obriga a que sejam enviados para a região os alimentos que a agricultura não dá. O espectro da fome ameaça milhares de pessoas. É importante resolver o problema imediato. Mas não é menos importante encontrar uma saída definitiva para esta tragédia cíclica que atormenta as comunidades do Sul de Angola há muitos séculos.

A solidariedade é importante e os angolanos aprenderam nas últimas décadas a fazer dela a grande arma para garantir a sobrevivência em situação de guerra. Todo o país está solidário com a tragédia que se abateu sobre grandes comunidades nacionais. 

Mas este também é o tempo de contrariar a natureza e lançar projectos que garantam água em abundância, em tempo de estiagem ou seca severa, a todos os angolanos das quatro províncias afectadas. Não podemos deixar a água do Cunene fugir para o mar. Não podemos permitir que a umas dezenas de quilómetros do grande rio, haja populações sem água potável ou para o gado beber. Não podemos desperdiçar as imensas planícies do Sul, deixando-as secar, quando a região tem uma rede hidrográfica de imenso potencial.

O gado não pode morrer de sede e de fome, com o Cunene e os seus afluentes tão perto da terra gretada e sem pastos. As comunidades das quatro províncias não podem viver tormentos com a falta de água nas lavras, quando afinal os rios levam para o mar o que tanta falta lhes faz. Os canais de irrigação e as albufeiras não se fazem de um dia para o outro. Mas se começarmos hoje, daqui a poucos anos, nunca mais voltamos a ouvir falar de populações flageladas pela seca severa. As terras do Sul podem alimentar Angola inteira e até todo o continente africano, desde que saibamos aproveitar os abundantes recursos hídricos que lá existem.

Temos tudo para fazer do Sul de Angola o celeiro nacional. Mas para isso é preciso impedir que a irregularidade das chuvas não determine a produção agrícola, a criação de gado e a vida das comunidades. Temos tudo para vencer a seca. Esta é a altura de começar esse combate. Porque essa é a mais forte mensagem de solidariedade que podemos enviar às populações da região.

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