Filipe Paiva Cardoso – Jornal i
Ministro das Finanças ensaia uma espécie de mea culpa apenas para acabar a empurrar as culpas para o Partido Socialista
Vítor Gaspar assumiu ontem ter cometido “vários erros” durante o processo de ajustamento de Portugal, para logo de seguida considerar as suas más decisões como “inevitáveis”, especialmente “numa crise com esta dimensão”.
A espécie de mea culpa do ministro, no entanto, serviu apenas para empurrar as culpas para cima do anterior governo. “O PS negociou mal. Negociou mal porque colocou o país numa posição extraordinariamente fragilizada”, disse VítorGaspar na comissão eventual de acompanhamento do programa de ajustamento português. Oque tinha começado como um reconhecimento de erros acabou, assim, com um afastar de responsabilidades de Gaspar.“O adiamento do reconhecimento da situação e da negociação internacional fragilizou o país e conduziu a um resultado negociado muito oneroso para o nosso país”, afirmou.
Perante as acusações, os representantes do Partido Socialista reagiram e Fernando Medina, deputado do PS, acusou o toque: “Se já tínhamos percebido que não havia estratégia, agora sabemos que já só quer um bode expiatório” para o “falhanço das suas políticas”, atirou depois, acrescentando ainda que “esta é a narrativa política da sua saída ou da saída do governo”.
A decisão de Gaspar de aproveitar a presença na comissão para atacar o anterior governo mereceu uma réplica também de Vieira da Silva, presidente da comissão, que lembrou a Gaspar que “se diz que o Memorando foi mal negociado, isso não pode ser desligado das condições políticas criadas no nosso país e que enformaram as condições de negociação”. Oex-ministro de José Sócrates foi ainda mais longe e deu um puxão de orelhas ao ministro:“Optou por ocupar uma parte da sua intervenção com a apresentação da sua óptica e eu tenho o dever de aqui deixar uma expressão de profunda divergência da utilização deste tempo e da comissão para o efeito.”
Segundo o regulamento da comissão, esta visa apenas “o acompanhamento da implementação das medidas e do cumprimento dos objectivos definidos” com a troika, algo cada vez mais dificultado pelas revisões desses objectivos.
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