Marina Terra – Opera Mundi – foto EFE
Cenário atual lembra os piores dias da violência sectária que, entre 2005 e 2007, matava uma média de três mil por mês
Nesta quinta-feira (30/05), foram 11. Somente nos últimos sete dias, 166. Levando em conta abril – o mês mais violento do ano –, mais de 700. Apesar de o número de mortos crescer de forma assustadora no Iraque, não se pode dizer o mesmo sobre a atenção mundial dada ao país, invadido pelos Estados Unidos há pouco mais de 10 anos.
Fora dos holofotes, os iraquianos sofrem, desde o princípio do ano, com um aumento da violência, cujo início coincide com uma mobilização da minoria sunita – um quinto da população total – para denunciar a marginalização que sofre por parte governo, dirigido pelos xiitas, e deixa pairar um ressurgimento do conflito civil que eclodiu após a invasão norte-americana.
O cenário atual lembra os piores dias da violência sectária que, entre 2005 e 2007, matava uma média de três mil pessoas todos os meses no país. “É errado dizer que nos aproximamos de uma guerra civil”, disse um político iraquiano ao jornalista Patrick Cockburn, da revista norte-americana CounterPunch e autor de Muqtada: Muqtada Al-Sadr, the Shia Revival, and the Struggle for Iraq. “A guerra civil já começou.”
Em artigo no qual defende que a guerra no Iraque tem potencial de ser pior do que a síria, Cockburn ressalta que a escalada de violência começou em 23 de abril, quando 36 manifestantes sunitas em Hawijah foram mortos. Ele também lembra o ressurgimento da al-Qaeda, grupo sunita fundamentalista, responsável por matar a maioria dos 1.500 iraquianos na violência política somente neste ano.
“Os membros conseguem agora se deslocar livremente na província de Anbar onde há um ano eram um movimento clandestino secreto. Na província vizinha de Kirkuk, militantes da al-Qaeda ocuparam a cidade de Sulaiman Bec, mataram o chefe da polícia, invadiram a esquadra e partiram levando as armas; depois definiram uma trégua com o exército iraquiano”, pontuou.
O jornalista sublinha que, no passado, as bombas eram geralmente dirigidas aos xiitas, mas nas semanas recentes os alvos têm sido as mesquitas e cafés sunitas. “Antes podíamos escapar para a Síria, mas com a violência de lá para onde podemos ir?” perguntou um iraquiano. “Não há saída.”
Governo
A forma como o governo de primeiro-ministro Nouri al-Maliki está lidando com a onda de violência é alvo de críticas. O político xiita frequentemente acusa os manifestantes sunitas de serem terroristas, financiados por outros países, sem levar em conta o sofrimento real de parte dessa população. Para Cockburn, “Maliki cometeu um erro de cálculo ao acreditar que, comprando tempo, os protestos sunitas iriam esmorecer e poderiam assim dividir a liderança sunita com promessas de dinheiro e empregos”.
O atual governo é formado por uma aliança entre xiitas e curdos que, antes da invasão dos EUA em 2003, eram oprimidos pelo regime sunita de Saddam Hussein. De acordo com o jornalista norte-americano, esse laço político está desgastado. “Não queremos ter aqui uma segunda Síria e estamos indo nessa direção. O incêndio está ficando feio e não temos muitos bombeiros”, afirmou a Cockburn o chefe de gabinete do presidente do GRC (Governo Regional do Curdistão), Fuad Hussein.
"Quando a última brigada de combate dos EUA deixou o Iraque em dezembro de 2011, previa-se que fosse o fim de uma era. Mas historiadores sabem que os conflitos não terminam por decreto presidencial ou deslocamento de soldados. O Iraque, simplesmente, entrou em nova fase do mesmo conflito; e EUA, Reino Unido e outros continuam a ser partes ativas desse conflito", analisou Ramzy Baroud, analista sobre Oriente Médio. "Ao longo dos anos, muita gente fora do Iraque – como aconteceu em relação a outros conflitos de alta violência prolongada, com cadáveres contados aos milhares – foi se insensibilizando. Quanto maior o número de cadáveres, menos importantes as vidas que se perdem."
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