Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião
Até lá, a troika deixa subir o défice meio ponto, voltamos aos mercados e os juros tornam-se incomportáveis. A história vai repetir-se
Torna-se claro e óbvio que Portugal vai regressar aos mercados lá para Setembro e que, passados uns meses, volta a precisar de ajuda para se financiar, a fim de evitar juros agiotas.
A ajuda voltará a ser dada sob a forma de troika ou com outra qualquer geometria, mas é um cenário mais do que provável, para não dizer que é certo.
Todos os santos dias que passam se somam indícios dessa inevitabilidade. São défices a crescer, recessões acima do previsto, receitas abaixo do esperado, desemprego em ascensão, despesas sociais a subirem, empresas a fecharem, pessoas a emigrarem, capitais a fugirem, enfim, toda a panóplia de episódios que antecipam as rupturas económicas que depois degeneram em dramas sociais cada vez mais graves.
Bem podem uns dirigentes europeus dar umas loas a Portugal e assinalarem uns pontos positivos. São afirmações destinadas a evitar agitações nos mercados europeus, mais do que propriamente para considerar que Portugal está no bom caminho. Só não é emitido um diagnóstico sinistro porque o nosso país está colado à economia espanhola e o que se passar cá pode agravar as circunstâncias económicas do vizinho, gerando então um problema incontrolável e colossal para a Europa de norte a sul.
Perante estas circunstâncias recessivas só há uma solução possível no imediato: permitir novamente a flexibilização dos números do défice que foram estabelecidos com a troika, conforme ontem mesmo admitiram, juntos em Lisboa, o presidente do Eurogrupo e Vítor Gaspar. É claro que dar isso já por adquirido seria uma reviravolta excessiva em relação ao discurso oficial. Optou-se antes por uma acção psicológica para preparar o inevitável.
Portanto, não há que ver. O caminho está definido. E as etapas são claras. Agora proclama-se que a coisa não está brilhante e que podemos precisar de uma autorização para aumentar o défice. Dentro de um mês pede-se o tal meio por centro de tolerância. A seguir vamos aos mercados e uns meses depois somos resgatados.
Ao longo de dois anos houve várias alterações aos objectivos assentes com a troika, sempre motivadas pela evolução negativa da nossa economia, que entrou numa espiral recessiva dada a intransigência de Vítor Gaspar ao encetar uma política meramente orçamental, descurando a economia.
Agora é evidente que já não há tempo de inflectir o percurso de queda e que vamos chegar ao fim deste ciclo numa situação muito pior do que aquela em que estávamos quando fomos resgatados.
A economia está morta e os portugueses estão exaustos psicológica e financeiramente, o que torna impossível um arranque da economia num prazo inferior a três ou quatro anos.
É a verdadeira pescadinha de rabo na boca, que só não se engole a si própria porque está morta e frita. Nós vamos vivendo, mas a girar sobre nós próprios numa espiral tão dramática como imparável, a menos que haja uma alteração radical de circunstâncias que modifique todas as premissas externas e internas. Ainda ontem, Paul Krugman dizia no seu blogue que “o importante, agora, é mudar as políticas que estão a criar esse pesadelo”. Não sendo um santo da casa, talvez ele seja ouvido. Mas convenhamos que é pouco provável…
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