Informe da Oxfam e da Church Action on Poverty adverte que mais de meio milhão de britânicos dependem de bancos de alimentos de organizações não governamentais para evitar a fome. Segundo organizações, número de pessoas que recorre a estes bancos de alimentos triplicou por causa da reforma do sistema de seguridade social aplicado pela coalizão conservadora liberal-democrata do primeiro ministro David Cameron. Por Marcelo Justo, de Londres.
Marcelo Justo - Carta Maior
Londres - Mais de meio milhão de britânicos dependem de bancos de alimentos de organizações não governamentais para evitar a fome. O informe da Oxfam e da Church Action on Poverty revela que o número de pessoas que recorre a estes bancos de alimentos triplicou por causa da reforma do sistema de seguridade social da coalizão conservadora liberal-democrata do primeiro ministro David Cameron.
O gigantesco programa de ajuste da coalizão – equivalente a um corte fiscal de 160 bilhões de dólares em cinco anos – contempla um corte de mais de 20 bilhões anuais na ajuda social. Segundo o informe das ONGs, a profunda reestruturação do estado benfeitor e o desemprego fizeram triplicar o número de pessoas que recorrem aos bancos de alimentos no Reino Unido, sétima economia mundial, ex-império que certa vez pode jactar-se que em seus domínios “o sol nunca se punha”.
As duas organizações exigiram uma investigação parlamentar sobre os níveis de pobreza. “A rede de contenção que protegia a população está sendo destruída de tal maneira que estamos vendo um claro aumento da fome. Os bancos de alimentos não devem ser um substituto de um sistema de seguridade social”, assinalou o diretor executivo de Church Action on Poverty, Nial Cooper.
O mais importante banco de alimentos, o Trussel Trust, fornece um mínimo de três dias de emergência alimentar com as doações de escolas, igrejas, empresas, indivíduos e supermercados. “No inverno, comas baixíssimas temperaturas, muita gente tem que escolher entre a calefação ou a comida. Um casal, Anne Marie e Danny, com uma filha de 18 meses, teve problemas para cobrar os benefícios sociais quando Danny teve uma gripe e não pode ir trabalhar. Os vizinhos deram a elas uma lata de sopa para sobreviver. Quando o banco de alimentos interveio, foi como se tivessem salvo a vida deles”, assinala um porta-voz da organização.
Os conservadores defendem os bancos de alimentos como um exemplo da “Big Society” proposta pelo primeiro-ministro David Cameron. Segundo Cameron, não se pode esperar que o Estado cubra todas as necessidades sociais da população: as ONGs e outras organizações têm que cumprir um papel crescente na sociedade. Em uma visita a um banco de alimentos o líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband, ironizou esta postura. “Nunca pensei que a ‘Big Society’ fosse para alimentar crianças famintas no Reino Unido”, disse.
Em resposta, o primeiro-ministro acusou Miliband de politicagem afirmando que o número de usuários de bancos de alimentos aumentou durante o último governo trabalhista. David Cameron não faltou com a verdade. Em 2005, cerca de 3 mil pessoas usavam os bancos de alimentos. Em 2009-2010, após o estouro da crise financeira, sob o governo do então primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown, já eram 40 mil.
David Cameron só se esqueceu de um detalhe. Desde que assumiu o poder em 2010 o número de usuários dos bancos de alimentos cresceu dez vezes: só o Trussell Trust recebeu mais de 350 mil pessoas. “Se Cameron acredita que isso é um triunfo, seu manejo das estatísticas é digno do 1984 de George Orwell”, ironizou, no “Evening Standard”, o comentarista Richard Godwin.
Com um desemprego de quase 8%, com uma quarta da população economicamente ativa – cerca de oito milhões de pessoas – com empregos temporários, e com um ajuste econômico que, segundo o governo, deve se prolongar até 2018 para atingir um equilíbrio fiscal, a situação vai se agravar.
O Reino Unido teve em 2012 sua segunda recessão em três anos e neste primeiro trimestre se salvou raspando de uma terceira: a economia cresceu 0,3%. Ainda assim, esta semana, a Organização da Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) baixou de 0,9 para 0,8% as perspectivas de crescimento para este ano. Bem Philips, chefe de campanha da Oxfam, considera que os cortes dos gastos sociais não só não tem sentido moralmente como são um erro econômico. “Empobrecer meio milhão de pessoas é uma má política econômica. “Quem serão os clientes dos supermercados e dos negócios em seus bairros?”, perguntou Phillips.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
O gigantesco programa de ajuste da coalizão – equivalente a um corte fiscal de 160 bilhões de dólares em cinco anos – contempla um corte de mais de 20 bilhões anuais na ajuda social. Segundo o informe das ONGs, a profunda reestruturação do estado benfeitor e o desemprego fizeram triplicar o número de pessoas que recorrem aos bancos de alimentos no Reino Unido, sétima economia mundial, ex-império que certa vez pode jactar-se que em seus domínios “o sol nunca se punha”.
As duas organizações exigiram uma investigação parlamentar sobre os níveis de pobreza. “A rede de contenção que protegia a população está sendo destruída de tal maneira que estamos vendo um claro aumento da fome. Os bancos de alimentos não devem ser um substituto de um sistema de seguridade social”, assinalou o diretor executivo de Church Action on Poverty, Nial Cooper.
O mais importante banco de alimentos, o Trussel Trust, fornece um mínimo de três dias de emergência alimentar com as doações de escolas, igrejas, empresas, indivíduos e supermercados. “No inverno, comas baixíssimas temperaturas, muita gente tem que escolher entre a calefação ou a comida. Um casal, Anne Marie e Danny, com uma filha de 18 meses, teve problemas para cobrar os benefícios sociais quando Danny teve uma gripe e não pode ir trabalhar. Os vizinhos deram a elas uma lata de sopa para sobreviver. Quando o banco de alimentos interveio, foi como se tivessem salvo a vida deles”, assinala um porta-voz da organização.
Os conservadores defendem os bancos de alimentos como um exemplo da “Big Society” proposta pelo primeiro-ministro David Cameron. Segundo Cameron, não se pode esperar que o Estado cubra todas as necessidades sociais da população: as ONGs e outras organizações têm que cumprir um papel crescente na sociedade. Em uma visita a um banco de alimentos o líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband, ironizou esta postura. “Nunca pensei que a ‘Big Society’ fosse para alimentar crianças famintas no Reino Unido”, disse.
Em resposta, o primeiro-ministro acusou Miliband de politicagem afirmando que o número de usuários de bancos de alimentos aumentou durante o último governo trabalhista. David Cameron não faltou com a verdade. Em 2005, cerca de 3 mil pessoas usavam os bancos de alimentos. Em 2009-2010, após o estouro da crise financeira, sob o governo do então primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown, já eram 40 mil.
David Cameron só se esqueceu de um detalhe. Desde que assumiu o poder em 2010 o número de usuários dos bancos de alimentos cresceu dez vezes: só o Trussell Trust recebeu mais de 350 mil pessoas. “Se Cameron acredita que isso é um triunfo, seu manejo das estatísticas é digno do 1984 de George Orwell”, ironizou, no “Evening Standard”, o comentarista Richard Godwin.
Com um desemprego de quase 8%, com uma quarta da população economicamente ativa – cerca de oito milhões de pessoas – com empregos temporários, e com um ajuste econômico que, segundo o governo, deve se prolongar até 2018 para atingir um equilíbrio fiscal, a situação vai se agravar.
O Reino Unido teve em 2012 sua segunda recessão em três anos e neste primeiro trimestre se salvou raspando de uma terceira: a economia cresceu 0,3%. Ainda assim, esta semana, a Organização da Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) baixou de 0,9 para 0,8% as perspectivas de crescimento para este ano. Bem Philips, chefe de campanha da Oxfam, considera que os cortes dos gastos sociais não só não tem sentido moralmente como são um erro econômico. “Empobrecer meio milhão de pessoas é uma má política econômica. “Quem serão os clientes dos supermercados e dos negócios em seus bairros?”, perguntou Phillips.
Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
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