João Lemos Esteves – Expresso, opinião
Vítor Gaspar, esta semana, em conferência de imprensa afirmou que esta semana lhe era particularmente difícil como adepto benfiquista: perdera tudo nos últimos minutos, nos descontos. Esta afirmação, para além de ser uma tentativa de piada barata e totalmente descontextualizada, em Vítor Gaspar não faz sentido nenhum: se há perdedor em Portugal, ele chama-se Vítor Gaspar. Muito antes de o Benfica perder tudo, já Vítor Gaspar era (é!) um derrotado: falhou todas as suas previsões económicas; o Governo terá de propor um Orçamento rectificactivo para corrigir os erros que resultam (todos!) de teimosias estúpidas de Vítor Gaspar; Passos Coelho perdeu completamente qualquer margem de manobra política no seio da União Europeia para se demarcar das soluções alemãs e ter um voz autónoma na defesa dos interesses superiores de Portugal. Afinal, o técnico Vítor Gaspar, o grande, o enorme funcionário de Estrasburgo, o académico brilhante, mas fanático que nunca teve de responder perante ninguém (só perante os seus mestres de Faculdade, que só vêem números e teorias económicas abstractas, sem qualquer adesão à realidade), revelou-se pequeno, falível e um autêntico desastre no exercício das suas funções governamentais.
O problema é que Vítor Gaspar quando sair do Executivo de Passos Coelho terá sempre o seu cargozinho lá na Alemanha, muito bem remunerado (pagará os mesmos impostos que nos obriga a pagar a nós, trabalhadores portugueses?), na sua vidinha fantástica e com a convicção de que fez um brilhante trabalho por conseguir o regresso de Portugal aos mercados. Dirá aos seus colegas e mestres na Alemanha que conseguiu fazer aplicar as teses académicas que advoga - e teve muito sucesso. Com os alemães a viver uma fase trágica da sua história, a entrarem numa fase de nacionalismo escondido e um imperialismo recalcada durante anos, será elogiado, levado ao céu pelos economistas e políticos lá do sítio. Mas nunca será confrontado com a rejeição absoluta dos portugueses à sua política da loucura e do fanatismo financeiro . Com o seu ar descomprometido, de político sonso, Vítor Gaspar conseguiu a proeza de destruir qualquer possibilidade de o Governo Passos Coelho ter sucesso. E a nossa economia pagará a factura do fanatismo deste senhor! Por muitos anos, temo bem....
Dito isto, chegamos a uma conclusão lógica: a única forma de Passos Coelho recuperar algum (se ainda conseguir!) fôlego político é afastar, de vez, Vítor Gaspar. Não consigo perceber como é que um Primeiro-Ministro confiou durante tanto tempo cegamente num Ministro tão incompetente como Vítor Gaspar. Ainda por cima, foi Vítor Gaspar que desprezou olimpicamente o CDS, provocando, por inúmeras vezes, tensões na coligação, ao ponto de actualmente todos sabermos que não se aguentará muito mais tempo. Para mim, é, pois, limpinho, limpinho, limpinho: Portugal precisa de um novo Ministro das Finanças. Tecnicamente competente, mas com perfil político, sensibilidade social e perspectiva económica - isto é, a perfeita antítese de Vítor Gaspar. Estou à vontade neste ponto porque escrevi precisamente esta ideia no EXPRESSO, dois meses depois (!) de o Governo ter tomado posse, na sequência da primeira entrevista de Vítor Gaspar.
Bom, e quem poderá ocupar o cargo deixado por Vítor Gaspar? O melhor nome é, sem dúvida, o de Vítor Bento. No fundo, há que retomar à ideia original de Passos Coelho: Vítor Bento é um técnico respeitado, com provas dadas, conhece bem os dramas sociais dos portugueses e tem um discurso económico sólido (como poucos). E compreende as susceptibilidades do CDS, o que seria uma forma inteligente de Passos Coelho amarrar os centristas. O problema é que Vítor Bento poderá não aceitar ir para um Governo que já está numa fase descendente e cercado de problemas. Pois, mas este não é um momento para calculismos: este é um momento histórico, é um momento definidor do que seremos no futuro. Este é o momento para começarmos a escrever o nosso futuro. E por linhas direitas e directas. Fica, pois, aqui o apelo a Vítor Bento para que tenha, neste momento, a fibra dos grandes homens e a coragem dos estadistas que nos servem de exemplo. O dinheiro que se ganha em empresas não é tudo na vida: ajudar Portugal a sair da crise e ser o protagonista da nossa História não tem preço. Vítor Bento, não rejeite ser Ministro das Finanças a partir de Outubro deste ano! Passos Coelho, nesta altura, vai mudar de Ministro das Finanças - e você é a pessoa indicada. Portugal conta consigo!
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