William Tonet – Folha 8, edição 1160, 28 setembro 2013
O mundo está prenhe de surpresas. O governo de Angola não foge à regra, pois ele é a própria surpresa. Existe uma democracia de jure, mas não de facto, porque as liberdades estão cerceadas e os órgãos de comunicação social públicos apenas divulgam a versão do regime. A oposição e a sociedade civil, não bajuladora, não têm espaço, porque o regime tem medo do contraditório. Mas não tem medo de cultivar as sementes do ódio e do rancor, por estar habituado a melhor reinar com a guerra.
Eu sou um homem de paz, não cultivo uma mudança através do recurso às armas, mas, por este andar, vai engrossando o exército dos cépticos, quanto à vontade férrea do governo blindar a discriminação e não avançar na consolidação da democracia. A guerra ainda pode ser evitada, se o caos puder ser considerado apenas uma referência do passado. Daí acreditar que ainda se pode evitar, uma alteração constitucional violenta. Basta que todos tenhamos vontade de blindar a democracia.
Jurei a mim mesmo deixar de falar sobre acontecimentos nefastos pela descrença nas actuais instituições públicas. Elas, têm vindo a demonstrar, com a propriedade que as caracteriza, terem sido concebidas e formatadas para a defesa cega e exclusiva do “status quo”. Neste quadro dantesco de nada vale gesticular por imparcialidade, justiça e isenção, mesmo quando a razão nos assiste, pois a máquina trituradora do sistema rejeita, qualquer alteração à norma discriminatória.
No dia 24 de Setembro, véspera do dia em que o meuirmão cassule, Mário Tonet, fez 30 dias (25.09.13), do seu passamento físico, a minha viatura foi copiosamente abalroada, às 22h50, por um jeep da UGP (Unidade da Guarda Presidencial), que circulava (é habitual) em alta velocidade em sentido contrário, no Morro Bento, na estrada das universidades. A pancada foi tão forte e seca, na parte frontal, que fiquei atónito e não quis acreditar na evidência, principalmente, depois de ter encostado à berma, por força do prévio e estridente buzinão.
O airbag, não explodiu, por solidariedade da liga metálica, que protege a chaparia do carro, fazendo o seu papel de contenção, ante a virulência do embate, em situações do género. Em todo o caso, dou graças a Deus por não ter acontecido o pior, pese a musculada exibição de armas, antes de continuarem a marcha. O que me repugnou foi a insensibilidade do motorista ou do chefe da equipa, não terem parado para falar ou verificar se da sua acção, danos pudessem ser reparados, caso houvesse necessidade de socorrer eventuais vítimas. Pode não ter havido premeditação e se tenha tratado de um acidente, mas a falta de vontade em assumir uma evidência deixa muito a desejar.
É tempo da UGP mudar a sua imagem dantesca, criada ao longo da sua existência, por serem muitos os acidentes, as mortes, os assassinatos, sem consequências. Uma estatística mostra que das guardas presidenciais no mundo, a UGP (Unidade da Guarda Presidencial) de Angola, é das que mais danos materiais e humanos causa aos seus cidadãos. É preciso mudar, porque é possível, principalmente, quando as imagens falam por si.
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