Eduardo Oliveira e Silva – Jornal i, opinião
Mesmo assim não deve haver consequências nem alteração da política
Contra factos não há argumentos. O resultado das eleições autárquicas foi uma derrota inequívoca do PSD, uma vitória substancial para o PS, um óptimo resultado para o PCP, um bom score para o CDS e um final feliz para alguns independentes, venham eles de cisões ou sejam genuínos mas que deram vida a um novo fenómeno político que dará futuramente muito que falar. Marginalmente, houve também um desaire claro do Bloco de Esquerda.
A corrosão do PSD deu-se sobretudo nos centros urbanos e atingiu também a Madeira, onde o jardinismo deu sinais de estar a soçobrar, o que acentuou os maus resultados nacionais em termos de mandatos autárquicos.
A vitória do PS liderado por António José Seguro permite-lhe recuperar a presidência da Associação Nacional de Municípios, que pertencia ao PSD e que Passos Coelho tinha proclamado que queria manter.
Como é habitual em Portugal, o país ficou de novo bipolarizado entre PS e PSD. Uma extrapolação para um contexto nacional e uma divisão do significado dos votos dos independentes de várias espécies conduz necessariamente à conclusão de que o mais significativo de tudo o que aconteceu é que o PS passou a ser o partido mais votado, confortavelmente à frente do PSD.
É claro que daqui não se pode concluir que o PS nesta altura ganharia legislativas com a mesma percentagem, mas é certo que seria sempre o partido mais votado.
Na sua intervenção de vitória, António José Seguro foi bastante comedido e não pôs em causa de imediato a legitimidade do governo, antes optando por um apelo à mudança de política por parte de Passos Coelho, hipótese que o primeiro-ministro tinha rejeitado minutos antes, reafirmando a sua resiliência e a determinação de manter o rumo, apesar dos resultados negativos do ponto de vista económico e do castigo eleitoral que agora sofreu.
A noite eleitoral correu igualmente bastante bem ao PCP, que recupera alguns dos seus antigos bastiões em detrimento do PS, que deles tinha desapossado os comunistas em autárquicas anteriores. Já o CDS fez um bom negócio em termos de câmaras e votos, sobretudo porque foi um agente activo da significativa vitória de Rui Moreira, que teve por detrás a sombra de Rui Rio.
Não vão faltar análises e conclusões nos próximos dias, mas a verdade é que nada indica que o panorama político geral sofra de imediato qualquer transformação.
Passos vai manter o rumo recessivo, Portas vai continuar a desmarcar-se e a aproximar-se na medida política que lhe convier, o PS de Seguro continuará a sua caminhada rumo a S. Bento com o apoio sólido do partido e o PCP seguirá em frente valorizando a sua capacidade de mobilização, agora mais legitimada por votos nas urnas, enquanto o Bloco irá pontuando telejornais aqui e acolá.
Quanto ao essencial, para já nada deve mudar a não ser o agravamento geral das condições de vida da população, já exaurida pela austeridade. A menos que, com sorte, os partidos saibam retirar as conclusões mais profundas que uma análise menos imediata que esta não deixará de evidenciar.
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