Martinho Júnior, Luanda
1 – Ainda ecoavam as denúncias, a partir das matérias que têm sido dadas a conhecer por Edward Snowden, acerca da espionagem da NSA sobre a Presidência do Brasil, incluindo sobre o alvo principal que é Dilma Roussef, continuava-se a série dando a conhecer desta feita as denúncias em relação à PETROBRAS, a estatal brasileira do petróleo.
O interesse da espionagem da National Security Agency sobre a PETROBRAS justifica-se no que é essencial para a motivação de domínio a partir das colectas de inteligência: as operações de prospecção, pesquisa e exploração, realizadas de há mais de 40 anos a esta parte, a descoberta do pré-sal, a próxima licitação de um dos seus mais promissores campos (em Angola a SONANGOL usa a qualificação de blocos), o campo de Libra!... tudo isso tem vindo a “empolgar” a azáfama da hegemonia!
A PETROBRAS é um dos maiores líderes mundiais de exploração de petróleo em águas ultra profundas, em particular desde que em 2007 se descobriu o pré-sal brasileiro na “Amazónia Azul”!
Os Estados Unidos e a sua matriz britânica têm motivos e objectivos mais que suficientes e diversificados para instalar todo o tipo de sensores em localizações geo estratégicas, mas em relação ao Atlântico Sul e ao petróleo do Brasil, das Malvinas, do Golfo da Guiné e de Angola, a localização da ilha de Ascensão dá-lhes incomensuráveis recursos de espionagem.
A partir dela e beneficiando da sua situação geo estratégica incomparável, tudo pode ser escutado e registado pela inteligência norte americana, inclusive as pesquisas “offshore” feitas a partir de satélites e de navios no Atlântico a sul do Equador e até à Antárctida… “yes we scan”!...
2 – A ilha de Ascensão, a Diego Garcia do Atlântico Sul, já tem tradição em assuntos de espionagem: por exemplo o ataque do poder militar e de inteligência do Reino Unido à Argentina nas Malvinas, teve naquela ilha com 97 km2, uma preciosidade escondida dos olhos do mundo e a base principal que catapultou o momento da acção.
Teria sido muito mais difícil de outro modo a Margareth Thatcher, que eu tenho considerado como “dama do petróleo”, levar a cabo as acções políticas, diplomáticas, militares e de inteligência relacionadas com a Argentina e as Malvinas em 1982: o segredo neste caso “foi a arma do negócio”!
Naquela altura, em especial entre Março e Julho do mesmo ano, passou por Ascensão uma parte importante da aviação e da marinha do Reino Unido, com unidades que foram envolvidas na reconquista das Malvinas à Argentina a fim de manter as prerrogativas coloniais britânicas sobre aquele arquipélago, também rico em petróleo!… até hoje e garantindo o futuro!...
Como é óbvio o deslocamento de tantos meios, só poderia ser feito com recurso a uma panóplia de sensores de inteligência “techint” que já haviam sido previamente instalados em Ascensão, beneficiando da iniciativa UKUSA-ECHELON!
O mesmo tem acontecido em Diego Garcia, no Índico Norte, que tem servido de base às principais operações no AfPaq!
Às primeiras capacidades instaladas em Ascensão têm-se vindo a juntar mais tecnologia ultra moderna, aumentando quase infinitamente a capacidade de recolha de dados!
3 – Com o fim do período do que se consignou qualificar como da Guerra Fria, a geo estratégia do petróleo da hegemonia integrou o esforço UKUSA-ECHELON.
A inteligência “techint” só poderia ser incrementada em Ascensão, pois a ilha pirata está precisamente no centro duma imensa região circular que no seu entorno “justifica” o investimento das filiais do sistema, particularmente a norte-americana e a britânica: a partir dali seria possível colocar todo o tipo de sensores e equipamentos para arquivo, registo e consulta de dados, em especial no que diz respeito ao Brasil, ao Golfo da Guiné e a Angola, para além dos que vasculham os mares austrais do Atlântico até à Antárctida!
De acordo com os trabalhos de alguns geólogos, entre eles Tako Koning, por mim referenciado, há cerca de 165/200 milhões de anos que os continentes Sul Americano e Africano, então unidos numa enorme massa reconhecida como Gondwana, se separaram e continuam a afastar-se, pelo que a saliência do Nordeste brasileiro, estava encaixada na reentrância que constitui o Golfo da Guiné… daí o pré-sal do Brasil e o de Angola… com origem comum!...
Se Angola e Brasil estão “unidos no petróleo”, para além de outras pontes que existem, mais uma razão para a panóplia de espionagem da hegemonia tendo Ascensão como fulcro!
4 – Quando o IASPS em 2001 decidiu formular a estratégia norte americana para a África do Oeste, Golfo da Guiné e por tabela Angola, lançou algumas das sementes do que se lhe veio a seguir, que culminou com a criação do AFRICOM a 7 de Fevereiro de 2007, por ordem do Presidente George W. Bush, o mais recente instrumento-catalisador de domínio por via de processos de inteligência e militar em África, com manipulação e influência na gestação das novas elites africanas.
A partir de então é impossível dissociar em relação a África, o esforço de inteligência em função do expediente UKUSA-ECHELON-NSA, quer do AFRICOM, quer do SOUTHCOM!
Os actuais governos da Argentina e do Brasil sabiam-no antes, mas agora com o que está a ser divulgado quer pelo Wikileaks, quer por Edward Snowden, dão-lhes a possibilidade de comprovar muita coisa e de tomar as medidas adequadas para fazer frente a uma “concorrência” tão desleal, num momento em que as disputas globais tendem a aumentar.
Uma das medidas já em curso com a UNASUR, é a criação dum sistema de cabos de fibra óptica (TELEBRAS) entre os países latino americanos, que não passe pelos Estados Unidos.
A TELEBRAS terá por outro lado, em 2016, um satélite de comunicações inteiramente nacional para internet e fins militares.
É evidente que essa “concorrência” atinge também os interesses geo estratégicos da Argentina e do Brasil em África; no caso do Brasil a PETROBRAS é um alvo também por causa da sua presença no jogo do petróleo e do gás no Golfo da Guiné, em Angola e desde há pouco, na Namíbia, ou seja, no pré-sal africano, gémeo-siamês do pré-sal brasileiro… em águas profundas e ultra profundas!
5 – Se na América Latina quer a Presidente Cristina Kirchner, quer a Presidente Dilma Roussef, reagiram de imediato e em uníssono à híper-espionagem norte-americana e britânica, em África o silêncio tem sido evidente e revelador de muita coisa, por exemplo: a panóplia humana de infiltração de agentes por parte da hegemonia é mais impressiva que na América Latina e isso resulta em enormes possibilidades de manipulação e influência nas novas elites em formação, com reflexos sócio-políticos desde o Gana à Namíbia, por todo o Golfo da Guiné e reforçando as plataformas tácticas dos arquipélagos de São Tomé e da Guiné Equatorial!... tudo isso à mercê da plataforma geo estratégica “techint” de Ascensão!
Muitas das iniciativas em curso em África estão afins e em sintonia com a geo estratégia anglo-daxónica, inclusive no que diz respeito aos impactos “humint” e isso resulta em vantagens que a hegemonia está a procurar reverter a favor da gestação e promoção das novas elites africanas, uma grande parte delas resultando da coerência e da lógica dos seus investimentos, particularmente nas áreas do petróleo, do gás e da exploração mineral!
O “hemisfério ocidental” em torno do Atlântico, apesar do empertigamento na América Latina contra a hegemonia dos Estados Unidos pondo fim ao seu “tradicional quintal”, é a única região onde laivos de hegemonia unipolar ainda prevalecem, ao contrário do que está a acontecer nas outras regiões geo estratégicas do globo.
África, tendo em conta a rapina decorrente do capitalismo neo liberal em curso por via da globalização, arrisca-se sobretudo na costa Atlântica, que o seu petróleo e o seu gás tragam cada vez menos percentagens de benefícios para seus estados, países e povos, no seguimento das descobertas do pré-sal em 2007: se na América Latina, o Brasil e a Argentina defendem o seu petróleo como catapulta das iniciativas emergentes e de relacionamento com outros, África indicia que tal não está a acontecer, pelo que as manipulações da hegemonia unipolar mesmo estando a descoberto, estão sem resposta!
Ao não assumir a defesa do seu pré-sal como os latino-americanos, África vulnerabiliza concomitantemente a possibilidade de sua posição relativa à Zona Económica Exclusiva de 200 milhas ao largo das suas costas… onde se encontram também outras enormes riquezas minerais!...
A ausência de reservas de petróleo em Angola, só pode ser entendida no quadro de todas essas vulnerabilidades!
Mapa: A posição geo estratégica da ilha de Ascensão tornaram-na numa ilha-pirata em benefício da hegemonia, ou seja, uma das principais chaves da espionagem “techint” no Atlântico Sul!
A consultar:
. IASPS – African Oil: a priority for U. S. national priority and African development – http://www.iasps.org/strategic/africawhitepaper.pdf
. The American Military and Public Diplomacy in Africa – http://uscpublicdiplomacy.org/index.php/research/project_detail/africom_the_american_military_and_public_diplomacy_in_africa/; http://www.flickr.com/photos/public_diplomacy/sets/72157603911204927/
. Why AFRICOM? – http://www.africaportal.org/dspace/articles/why-africom-american-perspective; http://dspace.cigilibrary.org/jspui/bitstream/123456789/31159/1/SITREPAFRICOM170807.pdf
. Espionagem total dos EUA contra o Brasil – http://www.odiario.info/?p=3022
. Novas revelações apontam espionagem à PETROBRAS – http://www.ptnosenado.org.br/textos/122-curtas/27762-na-midia-novas-revelacoes-apontam-espionagem-a-petrobras
. Latino América pondrá cerco a Obama en el cumber del G-20 – http://www.cubadebate.cu/?p=282161
. Ministros de Argentina y Brasil firman acuerdo contra espionagem de EEUU – http://www.cubadebate.cu/?p=286691
. El espionage es parte de la Guerra total – http://www.jornada.unam.mx/2013/09/20/index.php?section=opinion&article=027a2pol
. Geological similarities with Brazil’s pre-salt attract investments to Africa – http://www.offshore-mag.com/articles/print/volume-70/issue-7/latin-america/geological-similarities-with-brazils-pre-salt-attract-investments-to-africa.html
. Solving the mistery of Angolan Oil – http://www.aapg.org/explorer/2013/04apr/historical0413.cfm
. A Amazónia Azul, uma das últimas fronteiras – Página Global 2009 – retirado.
. Uma componente decisiva para as integrações e alternativas que se abrem no século XXI – http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/brasil-uma-componente-decisiva-para-as.html
. Assim se “constrói” o Sul – http://pagina--um.blogspot.com/2011/02/assim-se-constroi-o-sul.html
Oportunidade perdida? – http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/09/oportunidade-perdida.html
. Colapso na estratégia do petróleo em Angola – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/09/colapso-na-estrategia-do-petroleo-em.html
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