William Tonet – Folha 8 - edição 1158 – sábado, 7 setembro 2013
Segundo um aforismo muito conhecido, a história da humanidade pode ser resumida como sendo uma sequência de situações que se vão repetindo sob diversas formas e numa adaptação conjuntural à época em que elas ocorrem.
Ora acontece que a história contemporânea de Angola apresenta-se de algum modo como uma, não direi repetição, mas sim uma reprodução defeituosa de um período da história de Inglaterra dos primórdios do século XIV, celebrada pelas narrativas das aventuras de um herói que se tornou famoso por roubar os ricos e dar aos pobres, refiro-me a Robin dos Bosques (Robin Hood).
Existem inúmeras versões da saga anglo-saxónica referente a esse personagem: são tantas que se chega ao ponto de ser impossível saber onde está a verdade, tanto assim que Robin Hood, hoje é mais um mito do que personagem histórico.
Contudo, segundo fontes de diversas origens, Robin continua a existir para quem vive hoje em Nottingham, cidade no centro de Inglaterra que serve de cenário à maioria das baladas iniciais que lhe são dedicadas. Além das estátuas, há as ruas baptizadas com o seu nome e um festival anual que lhe é dedicado. E há também o que resta da Floresta de Sherwood, onde é possível encontrar a árvore em redor da qual o bando de Robin se reunia em conselho.
Por outra, “Robin Hood” é, desde sempre, por motivos que as versões às vezes alteram, um fora-da-lei. As referências históricas que sustêm as diferentes teorias da sua existência, prendem-se, aliás, na maior parte dos casos, com registos da sua comparência em tribunais. Existem muitos candidatos a ter em conta, mas, em todo o caso, a páginas tantas o herói escolheu a vida clandestina da floresta depois de ter sido injustiçado e a sua opção é partilhada por uma grande parte do povo, acabando Robin por formar um exército com o qual se opõe à maldade que o rodeava.
Na História, Robin Hood, que ganha o apelido por usar um hood (tipo de chapéu com pena) vence o príncipe John e casa-se com Maid Marian, sobrinha de Ricardo. No fim da história, Ricardo Coração de Leão reaparece após sua derrota em terras estrangeiras e nomeia Robin Hood cavaleiro, tornando o nobre novamente. Happy End.
OS ROBIN HOOD ANGOLANOS
Não sei se estou a ser seguido nas entrelinhas, mas aqui deixo ficar a minha interpretação, esta narrativa tem muito a ver com o que se passou em Angola a partir do momento em que os angolanos deram início à luta pela libertação nacional.
Havia em Angola um “Principe de má memória, o Colono. Agostinho Neto chegou, viu e venceu, foi ele o Robin Hood angolano que ficou na história, embora tivesse havido alguns mais, antes e depois dele. Tal como o herói inglês, o nosso Robin Neto conseguiu escorraçar o “príncipe” do poder, (“o problema é resolver os problemas do povo”, dizia ele), venceu o Colono e tomou o poder. E neste ponto há divergência com a lenda original.
Neto, por assim dizer, auto-proclamou-se “príncipe” o que teve como consequência ter aparecido outro Robin Hood, o qual, rapidamente também mostrou que queria ser “príncipe” e se tornou legenda. Refugiou-se na floresta do sul de Angola e combateu o auto-proclamado “príncipe” Neto e o seu sucessor, JES. Combateu até à morte. Eis a diferença.
Infelizmente!
Para nossa desgraça colectiva, o nosso “príncipe” actual, ou seja, os detentores do poder, estão cada vez mais insensíveis e adulteram os mais elementares conceitos universalmente reconhecidos. Em Angola o actual Robin dos Bosques rouba os pobres para dar aos ricos.
Os exemplos estão à mão de semear. Os dirigentes negros retiram as terras ao povo para as distribuir pelos ricos, visando erguer condomínios selectivos e consumarem a política de discriminação. Não será para afastar das cidades a maioria dos pretos? Não vemos outra razão. Eles têm vergonha da maioria dos angolanos, que apenas são reconhecidos em vésperas da fraude eleitoral.
Quanto aos serviços que lhes são devidos e consagrados por tradições ancestrais e pela Constituição, basta ver o estado calamitoso dos hospitais públicos e as condições deploráveis em que trabalham os médicos angolanos.
Basta olhar para o outro lado e constatar que as escolas erguidas para pretos são uma imagem tão degradante que o ministério da Educação de Eduardo dos Santos adoptou, igualmente, um programa curricular tão básico que a maioria dos angolanos não precisa de saber o que lhes é muito defeituosamente ensinado para transitar de classe. E tudo isso visando a perpetuação no poder da claque, pois os seus filhos, a começar pelos do Presidente, estudam em escolas estrangeiras ou no estrangeiro….
E por aí fora, numa procissão de engalanados eventos, sumptuosos investimentos e edificações grandiosas das novas Catedrais das sociedades modernas, estádios, arenas e torres monumentais, um Parlamento a fazer inveja a Obama…
Noutro extremo ou no mesmo, alguns dirigentes do regime adoram exibir relógios de mais de 50 mil euros, carros de 200 a 500 mil dólares e/ou contas milionárias, conseguidas através da locupletação de dinheiro do erário público.
A liberdade de imprensa e de expressão, está confiscada, feita em compota, marmelada cozinhada para o povo sem instrução, o voto em Angola não tem o mesmo valor de outras paragens democráticas, o “voto regime” tem uma cumplicidade institucional com a fraude.
E nesse pavonear saloio de manutenção do poder a qualquer custo, o “príncipe”, seus familiares e a sua corte, consideram-se herdeiros das riquezas de todo um povo, atirado para a mais reles miséria e indigência.
É triste, quase dá para desistir de gritar por liberdade, mas, quando vejo na África do Sul, um país inteiro vergar-se à evolução do estado de saúde de Nelson Mandela, tenho o sonho de um dia poder assistir à entrada serena e confiante do Presidente de Angola num hospital público do nosso amado país sem receio de ser contaminado por uma seringa utilizada por três ou mais pacientes. No entanto, se este sonho não se concretizar antes, deixarei uma procuração irrevogável para o meu bisneto poder assistir a isso e reportar, pois partirei antes de essa nova aurora pacífica ser uma realidade em Angola.
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