Thursday, August 29, 2013

Macau: Legislativas serão mais disputadas e campanha "mais negativa" -- Analista

 


Macau, China, 28 ago (Lusa) - O politólogo Eric Sautedé prevê que as legislativas de setembro em Macau sejam mais disputadas com o crescente descontentamento da população e, por isso, espera uma campanha eleitoral "mais negativa" e uma maior exposição da corrupção eleitoral.
 
"Estas eleições vão ser mais disputadas e, por isso, haverá mais campanha negativa do que no passado e não digo que vá haver mais corrupção eleitoral, porque já há muita, mas penso que será mais exposta", disse o politólogo francês radicado no território, em declarações à agência Lusa, à margem de uma palestra da Associação Empresarial França-Macau.
 
Para Eric Sautedé, cinco dos 14 lugares em causa no sufrágio direto - mais dois do que em 2009 na sequência de uma reforma política - serão "bastante disputados", dado o "descontentamento crescente" da população e uma "discrepância entre o que esta gostava que acontecesse [em termos de implementação de políticas] e o que a elite acha que devia acontecer".
 
"Podemos esperar algumas surpresas nestas eleições", indicou.
 
Ao salientar que há mais jovens eleitores, cerca de 52 mil com menos de 30 anos, este analista alerta que, "se 60% desses votarem, poderão eleger três ou quatro deputados", havendo, por isso, mais caras novas entre os candidatos.
 
"Verificamos também uma erosão do apoio de algumas listas tradicionais", acrescentou, citando uma pesquisa realizada pela Universidade de São José, onde é docente, segundo a qual os residentes na casa dos 50 anos, a faixa etária com mais eleitores, "foram os que mais defenderam mudanças" pela "insatisfação com o trabalho do Governo, ao contrário do que se registava no passado".
 
Para Sautedé, os "candidatos ligados à indústria dos casinos também já não são tão populares como antes" e, por isso, "estão a tornar-se mais populistas" para alargarem o seu eleitorado.
 
Parte da insatisfação da população com os seus representantes deriva, na perspetiva do politólogo, do facto de "muitos deputados terem uma posição inconsistente, porque muitas vezes o que dizem e defendem não corresponde ao que apoiam no hemiciclo".
 
O campo pró-democrata, ligado à Associação Novo Macau, deverá "assegurar os três lugares que já tem na Assembleia Legislativa e tem boas possibilidades de eleger um quarto", prevê, observando, no entanto, que o seu objetivo é a eleição de cinco deputados, já que concorre com três listas.
 
O método de conversão de votos em mandatos que está em vigor em Macau desde o início da década de 1990 e que é alegadamente único no mundo obriga determinados grupos a concorrerem em várias listas para conseguirem eleger mais deputados.
 
"Este método foi criado para garantir a representação no hemiciclo de listas mais pequenas, dificultando que uma só consiga eleger mais do que dois deputados, mas o que foi, de certa forma, pensado para preservar o património português e macaense [a presença destas comunidades no hemiciclo] hoje faz com que certos grupos dispersem os seus candidatos por diversas listas", explicou.
 
O sistema político de Macau é, na perspetiva de Sautedé, próximo de um sistema autoritário em que domina o poder executivo, salientando que "o sistema de votação evita que grupos da oposição formem uma coligação ou uma força importante".
 
"Apenas quatro deputados - três pró-democratas e José Pereira Coutinho - fazem de facto o seu trabalho, já que os restantes são empresários ou apoiantes do Governo", indicou, considerando que os "elementos da democracia estão a ser, assim, desprovidos do seu verdadeiro significado".
 
E é o empresário Ho Iat Seng, vice-presidente do hemiciclo, que este analista prevê que venha a assumir a presidência do órgão legislativo, apesar de não esperar uma grande ousadia da sua parte no desempenho das funções.
 
"Ninguém em Macau se está a atrever o suficiente a interpretar o alto grau de autonomia do território. As linhas de ação governativa concentram-se apenas nas políticas para o ano seguinte, não há um compromisso a médio e longo prazo e na Assembleia Legislativa isto também não está a acontecer, o que é espantoso, porque Macau está a crescer de forma rápida", concluiu.
 
Para Sautedé, que cita resultados de uma pesquisa realizada em 2009, "a maioria da população quer o sufrágio universal, mas sabe que não o pode ter agora".
 
A campanha eleitoral arranca no sábado e nas legislativas de 15 de setembro estão em causa 14 lugares pelo sufrágio direto e 12 pelo indireto (deputados eleitos pelas associações), mais dois do que nas eleições de 2009 por cada uma das vias. Esta situação alarga a composição do hemiciclo dos atuais 29 para 33 deputados, já que se mantém a nomeação de sete pelo líder do Governo.
 
PNE // MLL - Lusa
 
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