Emir Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
Marx dizia que a Alemanha, na sua época, se parecia a um ser deformado, com uma enorme cabeça – pela estatura da sua cultura – e um corpo franzino – pelo atraso das transformações históricas da sociedade alemã. Hoje se poderia projetar uma imagem oposta da Alemanha: uma sociedade robusta e uma cabeça atrofiada.
Faltava os alemães decidirem pelas eleições como Merkel deveria governar no seu terceiro mandato: se repetindo a aliança com os liberais, se com os social democratas e/ou com os verdes, ou sozinha, com maioria absoluta. Merkel esteve perto desta última possibilidade – só conseguida por Konrad Adenauer. Faltaram poucos parlamentares.
A DC cresceu 8 pontos, mas seu aliado, o Partido Liberal, perdeu 10, não entrando no Parlamento – pela primeira vez na sua história. Na soma dos seus votos, o eleitorado a favor do governo que termina seu mandato não aumentou seu apoio.
O mesmo ocorreu no bloco opositor. A SD aumentou 3%, mas os Verdes e a Esquerda perderam um pouco mais. Quem ganhou foi o partido que pregava a saída do euro, que quase chegou ao Parlamento.
Como resultado, Merkel vai ter que negociar. A SD sempre disse que não gostaria de repetir a aliança do primeiro mandato a Merkel, quando pagaram o preço. Naquele mandato a SD pagou o preço do desastroso governo do seu partido, dirigido por Schroeder, que iniciou as reformas neoliberais a que Merkel deu continuidade. Essa circunstância facilitou que a DC pudesse ter um segundo mandato aliada só com os liberais.
Nestas eleições, Merkel saberia se poderia dar seguimento a seu segundo mandato ou teria que reprisar alianças com a oposição, como no primeiro. Vai ter que negociar. A SD sempre disse que não queria voltar a um cogoverno. Mas os Verdes se apressaram a expressar que eles, sim, estão dispostos a negociar uma aliança com a DC.
Serão semanas de negociação, com Merkel em posição de força. A SD teve o segundo pior resultado da sua história. Os Verdes perderam 3%, mas sobretudo tiveram menos da metade do que as pesquisas chegaram a dar-lhes.
Os alemães expressaram apoio à continuidade das orientações do governo da Merkel. A SD pode reivindicar um ministério econômico, um da área social e o de Relações Exteriores. A política alemã em relação à Europa pode ser um pouco flexibilizada, mas não alterada nos seus fundamentos. Afinal, foi pela inflexibilidade demonstrada pelo governo que Merkel conseguiu seu terceiro mandato.
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