Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
Se era para evitar o segundo resgate, a resolução da crise não serviu para nada
Enquanto os alemães se preparavam para entronizar Angela Merkel como a grande líder - sufragando em massa as suas políticas europeias, o que é uma péssima notícia para nós e todos os outros países em crise - Pedro Passos Coelho decidiu anunciar ao país que um segundo resgate está iminente. Não deixa de ser irónico que o tenha feito pouco tempo antes da data fixada pelo ex-ministro das Finanças Vítor Gaspar para o regresso de Portugal aos mercados. Era hoje, dia 23 de Setembro, segunda-feira e Gaspar disse-o sem se rir, lembram-se?
Um primeiro-ministro que se recusa a falar da flexibilização do défice (ainda não sabemos qual é a política oficial do governo sobre isto, se o que diz Portas, se o que diz Maria Luís Albuquerque) e decide falar numa acção de campanha no Ribatejo de que um segundo resgate estará em cima da mesa é, para se ser simpático, incompreensível e desconcertante.
Mas Pedro Passos Coelho talvez tenha decidido expressamente anunciar o segundo resgate para que ele seja assumido pelos portugueses (uma grande parte sempre o deu como adquirido, uma vez que o programa da troika e sucessivas revisões mantêm aquela característica inicial de serem incumpríveis) através da sua particular narrativa. A culpa dos juros ultrapassarem, neste momento, os 7 por cento é da crise política, logo, de Paulo Portas. De nada serviu a Portas engolir humilhantemente a sua demissão "irrevogável". Vai levar com as culpas do segundo resgate que terá sido a razão pela qual decidiu recuar de uma forma grotesca. Ouvir Passos Coelho anunciar a iminência do segundo resgate e pedir-nos para não "fazer de conta" que não houve uma crise no Verão é mais ou menos equivalente a declarar uma nova crise política da qual ele se prepara para lavar as mãos.
Se era para evitar o segundo resgate e a incomportável subida dos juros acima dos 7%, a resolução da crise do Verão não serviu para nada. É o próprio Pedro Passos Coelho a informar-nos disso, hoje. A decisão do Presidente da República em reconfirmar uma coligação com este elevado nível de confiança política mútua revelou-se um desastre. O segundo resgate estava escrito nas estrelas, não era preciso tentar evitar a todo o custo uma ida às urnas que seria clarificadora - é preciso recordar que os eleitores que votaram em Passos Coelho votaram em compromissos que o primeiro-ministro violou sistematicamente. Portas dificilmente resistiria a este governo, mas escusava de ser assim.
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