Rita Tavares – jornal i
Presidente diz que apenas foi depositante, mas em 2008 admitiu ter tido acções da SLN, ainda que tenha garantido que a aplicação foi feita pelo BPN
Mais um capítulo para o longo historial de tensões na relação Soares/Cavaco. Há dois dias, o ex-Presidente da República veio questionar por que razão Cavaco Silva não era julgado no caso BPN. Ontem, o Presidente reiterou que a única relação que teve com o BPN foi de depositante. E assim voltou um dos temas que mais têm melindrado o actual chefe de Estado: afinal o que o liga ao BPN?
A sensibilidade do tema para Cavaco Silva fica evidente na forma como respondeu a Mário Soares. O antigo Presidente lançou a farpa na quarta-feira à tarde, num almoço comemorativo do 25 de Abril organizado pelo blogue Ânimo, e Cavaco Silva respondeu logo de manhã, através de um comunicado enviado à Lusa. O Presidente disse já ter dado esclarecimentos sobre esta ligação "em tempo devido". Quanto à pergunta de Mário Soares sobre o caso BPN - "Nunca ninguém julgou, todos roubaram, mas nunca julgou, como é sabido. Porque é que o Presidente da República não é julgado?" - Cavaco explicou: "Devia saber que esclareci, em devido tempo, que nunca tive qualquer relação com o BPN ou com as suas empresas, a não ser a de depositante para aplicação de poupanças, quando era professor universitário. Esqueceu mesmo o esclarecimento que, pessoalmente, lhe foi prestado."
Mas a ligação é conhecida desde 2008, ano em que rebentou o caso BPN. Em 2009, o "Expresso" noticiou que Cavaco Silva foi accionista da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), detentora do BPN, entre 2001 e 2003. O semanário publicou mesmo as ordens de venda emitidas por Cavaco, endereçadas ao presidente do banco nessa altura, José Oliveira Costa, que hoje é arguido e está sujeito a termo de identidade e residência precisamente deste caso. Cavaco Silva era então professor universitário - viria a candidatar-se à Presidência em 2005 - e vendeu a 2,4 euros as 105 378 acções adquiridas a um euro cada. Foi já como Presidente que teve de explicar: "Eu e a minha mulher, antes de eu estar nesta posição, quando éramos apenas professores, não tínhamos as nossas poupanças debaixo do colchão. Nem tão-pouco no estrangeiro. Entregámos as nossas poupanças a quatro bancos, incluindo o BPN, para as gerirem [...] Em Novembro do ano passado emiti um comunicado dizendo onde podiam ser verificadas todas as aplicações feitas pelos bancos gestores em acções do BCP, BPI, EDP, Jerónimo Martins, Brisa, SONAE e também a aplicação que um banco fez em acções da SLN." Ontem cingiu-se à condição de "depositante" no banco e nem referiu aquela que tem sido a sua defesa neste caso: que a aplicação foi feita por terceiros. E ainda enviou resposta à jogada de Soares, "um antigo Presidente da República, que, apesar de ter cessado funções há muitos anos, deve continuar a merecer o nosso respeito", disse. "Pela minha parte, tudo farei para preservar a dignidade devida à instituição Presidência da República. Por isso, de mim nunca ouvirão afirmações como as que foram proferidas pelo Dr. Mário Soares." O termo "dignidade" é sensível q.b. nesta relação. Em 1994, o primeiro-ministro Cavaco Silva, incomodado com as Presidências Abertas e a conferência "Portugal Que Futuro", organizadas pelo Presidente Soares, ripostou: "Temos de ajudar Mário Soares a acabar o mandato com dignidade." A frase marcou a política e a relação. E continua.
Leia mais em jornal i
Subvenções. Ex-presidentes da República fora dos cortes
Subvenções. Ex-presidentes da República fora dos cortes
Leia mais em Página Global
No comments:
Post a Comment