Friday, October 18, 2013

EUA: COM GOVERNO “REABERTO”, OBAMA PEDE FIM DE POLÍTICA DE ALTO RISCO

 

Deutsche Welle
 
Impasse orçamentário levou EUA à beira do abismo, custou 24 bilhões de dólares e ainda pode ter sequelas. Acordos que encerraram impassse se esgotam no início de 2014, e não se descarta uma nova crise.
 
Discursando em Washington nesta quinta-feira (17/10), o presidente Barack Obama instou os políticos americanos, em pé de guerra no Congresso, a se unirem e aprovarem um orçamento de longo prazo. Ele pediu que abandonem a "política de alto risco", que, em suas palavras, minou a confiança do povo e ameaça a economia.
 
Após a aprovação no Senado do novo teto da dívida para o país, na véspera, John Boehner, porta-voz dos republicanos na Câmara dos Representantes, mostrou-se bom perdedor, ao declarar: "Lutamos uma boa batalha, mas não a vencemos."
 
O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, manifestou-se de forma mais solene e apresentou o consenso como uma vitória da democracia. "Hoje, vimos como o Congresso chegou a um acordo histórico, suprapartidário, para tornar o governo novamente operante e evitar a insolvência desta nação."
 
Segundo Marc Goldwein, economista da organização independente Comitê para um Orçamento Estatal Responsável, "não há vencedores, só perdedores" nessa confrontação. "Ainda assim, por sorte encontramos um meio de colocar nosso governo de novo em ação. Isso certamente fará bem à nossa economia."
 
Prazo até fevereiro
 
O consenso no Congresso prevê a elevação do limite de endividamento, mantendo os EUA solventes pelo menos até 7 de fevereiro de 2014. Será aprovado um orçamento de transição, válido até 15 de janeiro. Assim, a administração paralisada quase totalmente há mais de duas semanas pôde, nesta quinta-feira, começar a retomar suas atividades.
 
Além disso, uma comissão suprapartidária ficará encarregada de, até meados de dezembro, apresentar propostas para a redução da dívida pública. Segundo Goldwein, mesmo depois do acordo no Congresso, vários problemas de curto e longo prazo permanecem sem solução.
 
"Temos uma série de programas de saúde e de aposentadoria cujo volume cresce mais rápido do que a receita fiscal consegue compensar. Ou reduzimos o volume dos programas, ou recolhemos mais impostos –ou uma combinação de ambos", afirma.
 
Crise dispensável
 
Mesmo tratando-se apenas de uma solução provisória, o consenso proporcionou grande alívio nos Estados Unidos. Na Bolsa de Nova York houve aplausos de pé, e o "showdown do shutdown" do governo foi tema por toda parte.
 
"Agora, enfim, vou poder novamente ocupar os meus quartos", alegrou-se um hoteleiro de Washington, cuja clientela é formada, sobretudo, por lobistas e visitantes do governo, os quais se ausentaram totalmente da capital nas últimas duas semanas.
 
No entanto, a coisa não precisava ter chegado tão longe, de modo algum, criticavam observadores políticos na noite de quarta-feira. Michael Werz, do think-tank Center for American Progress, diz que as semanas de suspense em torno da eventual insolvência do país abalaram fortemente a confiança na economia americana e no dólar como divisa internacional de reserva.
 
"Quando uma coisa dessas acontece uma vez, ainda se pode desculpar. Mas fomos colocados nessa situação pelos linhas-duras republicanos pela segunda vez, em 24 meses", comenta Werz. "Pouco a pouco isso vira um hábito e, naturalmente, também abala a confiança nos Estados Unidos como potência política e econômica."
 
Rixa de custos bilionários
 
Em seu discurso em Washington, o chefe de Estado americano confirmou que o "espetáculo" do impasse orçamentário prejudicou a credibilidade do país em todo o mundo. No entanto, o dano não é apenas psicológico: economistas calculam que as duas semanas de paralisação administrativa do Estado custaram concretamente aos cofres públicos cerca de 24 bilhões de dólares.
 
Cabe esclarecer que danos financeiros o fiasco ainda acarretará, até porque o acordo alcançado não é duradouro. A próxima crise orçamentária poderá estourar assim que o prazo da medida provisória se esgotar, no início do próximo ano.
 
"Quem acompanhou o debate no Senado, viu que todos ficaram assustados com a proximidade a que estivemos desse abismo. O governo dos EUA ouviu, tanto dos parceiros e aliados quanto de seus adversários políticos, que essa era uma forma irresponsável de governar o país. E acho que a mensagem chegou", diz Werz.
 
Por outro lado, ainda há numerosas incertezas políticas. O voto a favor da elevação do limite de endividamento, sem cortes na reforma da saúde, foi uma dura derrota para os republicanos no Congresso – e ainda precisa ser digerida.
 
"Obamacare" na mira de conservadores
 
O movimento Tea Party era quem mais exigia alterações decisivas na reforma da saúde impulsionada por Obama. Os conservadores populistas pretendiam se aproveitar da disputa em torno do orçamento e da dívida, para comprometer seriamente o objeto de prestígio do democrata.
 
Segundo se comentou em Washington, um núcleo mais radical do Tea Party estava até disposto a deixar o barco afundar na quarta-feira, na luta incondicional contra o assim chamado "Obamacare". O deputado texano ultraconservador Ted Cruz manifestou-se decepcionado com a aprovação no Congresso: mais uma vez, afirmou, a Washington bem estabelecida se impôs.
 
Muitos acham, porém, que nas próximas semanas os republicanos terão motivos suficientes para se ocupar consigo mesmos. "No espaço de umas poucas semanas, o porta-voz conservador deles, Boehner, foi várias vezes exposto e debilitado politicamente por um grupo pequeno, extremo e conservador em seu partido", opina Werz. "Agora será interessante observar como as duas facções – ou seja, os republicanos conservadores e os moderados – vão entrar num entendimento dentro do 'Grand Old Party'. "
 
Autoria: Antje Passenheim (av) – Edição: Rafael Plaisant
 

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