Os textos que se seguem são parte integrante do semanário angolano Folha 8 na sua última edição em 12 de outubro, que temos vindo a publicar na disponibilidade possível. A abordagem que visamos relaciona-se com as declarações de Cavaco Silva, ontem, chegadas a Portugal. Cavaco (junto com Passos Coelho) está na América Latina na Cimeira Ibero-Americana, que se realiza no Panamá.
Foi evidente que aquele presidente da República Portuguesa encaixa perfeitamente na expressão “mais papista que o Papa” (mais ditador que o ditador) quando pretende proceder a uma lavagem do regime ditatorial angolano desde há mais de trinta anos, referindo simplesmente que Angola é um país democrático, que foi a eleições e tem orgãos legítimos manifestados pela vontade do povo angolano (TSF). Mas os mais de trinta anos de ditadura declarada, sem eleições presidenciais - e legislativas (menos anos) – nada contam para Cavaco. Nem a atualidade de democracia de faz-de-conta vigente em Angola (que Portugal vai procurando imitar).
Nem contam as muitíssimas dúvidas e incidentes ocorridos e referidos pela comunidade internacional observadora sobre o modo como decorreram as eleições presidenciais (por exemplo). E não contam também prisões de jornalistas, assassinatos de opositores, nem desaparecimentos, nem a repressão e violência policial-presidencial-governamental – para não lhe chamarmos terrorismo de estado. Nada conta para Cavaco sobre isso e muito mais que é adverso aos regimes democráticos. O que significa que Cavaco indicia que tem inveja de Eduardo dos Santos e do seu regime. Razão plausivel (e por cifrões sujos ou não) porque um PR de país europeu dito democrático defende regime angolano - mascarado de democracia - como qualquer ditador. Os angolanos (ou os portugueses) que se lixem. Quem nos dera que assim não acontecesse.
Seguem-se as “caixas” do Folha 8 com opiniões diversas sobre a “novela” Rui Machete em Angola e os seus armários a transbordar de esqueletos. (Redação PG – CT)
“PORTUGAL VAI PERDER COM ATITUDE DE SUBSERVIÊNCIA FACE AO PODER DE ANGOLA”
O professor de Economia na Universidade Católica de Luanda e líder do Bloco Democrático Justino Pinto de Andrade disse que as declarações de Rui Machete deram “uma má imagem de Portugal” em Angola.
No quadro das relações entre Portugal e Angola, presente e futuro não podem ser encarados da mesma forma. Se, no presente, Portugal pode ganhar com uma cumplicidade com Angola, no futuro o mais certo é vir a “perder”. “As elites políticas” de Lisboa no relacionamento com o poder em Luanda passam a linha da cumplicidade para o campo da “subserviência”. Para ele as declarações do ministro Rui Machete dão “uma má imagem” de Portugal em Angola. Algo que vem na sequência de comportamentos anteriores e que, ao contrário do que podem pensar os políticos portugueses, “não ajuda a fomentar as relações entre os dois países”.
A cumplicidade entre Portugal e Angola pode trazer “um maior fluxo” de comércio e investimentos, mas “só no curto prazo”, considerou o analista. “Se olhar para o futuro, Portugal vai perder muito. As autoridades angolanas não respeitam quem se põe de joelhos. É uma forma muito negativa de relacionamento.” Esta posição “é muito má para a imagem de Portugal”, considerou ao Público Justino Pinto de Andrade. “As pessoas pensam que ficando de joelhos fomentam as relações entre os dois países”. “É o contrário.” As investigações abertas em Portugal são referentes a suspeitas de actos em território português, nota Justino Pinto de Andrade. A “promiscuidade entre a Justiça e a política” em Angola impede “o apuramento” das suspeitas de “actos ilícitos que envolvem entidades angolanas”, realça. “Se os actos ilícitos que envolvem as entidades angolanas em território português fossem investigados, nós em Angola teríamos melhor forma de pressionar os políticos corruptos”.
MACHETE RECUSOU RESPONDER SOBRE DIREITOS HUMANOS EM ANGOLA
A deputada do Bloco de Esquerda Helena Pinto considera que a situação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, está “sem retorno e sem saída”, no caso da entrevista a RNA. “O problema reside nas funções que desempenha, um ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros não fala por si próprio nem faz interpretações pessoais e políticas quando fala aos microfones de uma estação estrangeira”, afirmou. Ainda durante a interpelação, a deputada de Esquerda, quis saber qual será a posição da diplomacia portuguesa na próxima cimeira bilateral face às violações dos direitos humanos em Angola.
Após o silêncio de Machete em relação à posição que Portugal iria defender na próxima cimeira com Angola no que respeita aos direitos humanos, Helena Pinto voltou a questioná-lo sobre o assunto, porque “todos sabemos o que é que se passa em Angola e não podemos fechar os olhos”, concluiu.
LAMENTÁVEL EXERCÍCIO DE SUBSERVIÊNCIA
O “pedido de desculpas” que o ministro dos Negócios Estrangeiros português efectuou à Rádio Nacional de Angola não foi um pedido de desculpas ao povo de Angola, ao contrário do que diz Rui Machete, mas um lamentável exercício de subserviência perante a elite do MPLA que trata Angola como sua propriedade privada.
Diz o ministro que tal “pedido de desculpas” teve como objectivo contribuir para o “apaziguamento na relação entre os dois países”. Para justificar o injustificável inventou um problema inexistente. Não existe nenhum problema nas relações entre os dois países e muito menos entre os dois povos.
As declarações do ministro envergonham os portugueses. São um pedido de desculpas, isso sim, por Portugal ser uma democracia onde é a Justiça, e não o Governo, que decide as investigações judiciais.
A economia portuguesa está a viver momentos complicados, muitos dos quais criados ou agravados pelo atual Governo, mas nada permite (a começar pela dignidade) que se estenda uma passadeira vermelha para qualquer tipo de investimento, incluindo o que tem a ver com branqueamento de dinheiro ou resulta da corrupção e pilhagem dos recursos de outros países.
João Semedo - dirigente do Bloco de Esquerda
Inserido em "caixas" no título “QUEIROZMATOZOIDE”DO DISCRIMINATÓRIO JORNAL DE ANGOLA DEFENDE MACHETE", em Folha 8 – edição 12 outubro 2013 – já publicado em Página Global
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