Monday, September 2, 2013

COELHO TRANSFORMA-SE EM PORCO

 

António Fernando Nabais - Aventar
 
Os animais nunca deixaram de falar. Na verdade, estou ansioso por ouvir uma história que comece por “No tempo em que os animais se calaram…”, porque já falaram muito mais do que deviam.
 
Devo dizer que gosto muito de animais, porque, como se costuma dizer nas revistas femininas, se eu não gostar de mim, quem gostará? Para além disso, tenho por eles um enorme respeito e é por isso que acredito que não devem estar fechados em jaulas ou dirigir governos de países: enjaulados, são infelizes; governando, atacam os seres humanos.
 
Nem sempre é fácil distinguir onde começa o animal e acaba o homem, mas este, tal como o imagino, não se rege pela lei da selva e procura viver numa sociedade em que os mais fracos são protegidos. Infelizmente, quando o homem é um animal político, revela uma triste tendência para confirmar Plauto, quando dizia que o “homem é lobo do homem”. Justiça seja feita a José Sócrates, que admitiu ser um animal feroz.
 
Por esta altura do ano, em Castelo de Vide, há como que uma transumância que junta jovens animais políticos. O objectivo é aprender a caçar com os mais velhos.
 
Poiares, por exemplo, revelou-se um predador maduro e explicou que é preciso roer os ossos dos pensionistas. Os jovens laranjinhas estarão, agora, preparados para perpetuar a espécie, continuando a contribuir para a extinção dos mais fracos, necessária ao sucesso da alcateia.
 
Já antes tinha feito referência ao carácter enganador do apelido do primeiro-ministro. Depois do que disse em Castelo de Vide, percebi que a mutação de Coelho é mais grave: quem quer ser lobo tem de vestir a pele de porco.
 
Não estou a recorrer à metáfora, que o dicionário é suficiente: de acordo com uma das acepções, porco é aquele “tem comportamento considerado obsceno ou sem pudor”. Poderá haver homem mais despudorado do que aquele que, depois de faltar ao que prometeu e depois de reincidir no incumprimento da lei, culpa os juízes ou finge preocupar-se com o desemprego que, afinal, ajudou a criar? Na selva de que o lobo nunca saiu e na pocilga em que chafurda o porco, o juiz é uma excrescência, porque faz lembrar demasiado as conquistas da humanidade e é sabido que os animais têm medo dos homens.
 
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