Saturday, October 12, 2013

JORNAL DE ANGOLA RENOVA CRÍTICAS E QUESTIONA PAPEL DE PORTUGAL NA CPLP

 

Carlos Santos Neves, RTP
 
Das investigações a figuras do empresariado angolano ao estatuto da diplomacia de Lisboa na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com passagem pelo estado das relações bilaterais, o Jornal de Angola devotou este sábado mais um editorial a Portugal, um país, escreve aquele diário estatal, que enquanto “protectorado” da troika “está pior do que a Guiné-Bissau”. No mesmo texto, a publicação acentua acusações anteriores ao Ministério Público português, ao apontar o dedo a “magistrados” que “despudoradamente vão para a cama com jornalistas avençados”.
 
“Clarificação necessária” é o título do último editorial do Jornal de Angola sobre Portugal. No texto, o diário do regime de José Eduardo dos Santos invoca “alguns percalços” nas relações entre os dois países. Para fazer a apologia de “uma clarificação”. Tudo para que “não restem dúvidas quanto às boas intenções de parte a parte”.

“Em Angola existe uma inequívoca separação de poderes. Nunca os órgãos de soberania se atropelam ou tentaram intromissões abusivas. Se há um ponto onde a democracia angolana tem robustez, é no Poder Judicial”, escreve a publicação. Um ponto de partida para mais uma diatribe endereçada ao Ministério Público português: “Nesse aspecto, não recebemos lições de ninguém e muito menos de Portugal, onde todos os agentes políticos proclamam a separação de poderes mas aparentemente não estão preocupados que o Ministério Público tenha ligações perigosas com a comunicação social”.
 
“Infelizmente, temos exemplos de sobra que atestam esta realidade. O Ministério Público em Portugal é independente, faz gala da sua independência, mas depois alimenta manchetes na imprensa portuguesa que apenas visam julgamentos populares na praça pública, cujas vítimas inocentes são titulares dos nossos órgãos de soberania. Investiguem quem quiserem. Mas não violem o Segredo de Justiça para assassinarem a honra de altas figuras do Estado Angolano”, insiste-se no editorial, reproduzido na edição online do Jornal de Angola.

Adiante no texto, o jornal retoma a tese de que “os angolanos não querem ter em Portugal um estatuto especial”, apesar da existência de “laços afectivos profundos”. “Mas exigem respeito”, acrescenta.

“Nenhum democrata ousa pôr em causa a separação de poderes. Mas todos os democratas têm o dever de criticar magistrados judiciais e do Ministério Público que despudoradamente vão para a cama com jornalistas avençados e qua atuam na lógica das associações de malfeitores”, carrega o diário.

“Pior do que a Guiné-Bissau”

Na passada quinta-feira, num texto assinado por Carlos Pombares, com o título “O pedido de desculpas de Rui Machete”, o Jornal de Angola referia-se a Portugal como “um país muito pobre” que se “arreganha” face às antigas colónias como “um arauto dos valores da democracia europeia”.
 
O mesmo articulista aludia então às declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros à Rádio Nacional de Angola sobre as investigações a angolanos em Portugal, reprovando “determinados políticos e muitas outras figuras públicas portuguesas” que “verberaram irracionalmente contra o pedido de desculpas apresentado por um governante português a Angola”: “O sofisma da humilhação que eles sentem naquelas palavras relativamente ao Povo Angolano”.

Desta feita, o Jornal de Angola vai ao ponto de questionar a “capacidade” de Portugal para continuar a desempenhar “um papel fundamental na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa”. E socorre-se, para tal, de declarações de Paulo Portas: “Portugal, segundo o senhor vice-primeiro-ministro do Governo português, é um protectorado. Lamentamos profundamente esta situação, mas pouco podemos fazer. E se pudéssemos, provavelmente as forças políticas portuguesas não aceitavam qualquer tipo de ajuda”.

Conclui aquele jornal que, se Portugal “está reduzido a um protectorado, como afirma o senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas e muitos outros políticos portugueses, não tem capacidade para assumir as suas responsabilidades na comunidade dos países que falam a Língua Portuguesa”.

“Está pior do que a Guiné-Bissau, apesar de tudo um Estado soberano”, estima a publicação.
 
Foto: Siphiwe Sibeko, Reuters
 

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