Thursday, May 30, 2013

Portugal: OS DESPEDIMENTOS SELVAGENS NO ESTADO

 

Ana Sá Lopes – Jornal i, opinião
 
O governo acabou de dizer aos funcionários públicos: “You’re fired”
 
Há 15 dias, o Ministério das Finanças gastou o precioso tempo de um funcionário seu a desmentir o que era indesmentível: o governo ia avançar para despedimentos na função pública. Nós já sabíamos que a palavra das Finanças não vale um chavo, mas foi clamorosamente ridículo que tenha saído do ministério um comunicado que desmentia que “o secretário de Estado Hélder Rosalino tenha admitido a possibilidade de haver despedimentos na função pública”, “nem explícita nem implicitamente”. Mais uma vez, a enésima, o governo garantia não ter a intenção de promover despedimentos na função pública. Esta semana, tudo se clarificou: o governo vai avançar com despedimentos na função pública, com a particularidade de serem do tipo selvagem – do género que se vê nos filmes americanos. Neste momento, a cada funcionário público, o governo chega e diz: “You’re fired.”
 
A coisa vai passar-se assim: o governo decide que determinadas pessoas estão a mais no Estado e envia-os para um purgatório que, até agora, se chamava “mobilidade especial” e não foi inventado por Passos Coelho, mas sim por José Sócrates. Alegadamente, a “mobilidade especial” serviria para recolocar os quadros dos serviços que foram extintos noutras zonas do Estado. Mas o governo tem, em primeiro lugar, os seus boys a sustentar – é sempre melhor mandar desconhecidos para o desemprego do que os velhos amigos da JSD. No regime de mobilidade, os quadros do Estado eram enviados para uma terra de ninguém, com o ordenado a ser reduzido aos poucos. A situação já era miserável, passa a ser obscena: ao fim de um ano na mobilidade – que o governo rebaptizou de “regime de qualificação” para enganar os tolos, porque não quer requalificação nenhuma, apenas livrar-se de funcionários públicos –, põe-os na rua. Há uma indemnizaçãozinha, que vai diminuindo conforme a idade do funcionário em causa – ou seja, à medida que as hipóteses de encontrar emprego sejam menores, o funcionário vê a sua indemnização por anos de serviço ser proporcionalmente reduzida. Há dois anos, num debate parlamentar, Passos Coelho dizia: “Nós não vamos pôr funcionários públicos na rua.” A intenção de despedir “não está escrita, não está nas intenções e não se realizará” e “ninguém vai fazer despedimentos na função pública”. Há 15 dias, o Ministério das Finanças dizia o mesmo. Os despedimentos selvagens estão aí, para destruir vidas e procura interna. Isto vai acabar mal, não sabemos é quando.
 

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