Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Está decidido. Rui Machete vai manter-se ministro de Estado, mesmo depois de todas as polémicas mal explicadas. Está decidido porque o primeiro-ministro assim decidiu e só ele pode decidir.
Machete escreveu que não tinha sido acionista da SLN e afinal foi. Machete pediu desculpa a Angola por a justiça portuguesa funcionar e não devia ter pedido. Machete disse aos angolanos que tinha pedido informações à Procuradoria e que as tinha recebido e disse-nos a nós que não as tinha pedido e não as tinha recebido.
Não, não estou a fazer uma perseguição política a Rui Machete, estou a fazer um relato de factos que considero importantes e graves, mas já percebi que o povo português não valoriza estes factos, porque tem muito mais em que pensar. Sigamos em frente com votos de que o senhor ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros possa fazer o melhor por Portugal.
Em Angola ficaram muito chateados por em Portugal se ter criado um coro de críticas à actuação do ministro, como se o que nos incomoda fosse o pedido de desculpas a Angola. Não é. Por mim teria aplaudido de pé o ministro Rui Machete se ele pedisse as devidas desculpas aos angolanos por coisas que merecem um pedido de desculpas.
Vamos começar pela questão da investigação a altas figuras do Estado angolano. Portugal deve um pedido de desculpas a essas pessoas porque a habitual fuga de informação, com quebra do segredo de justiça, prejudicou de forma irremediável a sua honorabilidade. Mas não vale a pena ficar a pensar que isto tem que ver com o facto de eles serem angolanos, porque acontece quase todos os dias com cidadãos portugueses. É lamentável, é grave, mas acontece porque quem investiga é forte a castigar com a mão escondida e fraco a dar cara e a produzir prova nos tribunais.
Finalmente, um país que se mostra tão orgulhoso da sua história, como Portugal, deve um pedido de desculpas formal ao povo angolano pelos séculos de colonização e pelas atrocidades cometidas durante esse período. E deve igualmente um pedido de desculpas aos seus próprios cidadãos, expatriados e retornados, a quem tratou como se fossem alegados criminosos. Mas, mesmo que este pedido de desculpas não chegue, é tempo de perceber que o passado colonial não deve ser a marca determinante nas relações Estado a Estado.
Dito isto, e tendo em conta tudo o que tem sido escrito pelo Jornal de Angola, era bom que todos percebêssemos que nem os portugueses têm de dar lições de moral aos angolanos, nem eles a nós. Cada um sabe como gere a sua vida. É esse o princípio da soberania. Isso não deve impedir que, de um lado e do outro, haja liberdade de opinião para criticar os defeitos de cada um dos regimes.
(Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico)
Leia mais opinião em DN
No comments:
Post a Comment