Monday, May 27, 2013

Brasil: BOLSA FAMÍLIA, O BOATO, A CARÊNCIA, O DESESPERO




Difícil compreender como um boato a respeito do programa Bolsa Família tenha se estendido simultaneamente, num final de semana, a sete estados do país e gerado tumulto e até depredações. Não pode ter sido obra do acaso, de uma informação divulgada em um bairro. Neste caso uma cidade poderia ter sido o foco. Mas não. Foram várias cidades em várias unidades da Federação. A questão tem várias faces. Como a informação foi difundida, qual a sua origem que foi ampla, e a situação de carência que conduziu à exaltação e ao desespero. Um mistério, o fato de, sábado e domingo, quando se encontram fechadas agências da Caixa Econômica Federal terem sido invadidas. Com as casas lotéricas poderia ocorrer, no sábado, quando funcionam. Mas não no domingo.

Presume-se que, diante da veiculação e da força do boato, apesar de logo desmentido pelo governo, a CEF tenha mobilizado funcionários para explicar o equívoco e acalmar a multidão. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, determinou abertura de inquérito pela Polícia Federal para apurar as responsabilidades e identificar os responsáveis pela geração do tumulto cujas consequências poderiam ter se tornado imprevisíveis. A investigação não deve ser difícil em face de a ação ter sido simultânea. Mas este ângulo não esgota a força potencial que envolve o problema.

Ele tem origem na extrema carência de uma parte considerável da população que conduziu a uma situação de desespero. Que, por seu turno, teve origem no medo da perda anunciada. O programa Bolsa Família é irreversível. São muito poucos os casos, como O Globo e a Folha de São Paulo publicaram há poucas semanas, de famílias terem decidido não mais receber porque pessoas que as integram terem conseguido emprego. É normal que seja assim.

IRREVERSÍVEL

O Bolsa Família é o tipo do programa social de injeção direta de renda que, uma vez iniciado, torna-se irreversível. Não deveria ser. Mas é. Inclusive a redução do índice de desemprego, atualmente segundo o IBGE, na faixa de 5,7%, não resolve. Porque é preciso levar em conta que, em inúmeros casos, para uma pessoa que recupera sua presença no mercado de trabalho, aparece uma outra que perdeu a colocação.

A estatística não é afetada, daí porque as análises dos números são indispensáveis, mas a carência igualmente as mantêm. Pessoas se revezam, os percentuais não. São frios. E sempre necessário pesquisar mais a fundo o quadro social do país.

Afinal, como o próprio IBGE já informou, praticamente metade de mão de obra ativa (metade de toda a população) ganha por mês de 1 a 2 salários mínimos. E é preciso considerar paralelamente que a composição familiar não se mantém absolutamente estável como as estatísticas induzem. Nada disso. Elas se formam e se dispersam com relativa intensidade, o que, nos grupos de renda menor, afeta o salário médio por família. Não é fácil analisar-se todos os ângulos do panorama social brasileiro. Ele é bastante múltiplo, acentuado igualmente pela proliferação de favelas como se observa na cidade do Rio de Janeiro.

A ansiedade peculiar à carência conduziu ao desespero no sábado e domingo. É fato. Mas a injeção do boato na comunicação coletiva, sem a televisão e o rádio, não foi obra do acaso. A verdade deve aparecer. Inclusive para que fenômenos semelhantes não se repitam.

Artigo publicado no site Tribuna da Internet

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