Monday, May 13, 2013

Portugal: EPITÁFIO, PRECISA-SE




Tomás Vasques – Jornal i, opinião

O aumento do desemprego continua a sua marcha imparável, dizem as estatísticas, e não cobrem a totalidade das situações. Desde que este governo tomou posse, quase meio milhão de portugueses perderam o seu trabalho. Para a dupla que nos pastoreia, Vítor Gaspar e Passos Coelho, “desemprego” é apenas uma palavra hipocritamente usada no discurso político ou uma insensível variável numa folha de cálculo – um amontoado de números no “complexo processo de ajustamento”. No dia-a-dia de centenas de milhares de portugueses, mais do que a humilhação e a afronta de não ter trabalho, representa o sofrimento, quase sempre em silêncio, da miséria onde nunca antes pensaram cair. Rendas ou prestações de casa que não se conseguem pagar – moradas de família de onde, mais tarde ou mais cedo, serão despejados, enxotados para casa de familiares, quartos alugados ou barracas; alimentos ou medicamentos que não se podem adquirir; transportes ou electricidade que se tornaram bens quase inacessíveis; a educação dos filhos feita miragem, a dignidade amarrotada e atirada ao lixo e a infelicidade como horizonte de muitas vidas. Uma morte lenta que, nos próximos anos, crescerá e atingirá inevitavelmente muitos mais portugueses. Mas o drama não acaba nos desempregados. Alcança a maioria dos portugueses, trabalhadores com salários cada vez mais baixos e impostos cada vez mais altos ou reformados e pensionistas alvos de um Estado predador. Este é o caminho que está traçado aos países debaixo da mira alemã, entre os quais Portugal se inclui, se esta podridão política, financeira e económica em que a Europa se atola se mantiver.


Enquanto tudo isto se passa, irremediavelmente, assistimos a um autêntico bacanal – um festim de despudor e engodo, uma orgia de hipocrisia política dos membros do governo e dos dirigentes dos partidos que o sustentam. Vítor Gaspar, o “ministro das finanças da troika”, o emblema do empobrecimento do país, tem o desplante de ir a Bruxelas falar na importância dos “direitos sociais”. Por sua vez, o ministro Poiares Maduro, em Florença, fala da “insustentabilidade social e política” dos custos da austeridade impostas por Berlim. Dias antes, Paulo Portas, na qualidade de dirigente do CDS--PP, tinha rejeitado a “TSU dos pensionistas” que o governo, onde é ministro de Estado, se prepara para aprovar. O lunático ministro Santos Pereira anda, em peregrinação, por “partidos e parceiros sociais” a vender banha da cobra sob a fórmula de “crescimento e fomento industrial”. Tudo isto, quando o governo, reunido em conselho de ministros, no momento em que escrevo, se prepara para aprovar um plano sem precedentes de austeridade e de despedimento de milhares e milhares de funcionários públicos, cujas consequências são, exactamente, o empobrecimento, a destruição da economia e de direitos sociais e a insustentabilidade social e política do regime. Mas, durante a semana, este deboche não se ficou por aqui.  Carlos Abreu Amorim, vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e candidato à câmara de Gaia, disse que “o tempo político de Vítor Gaspar terminou”, considerando que as políticas do governo até agora, que ele, Amorim, aprovou no parlamento, enfermam de uma “visão tecnocrática afunilada”, opinião corroborada por Marques Mendes, a picareta falante do PSD, que já atribuiu, com ar sério e sem a mínima noção do ridículo, em comentário televisivo, o cargo de comissário europeu ao excelentíssimo ministro das Finanças. Entretanto, Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD já veio pedir explicações a Carlos Abreu Amorim, dizendo que tais declarações são “do ponto de vista dos princípios, inaceitáveis”. Não se percebe a que princípios se refere, mas regista-se a esquizofrenia, em regime de internamento, a que este governo e esta maioria chegaram.

Em Belém, o Presidente participa neste bacanal que corrói Portugal, enquanto nação, e destrói a dignidade dos portugueses, enquanto povo. É preciso, rapidamente, inscrever numa lápide: aqui jaz um Presidente, um governo, uma maioria.

Jurista, escreve à segunda-feira

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