Sunday, May 26, 2013

Portugal: NÃO PAGAR O QUE NÃO SE DEVE



Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião

Na semana passada foi tornado público um estudo da Eurosondagem em que se revela que apenas 10% dos inquiridos concordam com a aplicação do programa da troika. Mas este não é o único dado surpreendente. Entre renegociar e rasgar o Memorando, as opiniões dividem-se, com uma curta vantagem para a segunda opção.

Numa versão simplista de quem papagueia a governação, estamos perante um país de aldrabões que não gostam de pagar as contas. Contudo, parece-me irreversível que a rejeição da troika, e de qualquer governo que a represente, tenderá a aumentar cada vez que se conheça melhor o teor da dívida pública ou dos juros a que o país está sujeito. Em boa verdade, a única opção séria e racional que consigo colocar é a diferenciação entre dívida legítima e ilegítima, a rejeição liminar de juros especulativos e o início da responsabilização financeira das instituições e governantes que lucraram com a progressiva destruição da economia e do tecido produtivo.

Sempre rejeitei a tese desresponsabilizadora de que o governo e a troika andarão alheados da realidade. Mais: a história recente das últimas décadas devia-nos fazer ver de uma forma mais clara que os tempos que vivemos em Portugal são tempos extraordinários para a acumulação de capital, a par da destruição de direitos, liberdades e garantias conquistados ao longo de décadas – e um obstáculo a esses processos de acumulação.

O Conselho de Estado foi mais um decrépito número, personificado pelos homens do poder das últimas décadas, que expressa a imagem de uma democracia que se vai esgotando, pela mão de uma maioria, um governo e um Presidente que bailam sobre o cadáver do seu povo e aldrabam até o mais miserável relato de uma reunião.

Escreve ao sábado

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