Saturday, May 4, 2013

O DIA DO ESCRAVO




José Goulão – Jornal de Angola, opinião - 3 de Maio, 2013

Para a comunidade não eleita que governa a União Europeia em regime de ditadura económica e financeira, o 1º de Maio deixou de ser o dia do trabalhador, nem sequer daquela versão insidiosa e mansa que é a de “colaborador”, mas sim o dia do escravo.

Não vale a pena andar às voltas, é assim que eles nos olham por muito que queiram convencer-nos – e alguns até a eles próprios, pobres deles – que não é assim, tratam apenas do bem comum.

Claro, há milhões que saem às ruas em todo o mundo, na Europa também, proclamando as suas razões, fazendo-se ouvir, protestando de viva voz e a plenos pulmões. Dir-se-á então que a democracia funciona, os cidadãos exercem os seus direitos, apresentam as suas reivindicações.

E durante? E depois, o que acontece? Durante, o exército silencioso e macabro dos novos bufos, capazes de achincalhar a capacidade de antevisão de Orwell, rastreiam até as formigas para encherem com os nossos rostos, palavras e gestos gavetas electrónicas sem fundo de um estratosférico ficheiro global, porque se somos cidadãos, e nos assumimos como tal, somos portanto potenciais terroristas, inimigos do mercado, competindo-nos depois provar o contrário. A doutrina da presumível inocência explica-se de uma maneira e pratica-se de outra.

Durante e depois dos protestos a comunidade governante não eleita continua a reunir-se, a decidir, a mandar, a ignorar o que se passa, sabendo nós que quando ela trabalha, até no dia ainda oficialmente designado “do trabalhador”, é para cometer malfeitorias contra os trabalhadores. Por absurdo, admitamos que o regime governante não é uma ditadura económica e financeira para imposição de modernas formas de escravatura.

E que um dia a austeridade desabrocha em crescimento económico ainda que na forma dolorosa de figos da Índia. O êxito dever-se-á, explicarão os nossos governantes, ao triunfo da competitividade.

E o que é a competitividade, meus amigos? Pôr-nos a produzir em todo o mundo aos custos mais baixos que ainda subsistem em algum lugar do planeta, ou mesmo mais reduzidos.

Competitividade é a arte de fazer os nossos salários e direitos tenderem para zero à custa do nivelamento da actividade laboral por tudo quanto de mais reles e desumano existe. À custa, também, de nivelar os países onde ainda resiste um Estado social por aqueles onde foi extinto ou jamais existiu.

Podem chamar o que quiserem a esta situação, mas não encontrarão vocábulo mais adequado do que “escravatura”.

Não podemos retirar razão ao ministro português Gaspar quando, do alto da sua impunidade, diz que não foi eleito “por coisíssima nenhuma”.

Ele está mesmo convencido disso e a realidade envolvente não o desmente. A União Europeia e os países membros não são governados em democracia, essa é a verdade.

Por isso, no 1º de Maio a luta dos trabalhadores foi pela restauração da democracia. Como em Portugal há 39 anos e antes disso. A comunidade governante e não eleita da União Europeia tem que sentir que além de não ser impune também é punível.

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