Sunday, May 19, 2013

Portugal: O “PÓS-TROIKA”




Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

O pós-troika (falta um ano), num país a sério, é levado a sério e, por isso, o Conselho de Estado convocado por Cavaco Silva é muito importante, mas o que este toca-a-reunir parece mostrar é que o compromisso de Passos e Portas só tem validade até Junho do próximo ano. E isto causa preocupação em Belém. Na verdade, o rigor das contas e a austeridade são obrigatoriamente para manter, mas a estabilidade política ameaça desaparecer a qualquer instante.

Nesse país a sério, as pessoas não aceitam que um milhão não tenha trabalho e menos ainda aceitam que quase meio milhão de desempregados não receba qualquer tipo de subsídio. Por isso, era importante que os políticos de uma forma geral estivessem totalmente focados nesse problema que se agravou com a intervenção datroika.

O pós-troika não está nas mãos do Divino, mas o dia de amanhã, dia em que Cavaco reúne os seus conselheiros, pode ser determinante. Basta para isso que os membros do Governo fiquem a perceber que não podem gastar o seu poder de comunicação a dirimir estados de alma dentro da coligação, porque o que importa é mobilizar a sociedade para fazer um caminho que nos tire da crise. E que os senhores da Oposição, que querem conquistar o poder prometendo tudo a toda a gente, deixem de contribuir para o desgaste desse mesmo poder.

Num país a sério, os credores impõem condições para emprestar mais dinheiro mas não ultrapassam os limites, dizendo-nos a que horas temos de trabalhar, a que horas podemos descansar e a que horas devemos comer. Nesse país, que não é o nosso, toda a gente sabe que a melhor maneira de resolver os problemas pessoais é contribuir para a solução do problema colectivo. E, nesse país, que não parece ser o nosso, os partidos do arco da governabilidade estão juntos a pôr os pés à parede, explicando aos senhores da troika que nós não capitulamos. Lutamos até ao fim.

No pós-troika de um país a sério é a verdade que conta. E a verdade, que assume diferentes tonalidades dependendo do ângulo de onde a procuramos, deve obrigar-nos a debater as causas do mal de que padecemos e a procurar as terapias que podemos aplicar, garantindo que não tendo morrido da doença não morremos da cura.

A verdade é que não geramos receitas suficientes para pagar todos os direitos adquiridos e, por isso, temos de decidir o que queremos pagar. A verdade é que a distribuição de riqueza continua a gerar flagrantes injustiças e, por isso, temos de elevar o debate para construir uma sociedade mais justa e solidária.

Para mal de todos os nossos pecados, agora e no pós-troika, os políticos vão continuar a dizer-nos aquilo que queremos ouvir, porque sabem que lidamos muito mal com a verdade.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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