Tuesday, April 30, 2013

Portugal: GASPAR O PROVOCADOR




Eduardo Oliveira Silva - Jornal i, opinião - editorial

Durante o dia de hoje devem definir-se aspectos concretos do plano do governo para os cortes estruturais e também os que estão devem substituir--se às medidas vetadas pelo Tribunal Constitucional. É, porém, de esperar que os aspectos concretos das duas matérias continuem no segredo da veneranda presidência do conselho.

A primeira das matérias tem de ser vertida para o Documento de Estratégia Orçamental, que se estende deste ano até 2017. Hoje é a data-limite para se conhecerem os termos genéricos do documento. É nele que estão inseridos os célebres 4 mil milhões de cortes estruturais. O segundo é, pura e simplesmente, o Orçamento Rectificativo, que tem de ser apresentado este mês e pressupõe medidas imediatas.

Admitindo que os assuntos sejam mesmo despachados hoje sem mais dramas, cenas e ranger de dentes; esperando que impere um bom senso que permita que as medidas não sejam um desmentido cabal ao relançamento anunciado há dias por Santos Pereira, há ainda uma coisa muito importante a esclarecer: afinal o que quer Vítor Gaspar?

Apesar do discurso feito ontem por Passos Coelho e das palavras falsamente consensuais de Gaspar noutra intervenção, as mais recentes posições concretas do número dois do governo apontam de forma óbvia para um cenário de provocação pura e simples ao número dois da coligação. Ou seja, Gaspar afronta Portas. E para quê? A resposta é evidente: Gaspar quer que Passos o substitua.

Maquiavélico? Certamente que não. Sair por iniciativa de Passos é a solução que lhe resta para, mais tarde, poder dizer que que não teve culpa nenhuma e que não o deixaram acabar o trabalho. Mesmo que não o grite pelos telhados e parangonas da comunicação, é isso que dirá na rádio alcatifa dos areópagos do poder onde cresceu e se desenvolveu, cá e fora do país. Um dia até pode ser considerado um quase génio a quem tiraram o tapete, como arvoraram Silva Lopes e Braga de Macedo, que, por manifesta ignorância, chegam a ser comparados com Ernâni Lopes.

Sair por vontade própria (como deveria, para fazer face aos seus erros e resultados económicos e financeiros) seria para Gaspar o reconhecimento de um fracasso pessoal, total e absoluto, a que também ficariam inequivocamente ligadas as instâncias que comandam a troika, nomeadamente o BCE, o FMI e a União Europeia.

Vítor Gaspar não é um técnico puro, nem nunca foi. É fundamentalmente um político com uma especialidade debaixo do braço ou um técnico que virou político. Mexe-se em ambientes em que a competência técnica não é um valor transcendente, mas apenas uma percentagem da quota para o lugar.

Quem acredita que Strauss- Kahn ou Lagarde eram os melhores para o FMI, quando lá estão por ser franceses e por terem apoios de lóbis? Quem pensa que Barroso era o político mais sábio da Europa? Para não citar mais exemplos numa lista inesgotável, basta evocar mais um e também português: Vítor Constâncio. Falar de competência para justificar a sua posição é pura e simplesmente hilariante. Os exemplos podiam ser multiplicados numa escala inesgotável. Vítor Gaspar não é excepção. Por mais que não queira, é um político, mais um… 

No comments:

Post a Comment