Saturday, September 14, 2013

A MELHOR OMELETA DE CORRUPÇÃO LEVA OVOS DE OURO, PETRÓLEO E (DI)AMANTES

 


Orlando Castro – Folha 8 – 7 setembro 2013 – edição 1158
 
Antigamente os milioná­rios faziam­-se à custa de um ár­duo proces­so de labuta que, como se constata pelo curriculum da mulher mais rica de África, Isabel dos Santos, passava pelo trabalho in­fantil, no caso pela venda de ovos pelas ruas de Luan­da. Hoje os ovos chamam­-se petróleo, diamantes e produtos e serviços afins.
 
A produção petrolífera em Angola atingiu, até Junho deste ano, 160,1 milhões de barris, segundo revela o Relatório de Actividades do Governo, referente ao segundo trimestre de 2013, aprovado no Conselho de Ministros. A não ser assim, certamente que será uma involuntária falha para… menos.
 
A meta para este ano apon­ta para uma produção de 2 milhões de barris diários, o que representaria uma su­bida de 250 mil face à pro­dução actual, no entanto, este objectivo só deverá ser atingido, segundo os dados oficiais, entre 2014 e 2015. A produção este ano tem rondado os 1,75 milhões de barris por dia em média, estando as reservas estima­das em 12,7 mil milhões de barris.
 
O documento, que serve de instrumento de avaliação oficial do nível de execu­ção das principais acções projectadas pelo Governo, adianta também que a infla­ção acumulada no período em análise foi de 4,27%.
 
No domínio do crédito à economia, o documento informa que “houve uma expansão de 2,90%”. Em re­lação à base monetária em moeda nacional, o kwanza, o relatório sublinha que observou um aumento em cerca de 5,60%.
 
Por outro lado, fazendo fé nos dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), as expor­tações de petróleo tinham subido quase 10% em Mar­ço, para 1,74 milhões de bar­ris por dia face a Fevereiro, sendo este o valor mais alto desde 2010.
 
Por sua vez a agência fi­nanceira Bloomberg dizia que a subida nas vendas de petróleo deveria manter­-se nos meses de Abril e Maio, sendo previsível que abrande em Junho, mês para o qual Angola tem já contratos firmados de 1,63 milhões de barris diários.
 
Os contratos de venda de petróleo confirmados di­zem respeito a 51 carguei­ros e totalizam 1,63 milhões de barris diários, distante dos 1,831 milhões vendidos em Maio e corresponden­tes a 58 cargueiros.
 
Operadores do mercado de hidrocarbonetos cita­dos pela Bloomberg clas­sificam a quebra de ex­portações como “normal”, atendendo à época do ano.
 
O petróleo é o nosso (for­ma eufemística de dizer deles) principal produto de exportação, representa 45% do Produto Interno Bruto, 70% das receitas fiscais e 90% das exporta­ções.
 
De acordo com os dados oficiais da OPEP, a Ará­bia Saudita, o Kuwait e a Venezuela reduziram as exportações de petróleo em Março, ao passo que os países da África Ocidental aumentaram as exporta­ções. A lista é liderada pela Arábia Saudita, com 7,42 milhões de barris diários, uma redução de 30 mil face à média de Fevereiro, ao passo que as exportações da Venezuela desceram para o nível mais baixo do último ano, com a saída de 1,55 milhões por dia.
 
A procura de petróleo dos países da OPEP, que repre­sentam cerca de 40% da produção mundial, deve registar uma média de 29,8 milhões de barris por dia durante este ano.
 
A OPEP prevê uma redu­ção na produção de 400 mil barris diários face ao ano passado, tendo, no entanto, revisto em alta a produção em 100 mil bar­ris diários face à estimativa anterior, que data de Abril.
 
Por outro lado, a Rússia mostra-se interessada em investir directamente nas áreas diamantíferas e na indústria pesada em An­gola, como foi divulgado à margem do Fórum de Negócios Rússia-Angola, que decorreu ontem em Luanda.
 
Segundo o presidente do Conselho de Administra­ção do banco russo VTB­-África, Igor Skvortsov, a segunda fase do projecto diamantífero de Catoca, na província da Lunda Sul, avaliado em 20 mil milhões de kwanzas, será financiado por aquela ins­tituição bancária.
 
Além do projecto dia­mantífero Catoca, o VTB­-África está a estudar a possibilidade de também financiar a segunda fase do projecto hidroelétrico de Chicapa, situado igual­mente na Lunda Sul.
 
A Sociedade Mineira de Catoca é constituída pela empresa diamantífera an­golana (Endiama) com 32,8%, a russa Alrosa com 32,8%, a israelita Daumon­ty com 18% e a brasileira Odebrechet com 16,4%.
 
No sector da indústria pe­sada, Igor Skvortsov disse que duas empresas russas, a Uralvagonzavod e a Ka­maz, anunciaram a inten­ção de investir em fábricas de vagões e montagem de carros em Angola.
 
A Uralvagonzavod preten­de investir 10 mil milhões de Kuanzas, ajudando An­gola a satisfazer as suas necessidades e a tornar-se exportador em África.
 
Recorde-se que o minis­tro da Economia, Abra­hão Gourgel, apelou aos empresários russos para investirem nos grandes projectos estruturantes da economia angolana, admi­tindo igualmente as par­cerias público-privadas e empresariais.
 
Também o ministro da Geologia Minas, Francis­co Queiroz, garante que o Governo pretende ver aumentada a produção de diamantes até pelo menos 5% por ano, procurando assim atngir os objectivos do Plano Nacional de De­senvolvimento “Angola 2025”.
 
O ministro diz que as li­nhas estratégicas para o alcance deste objectivo passam por inserir a ac­tividade diamantífera de Angola nas diferentes fa­ses da indústria mundial de diamantes, procurando colocar Angola entre os três principais produtores mundiais.
 
No âmbito das linhas estra­tégicas do “Angola 2025″ o Governo pretende organi­zar a actividade artesanal de acordo com a legislação em vigor e a médio prazo substituí-la pela produção semi-industrial e contri­buir para o surgimento e desenvolvimento de uma indústria nacional de joa­lharia, tanto em pedras preciosas e semi-preciosas como em outros metais.
 
Por último, para apimen­tar esta orgia colectiva dos donos do poder, registe­-se e relembre-se sempre (desde logo porque é um paradigma enciclopédico do regime) que Isabel dos Santos, filha do chefe de Estado, do MPLA e do Go­verno, afirmou que iniciou a sua carreira como em­presária a vender ovos aos seis anos de idade.
 
Como disse David Men­des, uma das personali­dades que mais tem de­nunciado a corrupção em Angola, era bom que os milhões de angolanos que passam fome soubessem do “paradeiro da galinha dos ovos de ouro”. Ao que parece, como disse este jurista, “a galinha deu ovos de ouro para uma pessoa e depois mataram a galinha para que ninguém mais fi­casse milionário.”
 
Também não é despicien­do recordar que o profes­sor universitário Celso Malavoloneke considerou que as declarações da fi­lha do presidente ferem a sensibilidade dos angola­nos, afirmando que a sua declaração parece indicar que “está a brincar com as pessoas”.
 
Ou, parafraseando Mia Couto, o nosso problema é que eles em vez de pro­duzirem riqueza produ­zem ricos. Em vez de tra­balharem para os milhões que têm pouco ou nada, trabalham para os poucos que têm milhões (eles pró­prios).
 

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