Thursday, September 26, 2013

O DROMEDÁRIO, A AVESTRUZ E O ELEFANTE

 

Rui Peralta, Luanda
 
I - Desde 1952, ano em que o Movimento dos Oficiais Livres, liderados por Gamal Abdul Nasser, instaurou a Republica, que as Forças Armadas do Egipto mantêm um papel preponderante na política do país. Mesmo após a queda de Mubarak, os militares mantiveram o controlo do período de transição, através do Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) e prepararam, inclusive, um candidato presidencial, Ahmed Safiq, que disputou a segunda volta com Morsi.  
 
Durante a presidência de Morsi e o governo da Irmandade Muçulmana (IM), os militares foçaram a partilha de poder, de forma encoberta, mas sempre controlando de perto e intervindo quando achavam necessário. Morsi e a IM nunca conseguiram acabar com o poder e com a influência dos militares. Sendo o poder algo que não se partilha (e tendo os militares egípcios plena consciência deste facto) os equilíbrios romperam-se e os pratos da balança inclinaram-se com o peso das armas.
 
Os militares agiram em função da contestação popular e para o golpe militar foi determinante a posição assumida pelos liberais e pela esquerda. A última manifestação inserida nas grandes mobilizações populares contra Morsi e o governo da IM (as mobilizações realizaram-se entre finais de Junho e principio de Julho) foi convocada pelo SCAF e pretendia ser uma mobilização “contra o terrorismo”. Durante as mobilizações populares os liberais, liderados pelo nobel Mohamed El Baradei, aliaram-se às forças políticas remanescentes do anterior regime – reunidas por Moussa, um antigo Ministro das Relações Exteriores de Mubarak – e á esquerda egípcia – reunida em torno do nasserista de esquerda Hamdeen Sabahey – formando a Frente de Salvação Nacional, que transformou-se rapidamente no braço político do SCAF.
 
Após o golpe, El Baradei converteu-se em vice-primeiro-ministro de um governo liderado pelo SCAF e composto por uma abrangente amálgama de sectores da sociedade egípcia, desde os apoiantes de Mubarak ao líder sindical Kamal Abu Eita (ministro do Trabalho, apesar da Federação Sindical independente, agora liderada por Fatma Ramadan, fazer sentir a sua pressão reivindicativa e constituir um bloco sindical de pressão com as outras duas centrais sindicais, também apoiantes do golpe militar), passando pelos liberais e pelos salafistas. El Baradei pensou que poderia utilizar o SCAF para instalar a sua camarilha de aduladores da Casa Branca nos corredores políticos do aparelho de Estado, tornando-se o interlocutor principal de Washington.
 
As suas propostas não eram muito diferentes, em termos de política macroeconómica, da IM, o que implicaria a continuação das políticas que levaram á queda de Morsi e que arrastaram o Egipto para uma situação de desastre económico. Mas Washington tem interlocutores em vastos sectores políticos egípcios, a começar pelos mais válidos, os militares e a acabar na IM, passando pelos apoiantes de Mubarak e prefere utilizar El Baradei como uma reserva. Desesperado pelas críticas constantes do Ministro do Trabalho e dos sectores de esquerda do actual governo, pelo silêncio estratégico dos apoiantes de Mubarak no governo, pela política repressiva do SCAF e pela presença dos salafistas, o nobel liberal egípcio demite-se, contrariado, talvez buscando, agora, uma aliança com a IM (também são amigos da Casa da Branca, pelo menos no que respeita ás questões macroeconómicas).
 
II - El Baradei deve andar confuso com a política do seu “par nobel” Obama. Pensava El Baradei que o diálogo entre dois nobéis seria mais directo, mas os cuidados de Obama são justificados. O Egipto é o terceiro pais com mais população de Africa (após a Nigéria e a Etiópia), com cerca de 83 milhões de habitantes e a segunda economia africana, depois da Africa do Sul. Embora a sua produção petrolífera não seja importante, a sua produção de gás coloca-o entre os 15 maiores deste sector, a nível mundial. Por outro lado a sua importância estratégica: o Egipto é uma ponte entre Africa e a Asia e o seu território é fundamental para o controlo do canal do Suez, por onde atravessa 14% do tráfico marítimo mundial. Por ano, uma média de 18 mil barcos (2/3 são petroleiros) utiliza o canal. Por ali passam rotas importantes, como a de Londres-Bombaim e através do canal chegam á Europa a maior parte das mercadorias provenientes do Japão, da China e de outros países do Sudoeste Asiático.       
 
A importância do canal não tem apenas a ver com as frotas marítimas comerciais. Para as frotas navais de guerra, o canal do Suez é fundamental. É um ponto essencial para a 6ª frota dos USA, com sede em Nápoles – responsável pelo Atlântico, Mar do Norte e Mediterrâneo – e para a 5ª frota, sediada no Bahrein e responsável pelo Golfo Pérsico, Mar Vermelho e costa oriental de África. Poucos dias antes da queda de Mubarak duas embarcações da Marinha de Guerra do Irão cruzaram o canal em direcção ao Mediterrâneo (pela primeira vez desde a Revolução Islâmica no Irão, em 1979) com o objectivo de fazer valer o direito do Irão em utilizar o canal, de acordo com o estabelecido na Convenção de Constantinopla, em Outubro de 1888.  
 
Em 1956 o governo de Nasser nacionalizou o Canal do Suez, o que levou a Inglaterra, a França e Israel a invadirem a região do canal, que foi bloqueado pelo Egipto. O canal só seria reaberto em princípios de 1957, após a retirada das forças invasoras. Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, o canal foi novamente bloqueado pelo Egipto e só foi reaberto em 1975, permanecendo em funcionamento desde essa data.
 
Para os USA o controlo do canal do Suez é de importância vital, não apenas para as 5ª e 6ª frotas, nem pelo importante fluxo comercial que transita pelo canal, como também pelo facto da importância geoeconómica do Canal do Suez no que respeita ao crescimento da influência chinesa em África, factor que nas últimas décadas é crucial para as administrações norte-americanas. Aliás este é um dos factores que levou a que os USA apenas se limitassem a protestar contra o golpe militar e a não usar a sua influência para evitar a queda do governo da IM. Morsi efectuou uma visita á China, em 2012, levando consigo uma importante delegação empresarial e estabeleceu importantes acordos comercias com os chineses, o que causou algum desconforto em Washington, que viu aumentar o risco da imprevisibilidade do governo da IM.    
 
O controlo das rotas de navegação através dos estreitos e dos canais é fundamental para os USA. As sua preocupações no Canal do Suez derivam do facto de os USA não o controlarem de uma forma tão directa e eficaz como acontece com o Canal do Panamá, completamente controlado e gerido pelos norte-americanos, o que levou a China a projectar um novo canal na Nicarágua, para comunicar de forma segura (para os seus interesses, claro) entre o Atlântico e o Pacifico. A crescente preocupação dos USA com o crescimento da influência chinesa em Africa, particularmente na África Oriental (patente nas visitas que Obama efectuou em Junho ao Senegal, Africa do Sul e Tanzânia), cria um novo papel ao Egipto no contexto da Africa Oriental, que poderá ser assumido como contrapeso da influência chinesa, através do Canal do Suez.
 
A penetração chinesa na Africa Oriental advém da participação técnica e financeira nos macroprojectos que estão em curso nesta região: a grande barragem do Nilo Azul e o Corredor de Lapsset. A grande barragem do Nilo Azul é impulsionada pela Etiópia e afecta em grande escala o Egipto, que foi completamente marginalizado neste processo (daí a posição hipócrita da União Africana em “limpar as mãos” no que respeita á actual situação do país). É um projecto que conta com o envolvimento da Tanzânia, do Quénia, do Uganda, do Ruanda e do Burundi e com a participação do Sudão e do Sudão do Sul. O segundo projecto, o Corredor de Lapsset, contempla a construção de infraestruturas (estadas, autoestradas, vias férreas, oleodutos, portos marítimos e aeroportos) e nele participam o Quénia, o Uganda, o Sudão do Sul, a Republica Centro-Africana e os Camarões. Permitirá á Etiópia uma nova saída para o mar, através do porto queniano de Lamu e projecta derivações á Republica Democrática do Congo (desde o Uganda) e á Tanzânia (desde o Quénia)   
 
Estes são projectos importantes para o continente africano, mas estão a ser construídos e foram concebidos numa logica hegemónica, adversa aos interesses africanos e assente na nova logica de domínio que envolve os “jogos africanos”. A incapacidade das elites africanas em lidar com esta lógica é directamente proporcional ao facto de estas elites representarem as novas estratégias dos velhos interesses coloniais ocidentais e as inovadoras estratégias (assentes numa fachada pretensamente solidária) dos novos interesses hegemónicos orientais. Uma vez mais África é submetida á pressão da concorrência (esse factor indispensável á reprodução de capital) entre os diferentes sectores financeiros dominantes.
 
A ausência de estratégias africanas comuns, que evoluam em bloco, torna estes projectos (que poderiam ser essenciais para o desenvolvimento do continente) em peças do puzzle da recolonização e continuam a velha máxima utilizada pelo domínio colonial: “dividir para reinar”. As avestruzes passam pelos camelos ignorando-os e quando estes fazem sentir a sua presença, as avestruzes importunadas escondem a cabeça no solo. Desta forma, as sempre vendidas elites africanas (altivas e velozes como a avestruz, mas sempre escondendo-se da realidade, como fazem as avestruzes quando enterram a cabeça no chão para se protegerem) marginalizaram o Egipto, traindo os irmãos africanos do Norte, em nome da pretensa estabilidade (a Pax chinesa, transportada em malas cheias de projectos e de financiamentos, que pouco difere da Pax americana transportada nos drones).
 
III - Como consequência da política de avestruz da União Africana, o Egipto fica entregue a si próprio, ou melhor, ao SCAF. Os militares egípcios não estão subordinados ao governo, qualquer que ele seja, agindo como entidade independente. É um caso típico de autonomização de um aparelho burocrático (neste caso o aparelho repressivo do Estado) em relação ao aparelho político do Estado. A burocracia constitui uma categoria social e ao autonomizar-se do aparelho de Estado, assume um papel determinante na classe social onde, como categoria social, se insere. Desta forma introduz os seus interesses específicos no conjunto de interesses gerais do seu ambiente de classe e acaba por subordinar (como um agente parasitário) os interesses da classe onde se insere, aos seus.
 
Este é um fenómeno que se desenrola no Egipto. Nas últimas três décadas os militares egípcios estabeleceram estreitas relações com os USA, através dos exercícios conjuntos, dos cursos para oficiais nas academias militares norte-americanas, das acções de formação, etc. e as forças armadas egípcias recebem ajuda económica directa dos USA, sem intervenção do governo egípcio. Este factor estimulou a progressiva autonomização do aparelho repressivo egípcio, que acabou por ter empresas próprias e a agir no mercado, controlando cerca de 40% do PIB do país. Desta forma os USA passaram a contar com um instrumento fiável, de plena disponibilidade e completamente autónomo em relação ao governo, seja ele qual for.
 
Os USA têm diversos peões sobre o tabuleiro egípcio. Militares (a peça mais importante), a IM, os liberais de El Baradei e as forças politicas que se movimentavam em torno de Mubarak. Contam ainda, de forma encoberta, com os bandos da extrema-direita islâmica, para fazer o trabalho sujo. É tudo uma questão de coordenação de interesses, o que permite a fatal manipulação de factores orgânicos das dinâmicas internas, de forma a melhor explorá-las e criar cenários virtuais que permitam a continuidade do domínio. Enganam-se, pois, os que fazem a leitura do fracasso da política norte-americana no Egipto. Não houve fracasso algum. Quanto muito alguma descoordenação perante a amplitude dos protestos populares contra Morsi, mas bastou recorrer ao papel autónomo dos militares, para tudo voltar a ser coordenado.
 
Todos os intervenientes nos acontecimentos – por diferentes motivos – receiam ou querem evitar o conflito armado. Da parte dos interesses controlados por Washington, nem os militares, nem o IM e muito menos os apoiantes de Mubarak ou de El Baradei, pretendem enveredar por essa via. Fora deste contexto de manipulação (que engloba vastos sectores da sociedade egípcia, da média á alta burguesia) surgem os sindicatos e a esquerda social (de diversas matizes, dos trotskistas aos nasseristas, passando pelos maoistas e pela nova esquerda), também eles sem qualquer interesse na confrontação armada (seriam os grandes perdedores e viriam as suas reivindicações esmagadas). O conflito armado parece ser solução que não agrada a ninguém, o que não impede os militares de tentar varrer a IM do panorama político, exactamente em nome do “combate ao terrorismo”. Desta forma a burocracia militar (agora já “generais do mercado”) tenta eliminar um concorrente directo (a IM) na cadeia de favores.                
 
Existiria um problema com a extrema-direita islâmica, mas esta encontra-se, por enquanto, representada no governo e sendo grupos controlados pela CIA, não existem grandes probabilidades de alguma força enveredar pela luta armada. Obviamente que podem existir imponderáveis, principalmente devido a dois factores: o primeiro é Israel e o segundo a complexa situação da internacionalização do conflito sírio. No factor Israel existem duas vertentes: a utilização do exército egípcio como aliado dos sionistas (o que suscita polémica nos meios islâmicos mais radicais e mesmo nos moderados) e a questão da Faixa de Gaza (que pode suscitar a qualquer momento uma atitude de força por parte do Hamas, que poderá explorar a situação politica no Egipto a seu favor, utilizando os seus núcleos no país).
 
Já quanto ao factor Síria, os militares estão a geri-lo de forma muito mais inteligente que a IM. Morsi, arrastado pela Turquia, nas últimas semanas da sua permanência no poder, tentou envolver o Egipto no turbilhão Sírio, prestando apoio aos bandos armados que actuam contra o governo sírio. Os militares têm uma posição muito mais ponderada e realista em relação á questão síria, numa tentativa de escapar aos efeitos da internacionalização do conflito, embora a posição de avestruz assumida pela UA em nada auxilia a posição do Egipto, no que respeita a esta questão.
                 
IV - Os bandos armados sírios observam com desconfiança o papel dos militares egípcios. A queda de Morsi obrigou os seus elementos que residiam no Cairo, a convite de Morsi e da IM, a instalarem-se em Istambul, mas o primeiro-ministro turco, Erdogan, encontra-se numa posição desconfortável, pois a Arábia Saudita, o Iraque, a Síria, Israel e o Irão já dialogam com o Egipto. Neste sentido a Turquia encontra-se na mesma posição que a UA: sem hipótese de dialogar directamente com o Egipto.
 
O governo turco ficou com a maçã podre (o Conselho Nacional Sírio - CNS) em Istambul, depois de o SCAF, numa atitude inteligente, ter expulsado o CNS do Cairo. A UA, que depois de ter demonstrado a sua “indignação” perante o golpe militar (são de vistas curtas os burocratas da UA, principalmente o senhor Jean Ping, o agente de Pequim - mainate dos mandarins – que marca a diferença em relação a muitos dos seus comparsas da Comissão da UA, cipaios do Ocidente) tentou “picar” o Egipto através da Etiópia, que ambiciona ser a menina bonita do continente, talvez uma prostituta preferida de Pequim e que acabará (como todas as prostitutas) nas mãos dos que pagarem mais (talvez os USA, mais batidos nestas questões dos bares e das prostitutas). O Egipto reagiu e os serviços secretos egípcios têm incomodado a Etiópia, não hesitando numa abordagem directa aos eritreus, no sentido de estabelecerem uma “acção comum” frente á “hegemonia etíope”, assunto que mobiliza os susceptíveis eritreus.
 
Por sua vez, Moscovo, manifesta simpatia pelo SCAF e introduz-se, subtilmente, no Cairo. Os russos acompanham de perto os dois-mega projectos (a barragem do Nilo Azul e o Corredor de Lapsset) financiados por Pequim (parceiro BRICS) e que afectam o Egipto. As empresas russas não foram convidadas para os projectos e Moscovo é bastante sensível nestes pormenores. A penetração de Pequim no continente africano é uma cartada que os russos consideram estar fora do seu baralho.
 
O Egipto assume, nestas circunstâncias, um papel novamente preponderante para a Rússia e os militares egípcios estão abertos a um bom relacionamento com Putin e com as empresas russas (são os comportamentos de sobrevivência das categorias sociais que adquirem autonomia). Desta forma Sisi e Putin juntam o útil ao agradável. É agradável para os militares egípcios alargarem os seus negócios e é útil para os russos, que através do Egipto podem participar de forma mais interventiva nos “jogos africanos” sem perderem de vista a Ásia Ocidental.
        
V - Papel determinante nestas “jogatinas” (principalmente no confronto China – USA), mas viradas já para o interior do continente e partindo do Atlântico, tem a Nigéria. Para a propaganda afro-capitalista este é o século da Nigéria. A fórmula mágica que estes aprendizes de feiticeiro, ilusionistas e jogadores de poker pensam ter descoberto na Nigéria é um modelo hibrido, assente no capitalismo de Estado, com certa flexibilidade empresarial, tendo a exploração dos recursos naturais como factor de expansão. A este truque de ilusionismo é acrescentado a nova mitologia demográfica africana, uma população sempre em crescimento constante (progressão geométrica) e que atingirá os mil milhões de habitantes daqui a 100 anos. 
 
Esquecem-se os aprendizes de algumas pedras no sapato, como a deficiente redistribuição de riqueza, ou os cerca de 250 idiomas que representam uma diversidade cultural de grande riqueza mas de grande complexidade e que associados á deficiente distribuição de riqueza e á ausência de soberania da produção, representam uma bomba-relógio, principalmente quando as dinâmicas culturais se cruzam com as estrictamente sociais (pobreza versus riqueza, ou inclusão versus exclusão) originando factores identitários, muitas vezes (e no caso da Nigéria esse é um problema actual) escondidos por uma máscara religiosa.  
 
O presidente nigeriano Goodluck Jonathan é um sócio importante dos USA e da China, o que leva alguns analistas a tentarem decifrar a futura posição da Nigéria na geoeconomia internacional (periferia do Oriente ou do Ocidente?) e o facto de não aprofundar as suas relações com a Europa ou a posição de afastamento que mantem em relação aos centros de poder da UA e da ONU (preferindo actuar como fornecedora de carne para canhão e de mercenários nas missões internacionais). A Nigéria é o país mais povoado do continente africano, com mais de 170milhões de habitantes que conformam um mercado interno suficientemente sólido. Os seus recursos naturais são impressionantes e tornam o país essencial para os objectivos das grandes corporações multinacionais.
 
Recentemente a Nigéria assinou vários contractos com a China, para executar novos investimentos em infraestruturas nigerianas. No entanto é bom não esquecer que a Nigéria é o quinto fornecedor de petróleo dos USA, enquanto a China compra apenas 1% do petróleo nigeriano. Em contrapartida, segundo os dados do Ministério da Economia do governo da Nigéria, o país é o segundo mercado da China em África. Os USA, na Nigéria, apostam no sector da saúde, na indústria farmacêutica, na agro-indústria, na produção de energia e no sector petrolífero. A China gere a zona de comércio livre e explora ferro e aço e os novos projectos chineses são na área do caminho-de-ferro, produção de energia, telecomunicações e refinarias.   
 
Por sua vez Goodluck Jonathan e o seu governo apostam no reforço do poder judicial, como tentativa de consolidação de um Estado que corre o risco de estilhaçar por força das dinâmicas internas (já não seria a primeira vez, na breve História pós-colonial do país) e por pressão das dinâmicas externas. Por outro lado procuram diversificar as exportações, de forma a não ficarem dependentes do petróleo, do gás e da energia. Neste sentido o crescimento da produção agrícola tem sido um marco considerável nos últimos anos e as exportações de produtos agrícolas nigerianos registam um crescimento constante. Também a produção industrial tem sido objecto de atenção e neste ponto o mercado africano é de extrema importância para esta fase de crescimento da indústria nigeriana.
 
Mas o governo Nigeriano tem de reconhecer que está abrangido pelo arco da crise e só poderá esperar um agravamento das condições politicas internas e da instabilidade, focada em determinadas regiões. Tal como acontece no Egipto, também na Nigéria torna-se sentida a ausência da UA na resolução dos conflitos internos do país. Por sua vez a política de desenvolvimento da Nigéria só poderá prosseguir de forma equilibrada se for inserida no contexto de desenvolvimento dos mercados africanos, caso contrário levará o país á dependência em relação aos mercados externos, o que se revelará desastroso para o sector industrial, que ainda não está em condições de competir nesses mercados. Uma vez mais, nesse sentido, Nigéria e Egipto padecem de problemas similares, que poderiam ser resolvidos através da presença da UA e da concertação dos mercados africanos.
 
O Elefante nigeriano e o Dromedário egípcio, obviamente nunca se irão cruzar e estão em diferentes e opostas localizações e habitats. Mas em comum, partilham da mesma visão sobre as avestruzes e da forma como estas ignoram tudo e todos os que se encontram ao seu redor. E também eles, elefantes e dromedários, ficam, de vez em quando, deslumbrados com o brilho do Ocidente e do Oriente.
 
O brilho é todo deles, dos ocidentais e dos orientais. De África fica a eterna penumbra e o peso da obscuridade…      
 
Fontes

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