Sunday, September 15, 2013

Angola: PACAVIRA, DA PIDE A MINISTRO DO REGIME

 


PACAVIRA QUE SE RECLAMA HISTÓRICO DO MPLA ERA TOUPEIRA INFILTRADA DE SALAZAR
 
Folha 8 – 7 setembro 2013 – edição 1158
 
Manuel Pedro Pacavira licen­ciou­-se em Ciências Sociais pela Universida­de de Havana, foi Minis­tro da Agricultura e dos Transportes e represen­tante de Angola na ONU, Governador do Kwanza Norte. Foi também em­baixador de Angola em Cuba e em Itália. Foi, an­tes de tudo isso, colabora­dor da PIDE como consta da folha 84 do Processo Crime nº 554/66 existente na Torre do Tombo, em Lisboa.
 
Pacavira terá começado a colaborar com a PIDE por volta de 1960, pois, quan­do, em Março daquele ano, se deslocou a Brazza­ville para se avistar com Lúcio Lara, que vinha de Conakry mandatado pelo Comité Director do MPLA, já prestava servi­ços à polícia portuguesa.
 
Por isso, no trajecto até à fronteira do Congo, terá sido acompanhado pelo sub-inspector Jaime de Oliveira da PIDE que ficou inteirado da docu­mentação que levava. O mesmo aconteceu, no re­gresso, já no mês de Maio.
 
Aquele oficial da PIDE aguardava-o no posto de fronteira e ali mesmo to­mou conhecimento de toda a papelada trazida. Os papéis não foram reti­rados a Pacavira mas sim reproduzidos. De modo que, a 8 de Março, na reu­nião do MINA realizada na sua residência e em que esteve presente Agosti­nho Neto, os papéis foram exibidos aos membros da direcção do MPLA. En­tretanto, as cópias tinham passado a figurar nos ar­quivos da PIDE.
 
No final de Maio realizou­-se uma segunda reunião, desta vez em casa do Fer­nando Coelho da Cruz. Nessa altura, Joaquim Pinto de Andrade, mem­bro da direcção, ter-se-á apercebido da presença da PIDE nas imediações por sinais considerados sus­peitos: ao entrar na casa, foi ofuscado pelas luzes de um automóvel, o que o impediu de ver fosse o que quer que fosse em seu redor. [Testemunho do próprio Joaquim Pinto de Andrade, nos anos noven­ta, em Lisboa].
 
As detenções de Joaquim Pinto de Andrade e de Agostinho Neto ocorre­ram no dia 8 de Junho. No decurso dos interrogató­rios e, principalmente, na sessão de acareação com Pacavira, Joaquim Pinto de Andrade afirmava não ter a mínima dúvida de que o denunciante de to­dos eles fora o “Pakassa”, nome de código de Pa­cavira [ Testemunho do próprio Joaquim Pinto de Andrade, nos anos 90, em Lisboa] .
 
Num processo existente nos arquivos da PIDE de­positados em Lisboa, na Torre do Tombo, consta uma nota que reza o se­guinte: “Por divulgação de Lourenço Barros [não se sabe quem seja] teria sido o Patrício de Carva­lho Sobrinho [outro des­conhecido] a pessoa que denunciou o dr. Agosti­nho Neto”.
 
Ora a folha do processo com aquela nota é apenas uma fotocópia, em que o nome do informador está expurgado. Conclusão: nem o Lourenço Barros nem o Patrício de Carva­lho Sobrinho devem ser figuras reais. E a nota em causa parece ser estra­tagema frequentemente usado pela PIDE para en­cobrir os seus informa­dores. Claro que, na folha original, deve constar o nome do Pacavira [Torre do Tombo, Lisboa, Arqui­vos da PIDE, Processo nº 11.15, MPLA, pasta A].
 
Pacavira foi membro fundador da «TRIBUNA DOS MECEQUES». A denúncia, feita por Nito Alves nas «Treze Teses em Minha Defesa», pode ser confirmada nos arqui­vos existentes na Torre do Tombo.
 
O jornal foi programa­do por São José Lopes, o responsável máximo pela PIDE, num relatório em que declara estar to­talmente de acordo com as soluções apresentadas pelo “grupo de trabalho” que estudara os vários as­pectos sociais e políticos dos muceques de Luanda.
 
No que respeitava à pro­paganda, além da realizada pela rádio (que não alcan­çaria os objectivos dese­jados pelos colonialistas), São José Lopes propunha que se lançasse um jornal do muceque [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo 7477 CI(2), Comando de Ope­rações Especiais, pasta 22, fls. 4 ss.).
 
Aí está, pois, a célebre «Tribuna dos Muceques», um jornal da PIDE, como afirma a Embaixada de Angola na biografia do embaixador Adriano João Sebastião.
 
De resto, nas declarações que faz e assina no dia 7 de Junho de 1966, Manuel Pedro Pacavira diz estar “totalmente regenerado, com arrependimento sin­cero e completo, de todos os seus erros” e oferece à PIDE “toda a sua co­laboração, estando pronto a obedecer, leal e cega­mente, a tudo o que lhe for ordenado”.
 
E para provar a sua lealda­de afirma não se importar “de falar em público con­tra as organizações sub­versivas que lutam pela in­dependência de Angola”. E até “gostaria de redigir e fazer publicar, sob a sua autenticidade, artigos de carácter patriótico, em re­pulsa das falsas promessas dos pretensos libertado­res de Angola” [Torre do Tombo, Lisboa, Arquivos da PIDE, Processo Crime nº 554/66, f. 84].
 
Pacavira seria, pois, um agente duplo, simultanea­mente elemento do MPLA e informador da PIDE, ora trabalhando para uns ora servindo outros. Mas a polícia não lhe perdoa a duplicidade. De modo que, volta e meia, o mandam de novo para a cadeia.
 
Facto saliente prende-se com a figura de Cândido Fernandes da Costa, que pertenceu ao elenco direc­tivo do MINA. Há muitos anos que, em Luanda, a morte de Cândido, ainda antes da independência nacional, terá envolvido Pacavira, se bem que, nes­te caso, possa ter agido a mando de alguém.
 
Mas Pacavira foi o braço executor. Tal como no fuzilamento em praça pú­blica do Virgílio Francisco “Sotto-Maior”. Um e ou­tro, ao que parece, seriam figuras muito incómodas, especialmente Cândido Fernandes da Costa, exe­cutado numa tocaia.
 
Com efeito, em 1975, se­gundo se lê numa auto­biografia do antigo embai­xador Adriano Sebastião, Pacavira mandou fuzilar um antigo companheiro de prisão, Virgílio Fran­cisco (Sotto-Mayor), com base numa falsa acusação [«Dos Campos de Algodão aos Dias de Hoje»].
 
Fiel aos princípios de de­nunciante, Pacavira terá sido “dos primeiros a de­nunciar a existência de uma conjura “nitista” no interior do MPLA” (Ma­beko Tali, O MPLA peran­te si próprio, II, p. 202). E ter-se-á destacado depois como mandante do terror.
 
No dia 29 de Outubro de 2008, Pacavira foi um dos presos angolanos a intervir no Colóquio Internacional sobre o Tarrafal, colóquio este promovido pelo mo­vimento “Não Apaguem a Memória” e pela Associa­ção 25 de Abril e realizado na Assembleia da Repúbli­ca Portuguesa.
 
É autor do livro “José Eduardo dos Santos, uma vida dedicada à pátria” (2006).
 

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