Sunday, September 22, 2013

Mesmo querendo que Merkel continue, alemães podem botá-la “de castigo” nas eleições

 

Rafael Targino, São Paulo – Opera Mundi
 
Pesquisas indicam que ela terá que se coligar com principal partido de oposição, com quem já formou governo em 2005
 
Angela Merkel é a chanceler mais popular da Alemanha desde a reunificação do país, em 1990. Pelo menos 58% da população, segundo pesquisa divulgada pelo quadro "Polit Barometer", da rede de TV ZDF nesta quinta-feira (20), querem que ela continue no cargo. Porém, neste domingo (22), os alemães parecem prontos para colocar Merkel “de castigo”: se as previsões se confirmarem, ela poderá ter que se coligar com o principal partido de oposição, o Partido Socialdemocrata da Alemanha (SPD), para formar maioria no Bundestag, o parlamento do país. E a própria chanceler já dá sinais de que aceita isso.
 
Segundo o Barometer, 29% dos alemães acham que a melhor coalizão para governar o país é a da União (bloco formado pela União Democrata Cristã, a CDU, de Merkel, e pela União Social-Cristã, a CSU) com o SPD. Os dois partidos comandaram a Alemanha juntos entre 2005 e 2009, no primeiro governo Merkel.
 
Só 19% gostariam de ver a reedição da atual coligação, CDU e FDP (Partido Liberal Alemão). Hoje, os dois partidos têm uma confortável maioria no Bundestag (330 dos 620 parlamentares). Merkel já afirmou que prefere a dobradinha novamente – o problema é que o FDP pode ficar de fora do parlamento.
 
Cada alemão tem direito a dois votos neste domingo. No primeiro, vota-se no candidato do distrito a que o eleitor pertence (cada distrito compreende cerca de 250 mil eleitores). Esse primeiro voto preenche 299 cadeiras. Na segunda vez, a população vota em uma lista de candidatos indicada por cada partido. Na prática, o segundo voto serve para escolher quais agremiações serão representadas no parlamento. Com essas escolhas, são preenchidos outros 299 assentos.
 
Cláusula
A questão é que existe uma cláusula de barreira: se o partido não atinge 5% do segundo voto ou não consegue vencer a eleição em pelo menos três distritos, não vai para o Bundestag. E é esse o risco que o FDP corre no momento.
 
Desde o início da campanha, há dois meses, o partido vem flertando com a cláusula. A última pesquisa do Polit Barometer mostra o FDP com 5,5% das intenções de voto – com margem de erro de 2%. Outro levantamento, do Instituto Forsa, dá à agremiação 5% exatos. Para piorar, no domingo passado (15/09), o partido conseguiu somente cerca de 3% dos votos na eleição regional da Baviera.
 
Se o FDP não conseguir eleger ninguém, restará a Merkel reeditar a aliança com a oposição – representada pelo SPD de Peer Steinbrück, seu concorrente direto nestas eleições.
 
Em declarações na última semana, a chanceler parece já aceitar o fato, ao pedir aos eleitores que também deem o segundo voto à CDU e não ao FDP, que faz campanha explícita pela segunda opção. Nós gostaríamos de continuar a coalizão, mas a CDU não tem votos para dar de presente. Cada um luta por sua política", afirmou a chanceler durante um comício em Potsdam (a 35 km de Berlim). Em outro evento, em Duderstadt (a 350 km da capital), Merkel foi ainda mais direta: "Os dois votos para a CDU, esse é o lema".
 
Com isso, ela tenta, segundo a imprensa alemã, ter mais força no novo equilíbrio de partidos que se avizinha no Bundestag.
 
De volta ao começo
 
O governo Merkel I foi sustentado por uma coligação CDU-SPD. Em 2005, quando concorreu pela primeira vez ao cargo, a hoje chanceler enfrentou Gehrard Schröder, do SPD, então mandachuva do país – e o primeiro Bundeskanzler (como se chama o cargo em alemão) do partido desde 1982. O resultado foi bem apertado: 35,2% dos votos para a União, 34,2% para o SPD. Daí, coube a Angela Merkel formar o governo. Nesta primeira gestão, Steinbrück foi ministro das Finanças.
 
Em 2009, a União conseguiu um percentual menor (33,8%), mas foi beneficiada por uma queda de 11 pontos percentuais nos votos do SPD e pelos 14,6% registrados pelo FDP. Assim, conseguiu maioria e formou o governo Merkel II.
 
Coligar-se significa, além de ter maioria no parlamento, colocar o parceiro em cargos estratégicos do governo. O FDP comanda, por exemplo, os ministérios da Economia e Tecnologia, com Philipp Rösler (que é também presidente do partido) e de Relações Exteriores, com Guido Westerwelle.
 
A possível futura coligação União e SPD pode obrigar Merkel a aceitar algumas políticas defendidas pela oposição. Devem entrar em discussão, por exemplo, a introdução de um salário mínimo de € 8,50 por hora e a criação de um imposto de transações financeiras em onze países da zona do euro.
 
Fim da linha
 
A imprensa alemã já trata Steinbrück como um político com aposentadoria marcada para este domingo. Ele tem chance de virar chanceler caso o Partido Verde, principal aliado, tenha uma votação espetacular – só que a última pesquisa o mostra com 9% das intenções de voto.
 
Ainda assim, com o SPD marcando 27% no último Polit Barometer, seria possível uma coligação com os Verdes e o “A Esquerda”, agremiação resultante do partido que governava a antiga Alemanha Oriental, que registra 8,5% das intenções. Como tanto Steinbrück, quanto Gregor Gysi, líder da “Esquerda”, já afastaram a possibilidade, é improvável que os partidos se unam. A título de comparação, na mesma pesquisa, a CDU tem 40%.
 
Desta forma, Sigmar Gabriel, presidente do SPD, é cotado para virar vice-ministro em um futuro governo Merkel III. Steinbrück segue um caminho parecido ao de Schröder: quando a chanceler venceu em 2005, o então mandatário não entrou na formação do governo.
 
O candidato do SPD é mais conhecido, na verdade, por sua sequência de gafes. A última, disse ele, foi involuntária: ele apareceu na capa de uma apontando o dedo do meio, acompanhado da pergunta “Peergafe, Peerproblema, Peerlusconi – o senhor não deve se preocupar com apelidos simpáticos, não é?”. Steinbrück participou de uma seção da revista em que perguntas eram respondidas por meio de gestos, mas alegou que não sabia que a imagem com o dedo médio em riste iria direto para a primeira página.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, afirmou que chanceleres alemães ganham muito pouco – o salário de Merkel está estimado em € 208 mil (quase R$ 630 mil) por ano, segundo a revista Wirtschafts Woche. Em março de 2013, foi flagrado roubando balinhas de Sigmar Gabriel na frente de câmeras de TV.
 
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