Wednesday, September 11, 2013

A ASCENSÃO DO ECHELON

 

Martinho Júnior, Luanda

1 – Ainda há pouco tempo publiquei no Página Global um conjunto de artigos que tinham referência ao ECHELON, ao UKUSA e a um dos deputados portugueses “apagadores” desse tipo de sinais no Parlamento da União Europeia…

Nos mais recentes artigos sobre Guiné Equatorial, África do Sul, Nigéria, São Tomé e o Golfo da Guiné, faço algumas referências aos interesses norte americanos integrados no AFRICOM, sem esquecer o que é acompanhado a partir da ilha de Ascensão!

No rodapé faço citação desses artigos, com os respectivos links.

2 – Vem isto a propósito com o que o semanário brasileiro Isto É publicou, num dos rescaldos do escândalo de espionagem norte americana, escândalo esse direccionado directamente à Presidente Dilma Roussef.

Diz o artigo do Isto é… “como eles espionam” (versão integral, sem imagens, do artigo assinado por Cláudio Dantas Sequeira e Josie Jerónimo):

“Foi a partir da ilha de Ascensão, a 2,5 mil quilômetros do Recife, que agentes de Barack Obama conseguiram bisbilhotar conversas telefônicas e trocas de e-mails da presidenta Dilma Rousseff.

A cerca de 2,5 mil quilômetros do Recife (PE), numa região inóspita do Atlântico Sul, existe uma pequena ilha de colonização britânica chamada Ascensão.

É lá que os agentes de Barack Obama captam aproximadamente dois milhões de mensagens por hora.

São basicamente conversas telefônicas, troca de e-mails e posts em redes sociais.

É dessa pequena ilha que os técnicos da NSA, uma das agências de inteligência dos Estados Unidos, vêm bisbilhotando as conversas da presidenta Dilma Rousseff e de alguns de seus ministros mais próximos, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ na última semana.

A ilha de Ascensão tem apenas 91 quilômetros quadrados e seria irrelevante se não estivesse numa posição estratégica, a meio caminho dos continentes africano e sul-americano.

Ao lado de belas praias, sua superfície abriga poderosas estações de interceptação de sinais (Singint), que se erguem como imensas bolas brancas.

Elas integram um avançado sistema de inteligência que monitora em tempo real todas as comunicações de Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Venezuela e fazem parte de um projeto conhecido como Echelon (leia quadro à pág. 46), que envolve, além dos Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Canadá.

O indicativo mais forte de que a invasão de Obama nas conversas da presidenta Dilma e seus ministros se deu a partir da ilha está nos próprios documentos exibidos por Edward Snowden, denunciando o esquema.

Neles, lê-se, na parte inferior, o grau de classificação top secret (ultrasecreto), o tipo de documento Comint/REL (comunicação interceptada) e sua divulgação (USA, GBR, AUS, CAN, NZL), exatamente as siglas que indicam os países do sistema Echelon.

Há um alto grau de probabilidade de que a NSA já tenha entrado não apenas no sistema de comunicações da presidenta, mas em todos os sistemas nacionais críticos, alerta o consultor em segurança Salvador Ghelfi Raza, que já trabalhou para o governo de Barack Obama.

As antenas da ilha de Ascensão conseguem captar as mensagens logo depois de serem produzidas, antes mesmo que elas cheguem aos satélites para serem distribuídas.

Uma vez recolhidas, as informações são lançadas em um gigantesco computador instalado no Fort Meade, em Maryland, nos EUA.

Lá, são processadas em um programa chamado Prism (Prisma), que localiza, por intermédio de palavras-chaves, aquilo que os bisbilhoteiros procuram, entre os milhões de dados recebidos por hora.

A partir daí as informações são submetidas a um outro programa, que quebra a criptografia.

Ainda em Maryland, computadores traduzem as informações coletadas.

Feita a análise, o que for de interesse do governo americano será distribuído aos agentes espalhados por todo o mundo para continuar o serviço de monitoramento.

Muitas vezes empresas americanas ligadas à telefonia e à internet são acionadas para informações complementares.

Com acesso à rede, por um técnico autorizado, é possível captar todo o tráfego de dados, sejam arquivos de vídeo, sejam fotos, trocas de mensagens ou chamadas de voz sobre IP.

A cooperação de grandes corporações, como Microsoft, Google, Facebook ou mesmo os gigantes da telefonia, Verizon e At&T, é fundamental para o funcionamento da rede da NSA.

Documentos vazados pelo WikiLeaks mostram ainda que os EUA contam com dezenas de empresas de segurança da informação, num total de 1,2 milhão de técnicos, agentes e autoridades.

Na ilha de Ascensão, que serviu à Inglaterra na Guerra das Malvinas, também estão instalados o serviço de inteligência criptológica britânico (GCHQ), estações de monitoramento de testes nucleares e uma das duas estações da emissora de rádio The Counting Station, apelidada de Cynthia, pela qual a CIA se comunica com seus agentes secretos espalhados pela América do Sul e África.

Foi a partir de 11 de setembro de 2011, com George W. Bush e o início da guerra ao terror, que a Casa Branca determinou uma modernização completa da base de Ascensão.

Desembarcaram na pequena ilha voos regulares com supercomputadores, novas estações de monitoramento e uma vasta gama de equipamentos de ponta.

O contingente de agentes da NSA cresceu cinco vezes e foi acompanhado por esforços britânicos no mesmo sentido.

Ao assumir em 2009, Barack Obama determinou uma revisão completa da política de cyberdefesa, que ele classificou como o mais sério desafio econômico e de segurança nacional que os EUA deveriam enfrentar como nação.

Para o democrata, era necessário promover um salto tecnológico e estratégico em toda a infraestrutura de comunicações e informação.

Logo ele nomeou um comitê executivo, integrado por representantes governamentais e do setor empresarial, e um coordenador, o cyberczar, com livre acesso a seu gabinete e com quem passou a despachar diariamente.

Hoje, a NSA é a agência principal do sistema de inteligência americano.

Abaixo dela estão outras 18, inclusive a velha CIA.

Embora muitos acreditem que o Echelon seja coisa do passado, a verdade é que ele foi atualizado e sua plataforma de operação digital é a base da atual defesa cibernética, que não respeita limites na realização de seus objetivos estratégicos, políticos e comerciais”.

3 – Assim sendo, por um lado compreende-se as razões do Página Global estar a ser alvo de processos de desgaste que afectam os seus conteúdos e por outro resta alertar:

Os sistemas de inteligência do Brasil e de Angola, estão a ser alvo de ingerências do sistema UKUSA-ECHELON-NSA que opera com fulcro na deliberadamente fechada ilha de Ascensão, mas que tem apêndices em outras “estações”, entre elas os “ouvidos” que estão em Santana, a sul da capital de São Tomé!

Em relação ao Brasil a tarefa será colossal: todo o sistema ABIN (Agência Brasileira de Inteligência afecta à Presidência da República) e SIVAM (“Sistema de Vigilância da Amazónia”) terão de ser revistos…

Uma parte substancial das tecnologias electrónicas desses sistemas, satélites incluídos, foi produzida nos Estados Unidos, ou em algum dos seus mais dilectos aliados…
Em relação a Angola o alerta é o mesmo!

Um outro alvo num lado e no outro do Atlântico Sul, são as operações de petróleo “offshore” ao largo das costas do Brasil (“Amazónia Azul”) e de Angola (“Bacia do Kwanza”), tendo em conta que ambos os países da CPLP tendem a optar pela soberania ao largo de pelo menos 200 milhas!

Uma outra posição a ter em conta por causa da sua interligação à ilha de Ascensão, é tudo o que se passa relacionado com Atlântico Sul, Índico Sul e Antárctida, precisamente numa das matrizes do imperialismo britânico em África, na cidade do Cabo… não é por acaso que a África do Sul se distende em esforços naquelas direcções, até por que os seus navios, inclusive os seus pesqueiros, têm no arquipélago de Santa Helena (Santa Helena e Tristão da Cunha), pontos de apoio e rotas “obrigatórias”…

A fechada ilha de Ascensão faz parte desse arquipélago e um papel para a África do Sul no âmbito do ECHELON-NSA não é desdenhável para os interesses norte americanos e da NATO, com os quais os sucessivos governos sul-africanos têm de há largas décadas relações militares privilegiadas, em especial no âmbito das respectivas Marinhas de Guerra!

As revelações de Edward Snowden e os seus rescaldos no Brasil, alguns dos quais recaíram directamente sobre a Presidente Dilma, deram conta de na pequena Ascensão estar na verdade a “ascensão” corrente do ECHELON no Atlântico Sul, em estreita consonância com a criação do CYBERCOM, do AFRICOM e do SOUTHCOM do Pentágono.

Foto: O ECHELON segundo ilustração do semanário Isto É - http://www.istoe.com.br/reportagens/323087_COMO+ELES+ESPIONAM?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage

A consultar (Martinho Júnior):
- UKUSA e ECHELON, ou a base da capacudade inteligente do poder hegemónico – I –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/ukusa-e-echelon-ou-base-da-capacidade.html
- UKUSA e ECHELON, ou a base da capacudade inteligente do poder hegemónico – I –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/ukusa-e-echelon-ou-base-da-capacidade_16.html
- O ECHELON actua em plena ONU – I – Estados Unidos contra a Convenção Diplomática de Viena – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/o-echelon-actua-em-plena-onu-i.html
- O ECHELON actua em plena ONU – II – Estados Unidos contra a Convenção Diplomática de Viena –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/08/o-echelon-actua-em-plena-onu-ii.html
- Apagando os sinais –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/07/apagando-os-sinais.html
- USS São Tomé –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/08/uss-sao-tome.html
- O chocolate de Fradique –
http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/08/o-chocolate-de-fradique.html
- O corsário e a presa – Mark Thatcer e a “experiência”na Guiné Equatorial –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/06/o-corsario-e-presa-mark-thatcher-e.html
- África do Sul apêndice AFRICOM –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/08/africa-do-sul-apendice-africom.html
- Nigéria, outro apêndice AFRICOM –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/08/nigeria-outro-apendice-africom.html

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