Tuesday, October 15, 2013

Angola: FOME DE MILHÕES ENCHE A BARRIGA DE UNS POUCOS COM MILHÕES DE DÓLARES

 

Folha 8 – edição 12 outubro 2013
 
A situação de fome no mundo preocupa, pelo menos em tese, muito boa gente. Represen­tantes de 175 países chegaram à conclu­são endémica de que existem pelo menos 842 milhões de pessoas afectadas pela desnutrição, sendo os casos de Angola e Guiné­-Bissau preocupantes.
 
Existem, todavia, alguns bons exem­plos entre os países que se entendem em português. As políticas e estra­tégias de combate à fome em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde são casos de sucesso, segundo os espe­cialistas, a levar em conta, pesem as dificuldades que enfrentam, nomea­damente a falta de água no caso cabo­-verdiano.
 
O embaixador de Cabo Verde na Agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Manuel Amante da Rosa, afirma pe­remptoriamente que falar de fome em Cabo Verde é um “exagero”. Explica que “existe fome, mas não aquela situação dramática que, tan­tas e tantas vezes, se encontra nou­tros países”.
 
O diplomata cabo-verdiano expli­ca que, por exemplo, o Governo do seu país tem dedicado esforços para garantir o desenvolvimento rural, mostrando-se optimista quanto às boas colheitas que, ano após ano, o país vai conseguindo.
 
Recentemente mais de 40 minis­tros da Agricultura reuniram-se, na sede da FAO, no âmbito do Comité Mundial de Segurança Alimentar, para analisar este drama. Parecendo pouco preocupados com a questão, a Guiné-Bissau esteve ausente e An­gola e Moçambique marcaram pre­sença embora sem figuras de alto nível.
 
De acordo com o relatório sobre a fome no mundo publicado na última semana pela FAO, Angola caminha para o cumprimento das metas de Desenvolvimento do Milénio no que concerne à redução da fome para metade até 2015. Todavia, entre 2011 e 2013, quase cinco milhões de ango­lanos passaram ou passam fome, ou seja, quase 25% da população. Tal­vez por isso o Governo continue a investir no supérfluo e a esquecer o essencial. A situação no nosso país é particularmente drástica nas provín­cias do sul, onde a população sente os efeitos da seca que começou em 2011, embora tenha sido compen­sada com a realização este ano do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins.
 
Um dos representantes de Angola na FAO, Manuel Nascimento, não quis falar para a situação, mas sem­pre atribuiu a situação de calami­dade aos efeitos naturais. Se tivesse auscultado os seus superiores po­deria, certamente, atribuir também responsabilidade mais imediatas à Oposição política interna e, mais distante, às políticas colonialistas de Portugal.
 
Na província do Cunene, uma das zonas mais atingidas pela seca, o governador provincial, António Di­dalelwa, afirma que se está a atra­vessar a estiagem mais dura dos últimos 25 anos na região, acrescen­tando que a seca está a afectar igual­mente mais de 2 milhões de cabeças de gado e que morrem em média 30 por dia.
 
Segundo António Didalelwa, a si­tuação tem sido minimizada graças às doações do Governo, de orga­nizações não-governamentais e de pessoas singulares. “Graças a isto, até aqui ainda não morreu ninguém, mas os bois estão a morrer”, afir­mou. Apesar de insuficiente, An­tónio Didalelewa agradece o apoio que têm recebido porque caso con­trário a gravidade da situação já te­ria feito vítimas mortais na provín­cia do Cunene.
 
Face a esta situação, o Governador conta que as populações têm aban­donado as zonas de residência para tentar escapar à dura estiagem: “É uma situação que nos preocupa bas­tante, porque as famílias, nomeada­mente as que criam gado, deixaram as suas casas”.
 
A situação está a tornar-se de tal modo alarmante que, por exemplo, a UNICEF já lançou um apelo de aju­da ao combate dos efeitos da seca em Angola. Segundo o vice-direc­tor da Cáritas, em Luanda, Eusébio Amarante, pelo menos dois milhões de pessoas estão a passar fome nas províncias sul.
 
“Eu acho que se o Governo se em­penhar pode fazer muito mais” rei­tera Eusébio Amarante, adiantando que as organizações humanitárias em Angola definiram como neces­sidades de primeira-mão “a fuba, o arroz, o óleo, o sabão e a água”. Estes são os bens essenciais “para ajudar as pessoas que estão a passar fome nas zonas rurais”, explica o respon­sável da Cáritas, num retrato que deveria envergonhar o regime.
 
Moçambique, por outro lado, encon­tra-se numa situação de estagnação na luta contra a fome. Se o quadro persistir não deve atingir a meta de reduzir a fome para metade até 2015. Segundo a FAO, actualmente 9 milhões de moçambicanos passam fome e isso representa quase 37% da população. Situação que piorou des­de o início da recolha dos dados, em 1990.
 
Quanto à Guiné-Bissau, a situação de fome no sul do país relatada pela FAO não pode ser verificada, uma vez que o país não enviou repre­sentantes para a reunião do Comité Mundial de Segurança Alimentar, em Roma que aconteceu no início deste mês.
 

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