Saturday, October 12, 2013

OS FILTROS CANADIANOS – II

 

Martinho Júnior, Luanda (ver parte I)

1 – Fazer ecoar o que norte-americanos e canadianos têm feito no Brasil por via de instrumentos como a National Security Agency (NSA) ou a Agência Canadiana de Segurança em Comunicação (CSEC), é de importância ainda maior para África, tendo em conta a formação dos dois continentes (Gondwana: África – América do Sul), que se têm vindo a separar de há 200 milhões de anos… e o que tem ocorrido desde as caravelas e dos tempos do Rei Leopoldo, com novo impulso agora em tempos de globalização neo liberal!...

O que acontece hoje redunda do “como a Europa subdesenvolveu África”, um livro da autoria de Walter Rodney publicado em 1975 pela Seara Nova, que é sempre oportuno reler, até para comparar com o que acontece em nossos dias!

Os estudos geológicos que têm sido feitos sobre a deriva dos dois corpos em separação de Gondwana, em ambos os lados do Atlântico Sul, estudos de muito fresca data que acompanharam a descoberta do pré-sal em águas ultra profundas, complementam-se.

Está claro que em Angola, um país que emerge duma série ensanguentada de conflitos e guerras, a presença de canadianos, cientistas e técnicos que têm a geologia e o ambiente como base dos seus estudos, investigações e conhecimentos, tem sido avassalador no seguimento do Acordo de Luena de 4 de Abril de 2002: após o choque traumático prolongado, os instrumentos da globalização, sobre a égide dos “lobbies” da energia e da indústria mineira, tendo personalidades como Nelson Rockfeller ao leme do poder corporativo, dos think tanks e dos serviços de inteligência, exploram como ninguém os êxitos artificiosos e manipuláveis da “paz possível” através de várias vias e garantindo os emparceiramentos de conveniência…

É num país que por razões históricas tem um deficit crónico de quadros, em especial de cientistas e é perante a oportunidade criada que, como faca em manteiga quente, os interesses se movem: os resgates que se têm de realizar para fazer face a um subdesenvolvimento crónico com raízes nos tempos das caravelas, têm imensos obstáculos a vencer mesmo em época de ausência de tiros, por que o escancaramento de portas permite a rédea solta do domínio com a sua panóplia de meios técnicos e humanos!

Essa conjuntura tem sido extremamente favorável aos serviços de inteligência que estão acoplados às potências e às corporações internacionais globalizadoras, pelo que em Angola a inteligência UKUSA-ECHELON-NSA-CSEC têm um espaço quase inerte que não se cansa de explorar, tendo como esteira as explorações de petróleo, de gás, da indústria mineira que têm nos diamantes o maior dos aliciantes e, por tabela as investigações sobre o meio ambiente!...

… e exploram de tal maneira que até tornam os cientistas e técnicos-de-mão em verdadeiros activistas que catalizam atenções e vontades!...

Provocar a discussão e debatendo os temas é salutar, em especial quando as grandes orelhas garantem seu desempenho a partir de Ascensão!

2 – Os canadianos que se encontram em Angola a prestar serviço na indústria mineira (cobrem as áreas relacionadas com o petróleo, o gás, os diamantes e outros minerais), vêm ao abrigo dos mais variados interesses:

- Há aqueles que se ligaram a “libaneses”, seja aqueles que possuem passaporte do Líbano, seja aqueles realmente originários das monarquias arábicas que utilizam essa cobertura; uma parte deles estão no vale do Cuango;

- Há os que servem interesses de originários do Paquistão e da Índia;

- Há os que passam por sul-africanos e vendem seus préstimos a angolanos metidos nos negócios dos diamantes nos ricos vales do Cuanza e do Cuango; uma parte deles estão no planalto do Bié, região central das grandes nascentes;

- Há os que se resguardam na nacionalidade canadiana (o Canadá é um país que continua a receber grandes fluxos migratórios), quando não perderam os laços com países de origem (e isso acontece com aqueles que saíram de “áreas quentes” como o Médio Oriente);

- Há os que estão ao serviço como consultores de empresas multinacionais conhecidas; uma minoria está em áreas urbanas.

Em todos os casos os canadianos reportam por exemplo a interesses israelitas tradicionais na actuação no espaço SADC, desde o Congo à África do Sul, inclusive a israelitas que se identificam com os interesses dos falcões em toda essa vasta região, no seguimento duma linha que, se não é do Cabo ao Cairo, é do Cabo a Cartum… em direcção a Telaviv!…

Uma das “interfaces” israelitas é a Mitrelli, uma multinacional presente em Angola há pouco mais de vinte e cinco anos, que se dedica a agronegócios, gestão de recursos agro-pecuários, gestão de suportes logísticos, actividades comerciais, actividades de defesa e segurança, actividades mineiras…

A sua vinda para Angola resultou da aproximação que houve na época decisiva em que se procurou neutralizar os “diamantes de sangue”, que levaram alguns sectores de Israel a apoiar Angola.

Tem uma presença meritosa, mas não deixa de ter suas ligações…

A Mitrelli está também no Brasil e em África está ainda na Libéria e na Somália…

É lógico que alguns desses interesses existem com suporte de “lobbies” no quadro da energia e da indústria mineira, que têm fluxos em casas como as de Rockefeler e as de Rothshild, passando por carteis como o dos diamantes, da platina e do ouro (De Beers, Anglo American, etc….)!

Outros sectores ligam-se a interesses russos!

3 – Em “Colapso na estratégia do petróleo em Angola” citei o “expert” Tako Koning, um prestigiado geólogo, canadiano de origem holandesa, que prestou serviço à Texaco e à Chevron e agora está reformado (“por meia hora” conforme ironicamente faz constar); de facto ele mantém-se muito activo utilizando a cobertura de consultor, primeiro da Tullow Oil e depois da Gaffney, Cline and Associates!

Tako Koning é um típico activista, um entusiasta que se move à vontade como um homem de cultura profissional sólida, utilizando um espectro muito favorável e um perfil convincente:

- Publicou mais de 100 intervenções;

- Realiza conferências em Angola e em diversas partes do mundo, em especial em universidades, mas também em ambientes menos convencionais como o Clube “Viking”, como aqueles que tiram partido das múltiplas iniciativas do Angola Field Group, ou ainda em inspecções às áreas da Barra do Dande e aos Libongos, a norte de Luanda, onde foram feitas as primeiras prospecções de petróleo “onshore” em Angola e onde se podem aperceber os sinais geológicos das texturas que integram o pré-sal africano.

- Liga-se com outros investigadores de outras áreas como as do meio ambiente, fauna e flora angolanos, de forma a trocarem informação e, como é lógico, “passar a pente fino” um país que no post guerra está todo por explorar e conhecer.

- Beneficia dum ambiente pródigo – as descobertas frescas no pré-sal angolano, sequência das descoberta no Brasil, sendo em ambos os casos ele é um “expert”.

No intervalo Tako Koning vai distribuindo mosquiteiros, envolvendo-se na batalha contra a malária, um flagelo que continua a atingir vastas áreas em Angola.

4 – É à volta desse tipo de personalidades que a inteligência na especialidade e os interesses “no terreno” vão gravitando; com criatividade, capacidade financeira, recursos humanos capazes de enfrentar condições “rústicas” e experiência, há toda uma fórmula que capta, convence e garante proficuidade de métodos e processos.

Angola no post guerra é um terreno virgem, fértil e onde uma inquietante ausência de quadros nacionais facilita um vácuo que está a ser aproveitado de forma marcante e obedecendo a estratégias persuasivas e atractivas no seu “modus operandi”!

Há um ditado antigo que diz que “em terra de cegos, quem tem um olho é rei”!... imaginem quando aparecem com tantos olhos!...

O Angola Field Group é um dos palcos dilectos de Tako Koning, mas o mais suculento das informações científicas que “experts” como ele recolhem decerto que irão para áreas reservadas que não as de Angola.

Provavelmente eles, ao lerem estas linhas, vão torcer um pouco o nariz… todavia, inteligentes e experientes que são, que sejam capazes de provar o contrário…
Como ainda não o provaram e como há Edward Snowden!…

5 – Uma das atracções do Angola Field Group que deixa uma impressiva admiração, é o trabalho de investigação sobre a palanca negra gigante em Cangandala e na Reserva Natural e Integral do Luando, na margem direita do rio Cuanza.

O trabalho que está publicado é de excelência e reflecte uma investigação científica de mérito, que pressupõe um trabalho bem compendiado e catalogado, em curso.

Quer Cangandala, quer a Reserva Natural e Integral do Luando ficam numa das regiões mais geo estratégicas de Angola: próximo do centro geográfico, na região central das grandes nascentes e na posição de conexão dos ricos vales do Cuango e do Cuanza, precisamente em torno do que foi a Zona Estratégica de exploração de diamantes de sangue de Savimbi no Cuanza, situada entre a meridiano do Andulo e o meridiano da comuna do Cuanza (onde existe a ponte do CFB).

Essa Zona Estratégica abrangia o nordeste do Andulo, a Lúbia, a Nharêa, o Dando e o nordeste de Camacupa, na Província do Bié; a leste dela, do outro lado do rio, estava a zona de fuga, que foi utilizada por Savimbi após a Operação Restauro das FAA, entre finais de 1999 e princípios de 2000.

Nessa zona de fuga foi encontrado escondido nas matas um lança-rockets Ouragan.

Ao investigarem o meio ambiente, a fauna e a flora em Cangandala e na Reserva Natural e Integral do Luando, os cientistas, investigadores e técnicos estão numa das mais ricas regiões de diamantes aluviais de Angola, o que quer dizer que por tabela estão coincidentemente nas “minas de Salomão”!

Ora acontece que não é por acaso que é sobretudo no interior profundo de Angola que se espalham muitos dos canadianos presentes no país, que têm no Bié um dos principais fulcros de suas esmeradas atenções!

Muitos deles ali passam-se por sul africanos!

6 – O que foi provado pelo Wikileaks em relação a Tako Koning?

Será que tudo funcionou por mera amizade entre Tako Koning e Mark Schroeder de acordo com os interesses da Statford?

Se foi possível o intercâmbio entre um e o outro, quantos mais “intercâmbios” haverão?

Depois das revelações provenientes de Edward Snowden é mais que justo colocar muitas interrogações sobre o verdadeiro papel de Tako Koning e de muitos outros que fizeram a “descoberta de Angola”, a modos como nos bons velhos tempos de Diogo Cão!

É a vez dos angolanos também os ir descobrindo, quanto mais não seja para ficar registado!

Eis um exemplo da “correspondência”, publicada pela Wikileaks:

“From: Mark Schroeder [mark.schroeder@stratfor.com]

Sent: Wednesday, June 16, 2010 3:50 PM

To: Tako Koning

Subject: question from STRATFOR

Dear Tako:

Greetings again, I hope all is well in Luanda? I just wanted to ask a curious question, as to why Lobito/its environs was selected as the location for the proposed new refinery? The government can justify needing a big new refinery, but why Lobito and not closer to Luanda, where presumably most of the demand for the end product will come from?

Thank you for your thoughts.

My best,

--Mark

Mark Schroeder
STRATFOR
Director of Sub Saharan Africa Analysis
T: +1-512-744-4079
F: +1-512-744-4334
mark.schroeder@stratfor.com
www.stratfor.com

As respostas de Tako Koning serão para uso de quem?

Mapa: Perspectiva Leste – Oeste do corte do Atlântico Sul, evidenciando os depósitos de pré-sal – Geological similarities with Brazil’s pre-salt attract investments to Africa – http://www.offshore-mag.com/articles/print/volume-70/issue-7/latin-america/geological-similarities-with-brazils-pre-salt-attract-investments-to-africa.html

A consultar:
. West Africa and pre-salt –
http://www.oilreviewafrica.com/geology/geology-a-geophysics/west-africa-and-pre-salt
. Angola Field Trips are geology and more –
http://www.aapg.org/explorer/2012/02feb/make_difference0212.cfm
. Oil and geology in Cuanza Basin of Angola –
http://aapgbull.geoscienceworld.org/content/50/1/108.abstract
. The will to drill –
http://www.nytimes.com/2011/01/16/magazine/16Drilling-t.html?_r=2&hpw&
. Oil and geology in Cuanza Basin of Angola –
http://aapgbull.geoscienceworld.org/content/50/1/108.abstract
. New play, new rules –
http://www.mirandalawfirm.com/uploadedfiles/42/26/0002642.pdf
. Angola’s deepwater goldem Block 17 –
http://www.oilandgasonline.com/doc/angolas-deepwater-golden-block-17-0001
. Angola – Oil, Diamonds and Blood –
http://insomniacs2.wordpress.com/2012/07/05/angolaoildiamonds-and-blood/
. A diamond in the rough –
http://www.haaretz.com/weekend/week-s-end/a-diamond-in-the-rough-1.373420
. Angola Field Group –
http://angolafieldgroup.com/
. Cangandala –
http://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_da_Cangandala; http://angolafieldgroup.com/tag/cangandala-national-park/
. Giant sable –
http://angolafieldgroup.com/palanca-negra/
. Reserva Natural e Integral do Luando –
http://ecoharia.blogspot.com/2006/03/reserva-natural-do-luango.html
. Nova vida –
http://www.exameangola.com/pt/?det=33030
. Grupo Mitrelli participa na 1ª feira sobre energia e águas –
http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/ciencia-e-tecnologia/2013/8/39/Grupo-Mitrelli-participa-feira-sobre-energia-aguas,d2b63291-fb22-486d-a287-22950fbd17e7.html
. Operação Restauro – O marco da viragem para o caminho da paz –
http://www.consuladodeangola.org/index.php?option=com_content&task=view&id=124&Itemid=158
. O vale do Cuango –
http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html
. Ainda o cale do Cuango – I –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-ovale-do-cuango-i.html
. Ainda o cale do Cuango – II –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-ii.html
. Ainda o vale do Cuango – III –
http://paginaglobal.blogspot.pt/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-iii.html
. Ainda o vale do Cuango – IV –
http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-iv.html
. Colapso na estratégia do petróleo em Angola – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/09/colapso-na-estrategia-do-petroleo-em.html
. La espionagem es parte de la guerra total – http://www.jornada.unam.mx/2013/09/20/index.php?section=opinion&article=027a2pol
. Question from STRATFOR – Tako Koning – https://wikileaks.org/gifiles/docs/5043777_re-question-from-stratfor-.html

 

No comments:

Post a Comment