Thursday, May 9, 2013

O mínimo que os médicos cubanos merecem é o aplauso de todos os brasileiros




Gilberto de Souza, do Rio de Janeiro – Correio do Brasil, opinião

Para que não pareça uma defesa intransigente da decisão do governo de contratar os médicos cubanos, vale lembrar que, no Brasil, antes da gestão do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, no Ministério da Educação, e antes de Tarso Genro, hoje governador do RS, que também foi ministro, um punhado de dezenas de outros brasileiros desenharam o sistema educacional que hoje existe no Brasil, sem dúvida alguma excludente, destinado às elites, privado e mercantilista.

Todos os cursos, na maioria das universidades de ponta, como na Medicina,  têm a mesma ótica voltada para o mercado, para lucro acima de tudo. É isso que, infelizmente, norteia o pensamento dos jovens médicos. Eles saem da faculdade em busca do sonho dourado de comprar iPods, carros de luxo, viagens aos EUA, roupas de grife e o que mais lhes permitir o capitalismo desvairado que campeia no Brasil. O ponto de vista da maioria é esse, o que é uma tragédia para quem precisa de cuidados de saúde, tanto nas capitais, nas grandes cidades e no interior do país, principalmente. Trata-se de gente simples, sem plano de saúde, sem dinheiro no bolso, que muitas vezes sobrevive do que consegue arrancar do chão.

Para essas pessoas, que muitas vezes vêem um médico uma vez na vida, geralmente perto da morte, é impossível pagar por uma consulta, por um exame. No Brasil, onde o Estado mantém um dos mais avançados  programas do mundo, com o Sistema Único de Saúde (SUS), a falta de médicos é uma constante que aniquila qualquer iniciativa pública. O que o governo paga para os profissionais que contrata nem sempre é competitivo com a realidade salarial vigente, quando a renda do trabalhador cresce há uma década. Como impera o livre mercado, o pensamento mercantilista em vigor faz o médico que segue na carreira pública parecer um alienado, aos olhos dos colegas endinheirados que o cercam. 

Já os valores que norteiam os médicos cubanos são outros. Não vêm ao Brasil para fazer fortuna, até porque em Cuba, além dos puros, do ótimo rum e bailes animados ao som do Buena Vista Social Club, não há muito mais onde se gastar dólares acumulados, nem ninguém para acumular quinquilharias supérfluas. Evoluíram. Vêm em busca de Saber, de conhecimento, de experiência humana, de solidariedade. De Ciência. Essas são as moedas mais valiosas para os médicos cubanos, para os engenheiros cubanos, para os agrônomos cubanos, para os dentistas cubanos, para os cubanos.

O que o governo brasileiro está fazendo, ao contratar 6 mil médicos formados em Cuba, onde a faculdade já rendeu prêmios internacionais para o Ministério Revolucionário da Educação e o reconhecimento mundial quanto à qualidade do ensino na Ilha, é merecedor do aplausos de todos, e não desse festival de mesquinhez que avilta a imagem do Brasil perante o mundo. Até mesmo os médicos brasileiros, com sorte, poderão aprender algo valioso com os colegas do Caribe: o valor da vida humana, que não se mede em bens ou recompensas.

Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil

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