Sunday, May 5, 2013

Angola: A NOBRE MISSÃO DOS POLÍTICOS




José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião - 5 de Maio, 2013

Para mim, a mais nobre missão que alguém pode ter numa sociedade e no mundo é ser um bom político. Ser político é um grande compromisso pessoal, é o trabalho assumido de estar sempre na linha da frente da construção de um país melhor e de uma paz sólida entre Estados.

Abraçar o ofício de promover a liberdade e a democracia e ajudar a resolver os problemas sociais que vivem as comunidades é uma tarefa difícil. Exige estudo permanente, espírito arguto, diálogo a todo o momento e muito esforço. Levar um país a prosperar economicamente, elevar bem alto o nome de um país nas várias esferas do saber e da ciência, do empreendedorismo e da diplomacia, é algo que merece a minha admiração e o meu mais profundo respeito.

A actividade política é de todas as profissões a mais digna de exercer, porque dela depende muita coisa. A estabilidade de cada família e de cada ser humano precisa de muito para ter um mínimo de qualidade de vida. E prever e traçar estratégias para isso ser possível num quadro de harmonia é responsabilidade dos políticos.

Em Angola, se nos sentimos hoje felizes por termos paz e estabilidade, muito disso se deve aos políticos que souberam, ao longo de décadas, lutar contra a injustiça, opressão e a guerra. Muito se deve aos políticos que nutrem amor pelo povo e pelo bem-estar da comunidade, porque há outros que se dizem políticos mas a obra feita que se lhes conhece é apenas de destruição e desgraça.

A minha admiração é pelos políticos que adoptam a causa da defesa dos que nunca nada tiveram e precisam de ter o mínimo para viver. O meu respeito é pela total entrega ao engrandecimento de um país. Se todos os dias os políticos fizerem nascer novas obras e concretizam novos projectos de desenvolvimento, de investigação científica e de cooperação regional, isso merece o meu aplauso. Há homens e mulheres que decidiram exercer essa nobre missão que é a política e ainda bem. É justo reconhecermos a grandeza daqueles que dão tudo de si próprios, quase religiosamente, para fazerem o possível e o impossível, sem medo de se submeterem ao escrutínio popular, porque o fazem de forma abnegada.

Mas nas condições específicas de Angola perturba-me muito que políticos da oposição contribuam para criar na sociedade uma imagem negativa dessa profissão. Na digressão opaca que o líder da UNITA faz aos Estados Unidos e à Europa, Samakuva mostra que bebeu muito da aprendizagem política da Europa – mas da péssima política. Reproduzir, num discurso já gasto, exactamente aquilo que o eurocentrismo decadente quer ouvir dizer dos africanos é pouco inteligente. A menos que se queira o retrocesso relativamente aos ganhos da paz.

O que menos se espera de um novo estilo de políticos emergentes no nosso continente é ouvir em Londres que os Idi Amin e os Mobutu estão vivos e que os dirigentes africanos são intrinsecamente violentos, corruptos e maus gestores. Daí à aplicação de sanções é o tempo de um fósforo aceso. Os interlocutores de Samakuva devem ter ficado muito satisfeitos, mas era escusado gastar dinheiro para lhes dizer o que eles já têm na cabeça.

O pior é que o líder da UNITA, com esse comportamento, não só presta um mau serviço à política, como prejudica gravemente o interesse nacional, numa linha coerente com o caminho seguido por Savimbi até ser travado. As palavras usadas por Samakuva na sua viagem ao exterior do país, que chegam às Redacções pelo serviço de “press realease” da UNITA, são assustadoras e apenas podem ser proferidas por alguém que pretende ver os investidores afastados de Angola.

O que Isaías Samakuva não pode ignorar, quando está no estrangeiro, são as suas responsabilidades políticas em Angola. Não se pode apresentar como um qualquer activista de uma qualquer organização não-governamental paga com fundos privados. O líder da UNITA viaja com dinheiro dos contribuintes e dele se exige um elevado sentido patriótico e de Estado.

A nossa sorte é que a visita de Samakuva tem pouca repercussão, porque já ninguém o ouve. Mesmo que o ouvissem, os Estados Unidos e a Europa não têm hoje moral para dar lições de boa gestão e transparência. Estão na base de uma crise económica mundial que teve origem em monumentais escândalos de corrupção. Milhares de empresas norte-americanas e europeias abriram falência e milhões de trabalhadores foram atirados para o desemprego e o desespero. E muito menos de solução de conflitos: a maneira como se abate a repressão sobre os “Indignados” nos EUA e na Europa e como estão a ser castigados o Iraque, o Afeganistão, a Síria, a Coreia do Norte, apenas para referir estes, está longe de ser de alguém que privilegia o diálogo e a via pacífica.

Samakuva precisa de, rapidamente, mudar de rumo. Aproveitar o preconceito em relação à gestão política em África que está instalado no chamado Ocidente é muito perigoso. É que, se algum dia, por hipótese, o presidente da UNITA vier a chefiar o governo de Angola, pode estar certo que, no mesmo instante, é acusado de corrupto crónico e corre o risco de ir parar ao Tribunal Penal Internacional.

Falta a Samakuva, como líder do maior partido da oposição, o sentido de Estado e de trabalhar pelo bem comum que admiro nos grandes políticos.

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